Review: Kamisama Hajimemashita é um shoujo leve para aquecer o seu coração

Depois de ver alguns animes e k-dramas, resolvi fazer um review de Kamisama Hajimemashita (também conhecido como Kamisama Kiss). Embora não seja uma animação tão recente — mesma época do primeiro Sword Art Online — somente agora eu consegui dar um check nele na minha extensa lista de séries para assistir. 

Se você busca uma história levinha e fofinha, com pitadas de romance (sem instigar a rivalidade ou triângulos amorosos, só pra variar), elementos sobrenaturais, viagem no tempo (não como destaque, mas como complemento para conectar os personagens) e um toque de nostalgia (vale para quem é fã de InuYasha), então fica a recomendação. Vem comigo para saber mais!

Ficha técnica

Gênero: Comédia, Romance, Sobrenatural, Shoujo

Estúdio: TMS Entertainment

Número de Episódios: 25 + 3 OVAs

Estreia: 2012

Resumo

Após perder sua casa por conta de dívidas do pai, a estudante Momozono Nanami está sozinha em um parque, sem rumo e sem esperança. Sua vida muda completamente ao conhecer Mikage, que oferece a ela um lar para recomeçar. A nova casa, na verdade, é um templo, sob os cuidados de dois simpáticos seres espirituais e um youkai raposa, Tomoe, que servia Mikage até então. Ao aceitar a oferta, Nanami se torna uma divindade (da Terra), mas conquistar a simpatia de Tomoe não será uma tarefa fácil. 

Review Kamisama Hajimemashita

Não vou dizer que o anime não tem clichês (é inevitável, né), mas Kamisama Hajimemashita, definitivamente, trouxe um frescor para o gênero shoujo. Diferente da maioria das histórias com romance, não há rivalidades, nem triângulos amorosos ou personagens tentando atrapalhar a felicidade do casal. Além disso, contrariando as expectativas, o primeiro beijo entre os protagonistas Nanami e Tomoe acontece logo no primeiro episódio. 

Isso não significa, porém, que os dois se apaixonam à primeira vista. Até porque o beijo, no contexto de Kamisama Kiss, é a forma de selar o contrato entre uma divindade e o seu servo. O clichê (um deles) fica por conta do leve harém que se forma em torno da Nanami no decorrer da trama, com Kurama, Mizuki, Jiro e até o Akura-ou. 

Como tudo começou…

Por ora, vamos deixar o tema para logo mais e explorar a história que eu apresentei no resumo com detalhes e o mínimo de spoilers. Kamisama Hajimemashita começa com Momozono Nanami no banco de um parque, malas nos pés e lágrimas nos olhos. Afinal, seu pai perdeu a casa onde viviam e fugiu para não ter que acertar as contas por suas apostas. Sua mãe morreu quando ela ainda era pequena. Nanami está sozinha em um parque até que um homem misterioso aparece e sobe em uma árvore perto de onde ela está para fugir de um cachorro. 

Para ajudá-lo, Nanami espanta o cachorrinho. Os dois, então, conversam. A estudante explica o que aconteceu, enquanto o homem misterioso, Mikage, diz que saiu de casa há 20 anos e oferece a ela o seu lar em forma de agradecimento. Antes de ir embora, Mikage beija a testa de Nanami. O que ela não sabe é que o beijo a transformou na mais nova divindade da Terra. E que o seu novo lar é, na verdade, um antigo templo, onde vive o youkai raposa Tomoe e os pequenos espíritos que cuidam do lugar.

Ao chegar em sua nova casa, os espíritos reconhecem a marca da divindade em sua testa na hora. Mas Tomoe não gosta da nova deusa e decide ir embora. Nanami vai atrás dele no mundo espiritual e as circunstâncias levam ao primeiro beijo entre os dois, selando o contrato da divindade da Terra com o seu mensageiro. Querendo ou não, a partir de agora Tomoe precisa obedecer todas as ordens de Nanami. Qualquer semelhança com InuYasha e Kagome é mera coincidência. 😉

Um rumo inesperado

Pelo andar inesperado dos acontecimentos, o foco do anime mostra a nossa heroína se adaptando à vida como divindade, enquanto tenta conquistar a confiança de Tomoe e cumprir com as suas novas obrigações no templo. Além dos colegas de escola, Nanami conhece deuses e seres espirituais. Personagens carismáticas em histórias paralelas ganham a cena também, com Kurama, Mizuki, Otohiko, Ryou Sukuna e Kamehime, Sakurako, Himemiko e Kotaro, entre outros.

No meio de tudo isso, Nanami começa a se apaixonar pelo Tomoe. Sem enrolações, não demora até ela confessar os sentimentos que tem por ele só para ser rejeitada em seguida. Afinal, pode o amor florescer entre um humano e um youkai? Ou um relacionamento assim é visto como taboo? Enquanto os humanos têm um tempo de vida limitado, os youkais são quase “imortais”, o que faz com que cada um enxergue as experiências sob uma perspectiva diferente. Somente o desenrolar da história dirá…

Animação e roteiro

O anime Kamisama Hajimemashita tem duas temporadas, com 12 episódios cada, e mais três OVAs. Após ver a primeira, assista o OVA “The God Gets Dumped” e “The God Goes to a Hot Spring”. É mais um filler, mas vale a pena. Os dois estão em um único episódio. Quando terminar, comece a segunda temporada até chegar aos últimos OVAS: Kako-hen e Kamisama, Shiawase ni Naru. Kako-hen foca no passado de Tomoe, enquanto Nanami busca uma cura para a maldição que ele mesmo atraiu com o desejo de se tornar humano. Já Shiawase ni Naru traz o aguardado casamento.

Os traços de Kamisama Hajimemashita apresentam uma bonita animação. Nada muito rebuscado, mas bem desenhado, principalmente para a época em que o anime foi lançado (2012). A paleta de cores é suave e carrega um ar sereno, quase tão leve quanto o romance que começa a desabrochar aos poucos. O que mais me chamou a atenção foram os closes nas expressões da Nanami, seguindo uma linha visual bem similar ao anime Sangatsu no Lion, principalmente nas cenas das personagens Hinata e Akari. Além dele, também me lembra Chihayafuru.

Em relação ao roteiro, temos uma história bem realista, apesar dos elementos sobrenaturais. Quando a Nanami se torna a divindade da Terra, ela se atrapalha e não entende as suas novas responsabilidades. Com o passar do tempo, a protagonista começa a se descobrir e a amadurecer.

Dança

Uma das cenas mais bonitas do anime, para mim, é a dança, que recebe o nome de Kagura (神楽). É característica do xintoísmo e normalmente é apresentada em festas e cerimônias. Em um festival no templo Mikage, Nanami usa um kimono todo colorido para enfatizar os movimentos da dança. No final do episódio, ela também consegue purificar o miasma que tomava conta do templo por conta de uma brincadeira/teste do Otohiko (também chamado de ojisan-obasan-ojisan, que significa tio-tia-tio em uma tradução literal do japonês).

Purificação

Aliás, por falar nisso, outra cena da animação que merece destaque é a purificação com o macaquinho/shinigami Mamoru. Além de bonito, o momento representa o desenvolvimento da Nanami como divindade da Terra. Isso me deu esperanças de que ela poderia começar a tomar conta de si mesma, sem depender tanto do Tomoe para ajudá-la. Houve uma tentativa, mas não foi bem esse o rumo que a história seguiu no fim das contas. Nanami não é super dependente, mas também não podemos dizer que ela sabe se virar de forma tão independente.

Amor sem rivalidades

O ponto alto de Kamisama Hajimemashita é seguir contra a maré de outros animes do gênero shoujo, que geralmente apostam em um triângulo amoroso. Geralmente, quando as coisas começam a dar certo para os protagonistas, um rival surge para atrapalhar os planos do casal. Pelo menos no anime, não há qualquer sinal de rivalidade, apenas um pequeno harém com interesse na Nanami, mas sem profundidade. Porém, no mangá, a protagonista tem um gostinho disso com Hiiragi Kayako.

Viagem no tempo

Além de trazer à tona a mortalidade dos humanos e a imortalidade de deuses e youkais, outro tema recorrente é a viagem no tempo. Aliás, em um determinado ponto do anime, isso traz grandes mudanças para o rumo da história. O que eu posso dizer, sem spoiler, é que o relacionamento de Tomoe e Yukiji não é como você pensava. E, de um jeito ou de outro, o passado da Nanami está conectado com os acontecimentos do presente/futuro. Parece um pouco confuso, mas ao assistir, fica mais fácil de entender.

Casamento

Para fechar este tópico, quero falar do casamento. Não considero isso um spoiler tão grande, afinal, Kamisama Hajimemashita é um shoujo. Então, casar ou viver feliz para sempre são caminhos naturais, certo? Bem, depois de uma revelação — desvendada a partir de viagens no tempo que Nanami faz para salvar Tomoe de uma maldição — o casamento fecha a história de Nanami e Tomoe. A celebração não acontece no anime, mas no segundo OVA: Kamisama Hajimemashita Kako-Hen.  

Trilha sonora 

Tão leve quanto o anime, a trilha sonora é um destaque à parte. A abertura da primeira temporada, “Kamisama Hajimemashita“, tem a voz suave (quase um sussurro no ouvido) da Hanae, assim como a melodia, que transmite uma sensação de felicidade. O encerramento, “Kamisama Onegai“, também fica por conta da cantora. Dessa vez, a vibe soa um pouco mais nostálgica e em tom de despedida, criando um contraste com a abertura.

Na segunda temporada, Hanae volta com “Kamisama no Kamisama“, mantendo a mesma suavidade no arranjo musical, mas com um toque mais divertido. E também com o encerramento, “Ototoioide“, para fechar o anime de um jeito bem fofinho. A melodia lembra o som de uma caixinha de música. 

Eu gosto bastante da primeira abertura e do segundo encerramento. Além disso, um dos detalhes que mais chamou a minha atenção foi a transição no final de cada episódio. Enquanto o episódio começa a dar indícios de que está terminando, o encerramento entra como som de fundo para acompanhar

Personagens carismáticos

Quando escolhi dar um check em Kamisama Hajimemashita na minha lista de animes, os personagens tiveram um peso importante na decisão. Principalmente, Tomoe. Cabelos brancos/prateados e orelhas de raposa, eis uma combinação que eu não consigo resistir. InuYasha e o Kurama de Yu Yu Hakusho estão aí para provar. Tomoe, Nanami, Mizuki, Kurama, Mikage, Himemiko, Akura-ou e companhia esbanjam carisma, cada um do seu jeitinho único de ser e agir.

Youkais

Tomoe costumava ser uma raposa selvagem no passado, aprontando todas com Akura-ou, até se apaixonar por uma humana, ser amaldiçoado e ir parar no templo Mikage. Além de Tomoe, Mizuki também é um youkai (cobra), enquanto Kurama é um tengu (corvo) e Himemiko é uma princesa (peixe) apaixonada por um humano. 

Tomoe tem aquela típica personalidade de se preocupar com os outros, mas é teimoso demais para admitir. Mizuki é uma doçura, um mix de inocência e ingenuidade, com um fraco para o álcool. É um dos personagens que traz o toque cômico a Kamisama Kiss. Kurama é o narcisista em pessoa, popular entre as meninas pelo status de idol que adotou entre os humanos. Mas ele tem um lado bondoso também e solitário. 

Assim como Mizuki, Himemiko também é um doce e valoriza a felicidade até mesmo nas pequenas coisas. Ela se torna uma grande amiga de Nanami após se acertar com Kotaro e tem um jeito muito direto de se expressar. 

Em contraste, Akura-ou é um personagem sombrio (à primeira vista), que tocava o terror com Tomoe no passado. Com seu corpo selado, seu espírito voltou a tomar forma na pele do humano Kirihito. O problema é que pouco sabemos sobre ele, já que sua aparição no anime é bem reduzida, deixando de lado um enorme potencial a ser explorado. Quem sabe ele não ganha um spin-off só dele em algum momento, né? Seria interessante!

Divindades

Do lado das divindades, temos Nanami e Mikage. Nanami é a típica heroína de romcoms, com uma personalidade cheia de otimismo, determinada a lutar pelo que acredita (e por todos ao seu redor) e sempre chamando pelo nome de Tomoe. Se ela fosse um pouco mais independente e a história focasse em sua evolução como divindade (ainda mais depois da aparição do Mamoru), Nanami seria incrível. 

Mikage, por sua vez, é um personagem misterioso. Alguns de seus mistérios ficam sem respostas. Por que ele abandonou o templo? Seu encontro com Nanami foi obra do acaso? Quais eram as suas intenções no final? O maior destaque, para mim, foi a dublagem de Akira Ishida — voz de outros personagens como Izana (Akagami no Shirayukihime), Gabriel Miller (SAO Alicization), Yunan (Magi), Ryūnosuke Uryū (Fate/Zero), Xerxes Break (Pandora Hearts).

Inspiração em InuYasha 

Antes de ver Kamisama Hajimemashita, li muitos comentários sobre as semelhanças com InuYasha. Começa com o visual do Tomoe (cabelos brancos/prateados e orelhas) que lembra o de InuYasha e se estende a Nanami e Kagome, como estudantes que viajam no tempo. Só que enquanto InuYasha vai e vem entre Tokyo atual e o Japão feudal, Kamisama Kiss se passa no presente na maior parte, trazendo o passado à tona para conectar os laços entre os personagens e nos surpreender com as revelações. 

Tomoe vs InuYasha 

• Visual: enquanto Tomoe é um youkai raposa, InuYasha é um meio-yokai, isto é, metade humano e metade cachorro. Além do cabelo e das orelhas, os dois usam roupas tradicionais japonesas e são bastante teimosos quando querem;
• Personalidade: InuYasha é conhecido por seu temperamento forte e imaturidade, atrelado ao lema de lutar antes e perguntar depois. Já Tomoe não cai tão facilmente em uma provocação e sempre é direto para resolver as coisas;
• Amor: ambos guardam um amor do passado, Yukiji e Kikyou. Tomoe não se lembra de Yukiji devido a um feitiço que o fez esquecer do seu primeiro amor. InuYasha fica dividido entre o que sentia por Kikyou e o que sente por Kagome.

Nanami vs Kagome

• Vida: tanto Nanami quanto Kagome são estudantes e passam a maior parte do tempo com o uniforme escolar. Elas se dividem entre as atividades da escola e outras responsabilidades, Nanami como divindade da Terra e Kagome como sacerdotisa;
• Círculo familiar: Nanami se torna uma divindade após perder a sua casa para as dívidas do pai (sendo que a mãe morreu quando ela ainda era pequena), já a Kagome sempre teve o apoio de sua família;
• Amor: entre “tapas e beijos”, Kagome se apaixona por InuYasha enquanto procura pelos fragmentos da joia de 4 almas. E tem o Koga que cai de amores por ela à primeira vista. Não demora até que Nanami veja Tomoe com outros olhos, enquanto um leve harém se forma à sua volta (Kurama, Mizuki, Jiro, Akura-ou).

Além dos casais que protagonizam as duas histórias, os personagens mais próximos desempenham um papel importante. Em InuYasha, Sango, Kirara, Miroku e Shippo trazem um tom mais cômico e leve em meio às cenas de lutas e à busca pela joia. Em Kamisama Hajimemashita, temos o harém da Nanami que eu venho falando desde o início do post. 

Os antagonistas também seguem um caminho diferente. Se Naraku faz de tudo para atrapalhar a busca de InuYasha, Tomoe não tem exatamente um rival. Após se apaixonar por uma humana, Akura-ou deseja se vingar por perder o seu corpo e o seu parceiro de crimes, mas as coisas parecem tomar um rumo diferente quando ele conhece Nanami. Aliás, vale dizer que InuYasha é um shonen (mais foco nas batalhas) com um tom mais sombrio, enquanto Kamisama Kiss é um shoujo (o romance está no ar) cheio de leveza. 

E algumas pessoas até comparam Kamisama Hajimemashita com Fruits Basket pela mistura de animais e humanos, entre outras características. Por falar nisso, é o próximo anime da minha lista. Quero ver o remake e, talvez, até embalar na primeira versão de 2001.

Impressões finais de Kamisama Hajimemashita

Enfim, Kamisama Hajimemashita é um anime leve, com clima de romance sem ser piegas demais. Um dos pontos mais interessantes é o plot twist revelado depois das viagens no tempo. A história envolve e causa empatia, não apenas com Nanami e Tomoe, mas também com os personagens de suporte, como o Mizuki e o Akura-ou (que merecia mais desenvolvimento). Será que ele recupera o corpo? E a vingança contra o Tomoe?

Tem momentos em que você não vai mais aguentar ouvir “Tomoe” pra lá e “Tomoe” pra cá o tempo todo. E o macaquinho Mamoru? Quando os dois purificam o miasma no templo Mikage, parece que a Nanami será capaz de fazer as coisas por conta e se desenvolver como divindade. Mas quando ela vai para a reunião com os outros deuses, ele fica para trás. Qual o sentido disso?

Esta, aliás, é uma das coisas que eu gostaria que fosse diferente em Kamisama Kiss, com uma protagonista forte, menos chorona e um pouco mais independente. Shirayuki de Akagami no Shirayukihime, que eu vi recentemente, é uma das minhas protagonistas preferidas. Se eu tivesse conhecido ela antes, estaria no topo da minha lista. 

Seja como for, Kamisama Hajimemashita é uma boa pedida para quem quer relaxar ou ver algo para aquecer o coração, ainda mais com um final tão amorzinho — reunindo humanos e seres espirituais — para o casamento de Tomoe e Nanami. O anime tem os seus clichês (qual não tem, não é mesmo?), mas se destaca por trazer uma história leve, sem envolver triângulos amorosos e ainda propor um plot twist inesperado.

Por falar em leveza, deixo como recomendação o review de Violet Evergarden. Embora a história retrate momentos de tristeza, é linda tanto no enredo como no visual.