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[Review] Rozen Maiden: primeiro ato, segundo ato e um remake

Imagem das bonecas do anime Rozen Maiden: Hina-Ichigo, Shinku, Suiseiseki, Souseiseki e Suigintou

No universo de Rozen Maiden 「ローゼンメイデン」, as bonecas ganham vida. E quando elas despertam, um novo Alice Game começa. O que parece um jogo inofensivo logo se transforma em uma sequência de duelos, onde a vencedora se torna “Alice”: a boneca perfeita, digna de encontrar o Criador. 

Mesmo depois de tanto tempo desde a estreia em 2004, o anime se tornou um clássico. Até quem não viu, ao menos já ouviu falar dele. Eu comecei a acompanhar muitos anos atrás, em uma época que eu queria fazer o cosplay da Suigintou. Por circunstâncias da vida, não terminei, mas finalmente consegui retomar e finalizar. Embarca comigo?

Ficha técnica de Rozen Maiden

Anime: Rozen Maiden 「ローゼンメイデン」

Gênero: Ação, Drama e Sobrenatural

Números de episódios:

Rozen MaidenRozen Maiden:
Träumend
Rozen Maiden: OuvertüreRozen Maiden: Zurückspulen
1ª temporada2ª temporadaespecialremake
1212213
8 de outubro a 24 de dezembro de 200421 de outubro de 2005 a 27 de janeiro de 200623 de dezembro de 20065 de julho de  a 27 de setembro de 2013

Estúdio: Nomad (Koi to Yobu ni wa Kimochi Warui, Game Center Shoujo to Ibunka Kouryuu)

Adaptação: mangá de PEACH-PIT


Traumatizado por experiências escolares, Jun vive isolado em seu quarto, comprando itens pela internet apenas para devolvê-los antes do prazo de testes. Ao responder a um enigma misterioso “「ぜんまいをまく」 | 「ぜんまいをまかない」”, ele acaba trazendo Shinku à vida. Daí em diante, seu cotidiano pacato se transforma em uma rotina caótica, marcada pelo convívio com bonecas falantes, cada uma com personalidade própria, e pelo avanço inevitável do Alice Game.

Review de Rozen Maiden

Imagem das bonecas do anime Rozen Maiden com Suiseiseki e Souseiseki

A primeira temporada é como o primeiro ato de uma peça de teatro. Assim que as cortinas se abrem, o palco é iluminado para apresentar o universo de Rozen Maiden. Esse prelúdio equilibra episódios de humor no dia a dia de Jun, Shinku e companhia com pequenas doses de ação, revelações sobre o passado das bonecas e suas motivações. 

O Alice Game é mencionado repetidas vezes, mas raramente explicado em profundidade. Até mesmo pistas sobre o misterioso Criador ficam no escuro. O que mais se vê é o convívio delas em um clima de paz, apesar do caos que criam na vida do Jun. Em um ritmo mais leve, episódico e cheio de fillers, a história principal demora a ganhar clareza.

Rozen Maiden: Träumend 「ローゼンメイデン トロイメント」 corrige parte desse problema e abre passagem para o aguardado climax. Com o Alice Game finalmente em andamento, a trama adquire mais urgência e foco dramático. O número de episódios “filler” é menor e, mesmo os que não contribuem para avanços na competição, servem para expandir o universo de Rozen Maiden e os dilemas das personagens. 

A segunda temporada trabalha melhor o suspense e introduz novos elementos, como o despertar da sétima boneca: Barasuishou (que reflete parcialmente o mangá). 

O ato final vem com Rozen Maiden: Zurückspulen 「ローゼンメイデン (2013)」. Não é uma continuação direta, mas uma adaptação alternativa, mais introspectiva, madura e mais fiel ao mangá. A história parte de um ponto em que Jun, já adulto, vive em frustrações sem encontrar seu lugar em um mundo onde ele não deu corda nas bonecas. O enredo alterna duas linhas temporais: o “Jun jovem”, ainda no mundo do Alice Game, e o “Jun adulto”, que recebe uma nova chance de se envolver com as Rozen Maidens. 

Extra dos bastidores: Ouvertüre

Rozen Maiden: Ouvertüre 「ローゼンメイデン・オーベルテュー」 é um especial de apenas dois episódios que mergulham no passado de Suigintou e Shinku. É o que eu mais queria ver, porque Suigintou é minha personagem favorita. Quando eu conseguir encontrar, volto aqui para compartilhar o que achei. ˆˆ

Os personagens da peça principal

Na primeira temporada, Jun e Shinku roubam as cenas. Só que Jun tem uma personalidade bem difícil de lidar. É um protagonista sem carisma e com potencial de irritar em cada cena que aparece. Ao interagir com as bonecas, ele mostra sinais sutis de amadurecimento. Já Shinku, com seu jeito exigente, encarna a clássica figura tsundere, enquanto oscila entre demandar ordens e cuidar de todos ao seu redor. 

O desenvolvimento das outras bonecas é superficial e com mais foco em estereótipos se comparado a Shinku. Suigintou é a antagonista com uma aura trágica e motivações compreensíveis. Suiseiseki e Souseiseki funcionam como contrapontos entre comédia e seriedade. Hina-Ichigo é o bebê do grupo (fofa, mas às vezes cansativa) e Kanaria é a boneca que se considera a mais inteligente, mas acaba sendo a mais atrapalhada.

Em Träumend, Jun assume um papel de suporte, enquanto as bonecas tomam o centro do palco. Isso permite um aprofundamento maior das personalidades e conflitos internos das Rozen Maidens. Shinku enfrenta dilemas morais, Suigintou ganha mais espaço e as gêmeas Suiseiseki e Souseiseki exploram visões opostas sobre o Alice Game.

Em Zurückspulen, há duas grandes diferenças: a presença de Jun adulto e Kirakishou. Ele carrega frustrações e arrependimentos, impacto de escolhas passadas. Sua versão madura contrasta com a inocência e indecisão do Jun jovem. 

As bonecas surgem menos caricaturais, com maior foco no lado trágico e simbólico da busca por Alice. Aqui, Kirakishou aparece no lugar de Barasuishou, a verdadeira 7ª boneca na história do mangá. A obra também se aprofunda em dilemas existenciais: o que significa ser perfeito? Vale a pena lutar entre elas por isso?

O que está no centro do palco

Do ponto de vista temático, Rozen Maiden traz para os holofotes questões que ultrapassam a fantasia. A solidão de Jun dialoga com problemas de quem vive em reclusão social (hikikomori), enquanto as bonecas, cada uma com suas imperfeições, refletem diferentes aspectos do desejo de ser aceito ou de alcançar um ideal inalcançável. O Alice Game, vai além de uma competição, funciona como metáfora para a busca incessante por validação e amor.

As duas temporadas exploram o centro do palco sob perspectivas diferentes. Enquanto a primeira mantém um tom mais leve, quase de slice of life, a segunda se deixa levar pelo contraste do lado sombrio do Alice Game. A chegada de Barasuishou e as tensões crescentes entre as bonecas trazem um peso dramático maior.

Em contrapartida, Zurückspulen abraça uma abordagem mais melancólica e reflexiva. A dualidade entre presente e passado reforça temas como arrependimento, destino e amadurecimento. O Alice Game é tratado com mais seriedade, quase como uma metáfora para escolhas de vida e a passagem do tempo.

Luz, câmera, ação: backstage

Visualmente, Rozen Maiden reflete bem o estilo do início dos anos 2000. A paleta de cores é mais sóbria, com cenários relativamente apagados. No entanto, as bonecas recebem um tratamento cuidadoso: trajes detalhados e design que reforçam sua natureza híbrida entre brinquedos e seres vivos. As expressões e movimentos destacam o contraste entre a fragilidade aparente de bonecas de porcelana e a força que demonstram em combate. 

Já as sequências de luta, embora funcionais, não chegam a ser o ponto alto do anime, ficam em segundo plano. A qualidade da animação se mantém estável de uma temporada para outra, sem grandes saltos, mas Träumend utiliza enquadramentos mais elaborados em cenas de ação e sonhos para reforçar o tom gótico.

Para Zurückspulen, os traços passam por uma atualização e ganham cores mais vivas. A estética se aproxima do design original do mangá. A animação é mais fluida, especialmente nas lutas. Já a direção segue uma linha contemplativa, com enquadramentos que reforçam a dualidade passado/presente e o clima melancólico. 

Impressões finais de Rozen Maiden

Imagem das bonecas do anime Rozen Maiden com Suigintou e Shinku frente a frente

A primeira temporada é a porta de entrada ao universo de Rozen Maiden. Mistura humor e mistério, mas sofre com ritmo irregular e falta de aprofundamento no Alice Game, além de deixar diversas questões em aberto. Träumend representa uma evolução narrativa, mais dramática e centrada nas bonecas. O episódio 6 é um dos meus favoritos por dar mais espaço no palco para a Suigintou. Porém, também deixa pontas soltas.

Do crescimento ao peso de viver com as consequências das suas escolhas, Zurückspulen vira a chave na abordagem e no tom. Mesmo sendo uma versão alternativa, recomendo ver as outras duas temporadas antes. O primeiro episódio até faz um recap, mas é muito rápido, fragmentado em recortes de várias cenas que só fazem sentido para quem conhece o universo de Rozen Maiden. E, bem, seu final também tem suas próprias controvérsias.

Ver ou não ver, eis a questão

Rozen Maiden não é uma obra impecável. A narrativa perde força ao deixar mistérios em aberto e dedicar tempo excessivo a episódios de tom mais leve, o que passa a sensação de falta de avanço na história. Quando o tom muda e o Alice Game ganha aprofundamento, o ciclo se repete ao invés de encaminhar uma resolução. 

Para quem aprecia histórias com um toque gótico e um enredo que alterna entre comédia e melancolia, Rozen Maiden pode ser uma experiência curiosa, mesmo com suas limitações. Eu resgatei o anime para terminar o que comecei anos atrás, além da curiosidade e do rótulo de ‘clássico’. 

Se você quer dar uma chance e não sabe por onde começar, minha recomendação é seguir a ordem de lançamento. Comece com Rozen Maiden, para ter a base, e a segunda temporada de Träumend, para acompanhar a evolução da história. Se tiver acesso e vontade de saber mais sobre a rivalidade entre Suigintou e Shinku, inclua Ouvertüre como a próxima parada. Finalize o roteiro com Zurückspulen, mas esse é opcional. 

Entre as obras mais recentes com um pezinho em mistérios, Kusuriya no Hitorigoto é um dos maiores destaques. ˆ-ˆv

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