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[Review] Good Night World: segredos em um mundo virtual

Cena do anime Good Night World com Taichirou, aka Ichi, e seu óculos de realidade virtual, imerso no jogo Planet

No jogo online Planet, quatro jogadores formam uma equipe poderosa conhecida como “Família Akabane”. Sempre unidos, eles vivem aventuras memoráveis dentro do mundo virtual. No entanto, o que eles não sabem é que também compartilham esses mesmos laços familiares fora do jogo — por coincidência ou mais uma peça do destino. Só que o afeto dá lugar ao  isolamento, ressentimento e frustração: o oposto da harmonia digital que compartilham.

Esse é apenas o ponto de partida de Good Night World 「グッド・ナイト・ワールド」, um anime que esconde bem mais do que aparenta. O que começa com players aproveitando os benefícios de um MMORPG, logo mergulha em questões profundas sobre família, escapismo, trauma e inteligência artificial. Embarca comigo?

Ficha técnica de Good Night World

Anime: Good Night World

Gênero: Drama e Fantasia

Número de Episódios: 12 

Estreia: 12 de outubro de 2023

Estúdio: NAZ

Adaptação: mangá de Okabe Uru


Em um mundo onde a realidade dói, a fuga para o virtual oferece alívio, mesmo que temporário. É dentro do universo de Planet que quatro jogadores criam vínculos, superam desafios e sentem algo parecido com amor familiar. O que eles ignoram é que, fora do jogo, esses laços são reais, mas quebrados, negligenciados e dolorosos. À medida que o mundo virtual se entrelaça com a realidade, surge um dilema: até que ponto vale a pena fugir da dor e o que acontece quando até mesmo a inteligência artificial começa a questionar o que é real?

Review de Good Night World

Good Night World é o tipo de anime que engana à primeira vista. No início, lembra obras típicas de VR e MMORPGs, como Sword Art Online, mas rapidamente se afasta dessa fórmula. O foco não está nas batalhas ou nas mecânicas do jogo, mas nas pessoas por trás dos avatares e na forma como elas se relacionam no mundo real. 

Cada membro da família Akabane carrega suas cicatrizes fora do jogo. Arima Taichirou, aka Ichi, é um hikikomori amargurado e cheio de ressentimento com a vida. O pai Kojirou, além de rígido ao extremo, perdeu o respeito dos filhos depois de uma tragédia que marcou a família. A mãe Miyabi é ausente e faz jus a isso até mesmo em suas raras aparições no anime. O irmão Asuma vive sob pressão para manter as aparências.

Apesar do ambiente hostil na vida real, os quatro vivem em harmonia no mundo virtual. Mas vivem alheios à identidade de cada um fora do universo de Planet. 

Quando o jogo vira

Dilemas familiares à parte, o anime começa a surpreender por volta do episódio 6: quando as fronteiras entre o jogo e o mundo real se dissolvem de forma assustadora. A presença do “Pássaro Negro” traz revelações inesperadas sobre o que acontece por baixo dos panos e o verdadeiro objetivo de Planet.

Uma verdadeira revolução toma conta, enquanto a ameaça de uma IA descontrolada transforma Good Night World em uma distopia imprevisível, repleta de tensão psicológica e cenas de violência gráfica. 

Visualmente, o anime acompanha esse mergulho no caos: a paleta de cores muda, os cenários ficam mais sombrios, e os personagens enfrentam dilemas profundos sobre identidade, culpa e perdão. A animação cumpre bem seu papel nas transições entre os mundos virtual e real. Enquanto o primeiro é brilhante e cheio de vida, o segundo é escuro e monótono. 

A trilha sonora é um dos pontos fortes da obra, especialmente a abertura, que transmite o clima crescente de tensão. O rock metal marcante já dá pistas de que a história pode seguir para direções mais pesadas. E de fato, Good Night World começa de forma relativamente leve, mas rapidamente abraça o tom sombrio e violento. O resultado é uma experiência intensa, surpreendente e, em alguns momentos, desconcertante. 

Impressões finais de Good Night World

Pôster do anime Good Night World com a família Akabane digitalizada, saindo de dentro da cabeça do Ichi

Entre as idas e vindas do mundo real com o virtual, Good Night World retrata bem as vantagens e desvantagens de quem busca uma válvula de escape nos jogos. O anime não faz críticas, mas mostra os dois lados da moeda com seriedade, deixando para nós a reflexão sobre o que é saudável ou não. E também questiona, de certa forma, o poder da IA e as consequências das dependências que ela pode causar. 

Não é um anime fácil de acompanhar e muito menos leve. A violência, o clima sombrio e o ritmo acelerado dos episódios finais podem afastar. Ao mesmo tempo, quem persistir será recompensado com uma história que trata de temas atuais, como os limites do escapismo digital, o impacto das IAs e, acima de tudo, as dores e curas que vêm dos laços familiares.

Com um final surpreendente, Good Night World consegue entregar um desfecho que, mesmo não respondendo a todas as perguntas, oferece um senso de encerramento satisfatório. Existe uma espécie de “justiça poética” no destino dos personagens. E o epílogo mostra que, mesmo quebrados, há espaço para reconstrução.

Good Night World entrega uma experiência inesperada e, em alguns momentos, brilhante. Vale a pena conferir se você é gamer e gosta de animes com essa temática (eu!). Mas prepare-se para o tom dark e a violência gráfica que só aumentam no decorrer da história. Ah! E não se apegue tanto aos personagens.

Se o universo de jogos chama sua atenção, recomendo também Darwin’s Game.

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