
Se você gosta de K-Dramas sombrios, centrados em personagens complexos e repletos de tensão psicológica, Dear X (친애하는 X) é uma aposta intrigante no catálogo recente da TVING. Com uma protagonista que desafia a linha tênue entre o papel de vítima e algoz, a história mergulha em um universo de ambição, violência e manipulação emocional, enquanto mantém nossa atenção em constante estado de alerta. A produção entrega uma atmosfera densa, visualmente estilizada e carregada de camadas.
Lançado em 6 de novembro, Dear X é um thriller psicológico de 12 episódios, que se inspira no webcomic de Ban Ji-Woon. A série marca mais um grande passo na carreira de Kim You-Jung, que dá vida à Baek Ah-Jin, uma atriz em ascensão com uma história pessoal tão perturbadora quanto fascinante. Embarca comigo?
Ficha técnica de Dear X
Série: Dear X (친애하는 X)
Gênero: Thriller
Número de Episódios: 12
Estreia: 6 de novembro de 2025
Direção: Lee Eung-Bok (Goblin, Descendants of the Sun, Dream High), Park So-Hyun
Roteiro: Ban Ji-Woon (webcomic), Choi Ja-Won
Elenco principal: Kim You-Jung (Baek Ah-Jin), Kim Young-Dae (Yoon Jun-Seo), Kim Do-Hoon (Kim Jae-Oh), Hong Jong Hyun (Moon Do Hyeok) e a lista completa
Baek Ah-Jin (Kim You-Jung) construiu sua vida sobre as ruínas de uma infância marcada por violência doméstica. O ambiente hostil serviu de alicerce para que ela desenvolvesse a habilidade de observar, manipular e esconder suas emoções. Em uma trilha cheia de altos e baixos, ela se torna uma estrela em ascensão com uma aparência angelical que contrasta com a escuridão cuidadosamente guardada atrás de cada sorriso.
Seu amigo de infância e protetor de longa data, Yoon Jun-Seo (Kim Young-Dae), está disposto a fazer tudo por ela. O mesmo sentimento de devoção é compartilhado por Kim Jae-Oh (Kim Do-Hoon), que, assim como ela, também tem um passado marcado por abusos. Mesmo próximos, tanto os dois quanto cada um dos personagens que cruzam o seu caminho se tornam um “X”: pessoas que ela usa, descarta ou provoca para se manter no topo.
Review de Dear X
Dear X é o tipo de K-Drama que prende não apenas pela história, mas pelo caos emocional que provoca a partir de uma mistura de melodrama, tensão psicológica, romance distorcido e um suspense entre jogos mentais que se arrasta de forma viciante. Essa combinação conduz o espectador por uma espiral de segredos, máscaras e moralidades cinzentas. A história apresenta um universo em que ninguém é exatamente confiável e o impacto emocional vem tanto do enredo quanto da forma como os personagens se movem por ele.
Apesar da experiência instigante, é difícil ignorar algumas escolhas criativas. A protagonista, interpretada brilhantemente por Kim Yoo-Jung, é apresentada com traços de transtorno de personalidade antissocial. O problema é que ao invés de mergulhar em suas dores, traumas e experiências que dificultaram sua conexão e empatia com os outros, a série acaba apenas rotulando sua condição como um retrato superficial.
O que torna Dear X interessante
Atmosfera e ritmo envolventes
Dear X acerta em cheio ao construir um clima inquietante desde o primeiro episódio. Os tons escuros, a trilha sonora carregada e a fotografia quase claustrofóbica transformam a experiência em um thriller psicológico elegante. Em alguns momentos, lembra a atmosfera dark de séries coreanas como Hierarchy (하이라키) e Perfect Family (완벽한 가족).
A ambientação sombria de Dear X também funciona como uma metáfora constante para o universo moralmente distorcido da protagonista. Temas como violência, abuso e trauma são muitas vezes retratados de forma crua. É o tipo de intensidade que pode causar desconforto, inquietação e desgaste emocional — até chegar em um ponto onde a gente só quer que tudo termine de uma vez.
Dentro dessa construção, o conceito de “X” — cada alvo no caminho de Ah-Jin rumo ao topo — se torna ainda mais interessante. Funciona não só como um símbolo de ambição, mas como a lógica distorcida pela qual ela enxerga o mundo e as pessoas: como peças a serem eliminadas ou incorporadas de acordo com seus interesses. É um jogo psicológico brilhantemente representado desde os primeiros episódios, através das atuações das crianças: Ki So-Yu como Ah-Jin e Park Hoo como Yoon Jun-Seo.
Há momentos em que a profundidade é tão realista que nos faz pensar em como esses pequenos atores lidam com isso emocionalmente. Essa base da infância torna toda a manipulação adulta mais compreensível, mais trágica e mais impactante: Ah-Jin aprende cedo a moldar seu comportamento — em amor, fragilidade ou dependência — para conduzir cada “X” em armadilhas sem volta.
Uma protagonista pronta para o checkmate
O maior mérito do K-Drama está na atuação de Kim You-Jung. Sua interpretação de Baek Ah-Jin — fria, calculista e ao mesmo tempo profundamente ferida — é hipnotizante. A atriz incorpora a dualidade entre sua natureza cruel e a máscara que veste por cima dela de uma forma muito convincente. Ela alterna entre doçura aparente e frieza absoluta em frações de segundo, criando uma protagonista que domina cada cena.
Sua capacidade de transmitir ameaça através de um simples sorriso (muitas vezes arrepiante) impulsiona a narrativa como um tabuleiro de xadrez, sustentando a intensidade emocional e psicológica que o papel exige. You-Jung mostra uma vilã completa, mas profundamente humana. Essa complexidade desperta um mix de sentimentos: repulsa, fascínio e até empatia por aquilo que ela poderia ter sido em outras circunstâncias. Para mim, é uma das performances mais marcantes de sua carreira.
Em uma entrevista ao Korea Times, ela revela o quanto o papel foi desafiador e que o maior obstáculo foi esconder suas emoções. Ah-Jin raramente expõe o que sente, e a atriz precisou se livrar das expressões ao invés de acrescentá-las. Além da carga emocional, algumas cenas desgastaram física e mentalmente, como o confronto com o pai: dias de gravação e exaustão.
As outras peças do tabuleiro rumo ao topo
Mesmo como peças no tabuleiro de Ah-Jin, os coadjuvantes de Dear X carregam, cada um, uma história própria marcada por traumas profundos, quase sempre originados na infância e ligados diretamente aos pais. O K-Drama parece reforçar a ideia de que pessoas boas e más coexistem, mas muitas vezes as piores usam máscaras tão convincentes quanto a da protagonista. Nesse universo cruel, nem sempre quem é justo vence.
Jun-Seo e Jae-Oh, por exemplo, foram presenças constantes na vida de Ah-Jin, mesmo conscientes de que significavam muito pouco para ela. A trajetória de Jun-seo é especialmente dolorosa. É quase impossível não sentir empatia, sentimento que ganha força no episódio 6. Jae-oh, por sua vez, representa outro tipo de lealdade mal recompensada. Ambos fazem escolhas tão questionáveis quanto as de Ah-Jin. No entanto, ela nunca prometeu amor ou redenção, além de dizer que precisava deles. E eles aceitaram entrar no jogo.
A chegada de Heo In-Gang (Hwang In Youp) no episódio 5 cria um novo tipo de tensão. A relação que se constrói — e rapidamente se destrói — entre ele e Ah-Jin é uma das mais impactantes da série. In-gang é mais inteligente e menos manipulável do que os outros, o que torna sua queda ainda mais cruel.
⚠️ >> Alerta de spoiler!
Desde que o In Youp apareceu e se envolveu com a Ah-Jin, meu medo era ver ele sofrendo. O episódio 8, em particular, transforma meu temor sobre seu destino na mais brutal das confirmações. 😦
Moon Do-Hyeok (Hong Jong-hyun) também merece destaque: aliado e inimigo ao mesmo tempo, ele embarca em um jogo psicológico com Ah-jin. Seu personagem é também a peça mais enigmática — e talvez a menos aproveitada — da trama.
Pontos que poderiam ter sido melhores
Apesar da ambientação e das atuações, Dear X escorrega no ponto mais sensível: sua reta final. Algumas decisões narrativas parecem apressadas, desconexas ou simplesmente incoerentes com a jornada construída.
⚠️ >> Alerta de spoiler!
A morte de Jae-Oh faz sentido pelo contexto, mas o desfecho de Joon-seo é mais difícil de justificar. Para alguém que dizia “amar” Ah-Jin, ele nunca tentou entendê-la e sempre ficou com um pé atrás (como na morte da avó do In-Gang). É como se ele quisesse apenas projetar sua própria necessidade de controle. Mas isso não significa que ele estava errado, nem certo. Seu gesto final na tentativa de parar Ah-Jin parece uma trágica versão de Romeu e Julieta — embora no K-Drama não fique claro até onde vai o relacionamento entre eles.
Além disso, manter Ah-jin viva enquanto todos ao redor morrem gera impacto, mas enfraquece a mensagem. Se a intenção era mostrar o ciclo de manipulação se repetindo, as peças não se encaixam. O checkmate ideal poderia ter encerrado com morte, tratamento ou colapso psicológico dela — qualquer desfecho que demonstrasse ruptura. Será que a ideia é trazer uma segunda temporada?
Pelo tom acelerado e algumas escolhas narrativas — como o destino de Jun-Seo ou a maneira como certos arcos são encerrados — o final parece abrupto ou distante da densidade que a série vinha construindo.
Há ainda tramas que parecem existir só para estender episódios, como o relacionamento com Do-Hyeok ou o retorno da colega de classe que foi o primeiro “X” de Ah-Jin. As camadas do roteiro se acumulam, mas sem costura entre elas. É como se várias histórias diferentes tivessem sido empilhadas sem integração.
Impressões finais de Dear X

Dear X é um vórtice de contradições. Uma história envolvente, uma protagonista magnética e um ritmo envolvente, mas com um final enviesado que suaviza demais as responsabilidades e perde a chance de construir algo realmente impactante. Ao mesmo tempo em que entretém e surpreende, frustra — deixando claro que vilões, traumas e escolhas morais merecem algo mais profundo do que um olhar apressado.
Vale a pena assistir? Sim, se você gosta de thriller psicológico com personagens intensos que contribuem para reforçar a intensidade, a atmosfera densa e o clima de manipulação. Com atuações marcantes e aquela sensação viciante de “só mais um episódio”, Dear X é retrato imersivo da mente humana e das distorções que a sociedade pode produzir: seja em vítimas ou em algozes. Quem busca algo mais sombrio, com uma protagonista que foge do convencional, encontrará aqui uma experiência marcante e, acima de tudo, diferente.
No mesmo gênero, Hunter With a Scalpel também aposta em um jogo psicológico, mas entre pai e filha. ˆ-ˆv