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[Review] Sutetsuyo: quando o mundo pede um assassino, não um herói

Review do anime Ansatsusha de Aru Ore no Status ga Yuusha yori mo Akiraka ni Tsuyoi no daga: personagens Akira e Amelia prontos para lutar

Ser invocado para outro mundo costuma vir acompanhado de promessas heroicas, espadas lendárias e discursos cheios de clichês. Em Ansatsusha de Aru Ore no Status ga Yuusha yori mo Akiraka ni Tsuyoi no daga (My Status as an Assassin Obviously Exceeds the Hero’s), porém, a fantasia começa diferente: Oda Akira não recebe o título de herói, mas ganha a furtividade letal de um assassino — uma classe feita para agir nas sombras, observar padrões e eliminar alvos antes mesmo de serem percebidos. 

Baseada na light novel de Akai Matsuri, Sutetsuyo se destaca menos pela disputa de status com o “herói” (que o título sugere) e muito mais pelo clima denso e pelas escolhas morais de seu protagonista. Em um mundo estruturado como um jogo — com status, guildas e raças como elfos e demônios — onde o Rei esconde segredos sombrios, Akira precisa escolher entre viver nas sombras ou fazer o que sua classe faz de melhor. Embarca comigo?

Ficha técnica: Ansatsusha de Aru Ore no Status ga Yuusha yori mo Akiraka ni Tsuyoi no daga

Anime: Ansatsusha de Aru Ore no Status ga Yuusha yori mo Akiraka ni Tsuyoi no daga 「暗殺者である俺のステータスが勇者よりも明らかに強いのだが」

Gênero: Ação, Aventura e Fantasia

Número de Episódios: 12

Estreia: 7 de outubro de 2025

Estúdio: Sunrise (Code Geass: Hangyaku no Lelouch, InuYasha)

Adaptação: light novel de Akai Matsuri (história) e Touzai (arte)


Você já sentiu que o mundo ao seu redor simplesmente não nota a sua presença? Para Oda Akira, esse era o seu dia a dia como um “estudante invisível”, até que ele e todos os seus colegas são transportados para um mundo de fantasia. Ao chegar, Akira percebe rapidamente que algo está errado: seus atributos iniciais são absurdamente altos, mais que o próprio herói. 

Usando sua furtividade e seu status como assassino, ele decide investigar as reais intenções por trás da invocação e se vê envolvido em uma conspiração sombria orquestrada pelo rei. No caminho, ele encontra a elfa Amelia e forja um contrato com a gata Yoru, que se torna sua fiel familiar. Mas as batalhas que ele terá pela frente — para proteger Amelia e seus amigos — não serão contra monstros, mas contra o próprio papel que o mundo lhe impôs.

Um isekai que promete mais do que entrega

Desde o primeiro episódio, Sutetsuyo desperta curiosidade. A desconfiança inicial em relação ao reino que convoca Akira e seus colegas funciona bem como gancho, mesmo que o episódio seja mais contido do que empolgante. A virada vem logo em seguida: a fuga de Akira e a introdução de Amelia dão novo ritmo à história, que passa a flertar mais com o clima de aventura e mistério.

Entre elos fortes, outros nem tanto

Entre os personagens que Akira encontra durante sua jornada, Amelia e Yoru compartilham laços com pesos diferentes — mérito do roteiro (ou falta dele). A relação com a gatinha que vira familiar começa com um contrato forjado a partir da admissão de sua derrota para Akira. 

Mas o vínculo entre os dois cresce com o tempo e se transforma em confiança mútua, apoio e respeito. É um dos laços mais bem construídos do anime. Embora os dois compartilhem os papeis de mestre e subordinado, Akira trata Yoru como igual e não apenas um “pet” de suporte.

Akira e Amelia

Amelia, por outro lado, começa como uma personagem intrigante e com potencial para se tornar uma das queridinhas de Ansatsusha de Aru Ore no Status ga Yuusha yori mo Akiraka ni Tsuyoi no daga. Os episódios que vêm depois ganham vida quando ela entra em cena. No entanto, a imagem que eu tinha — uma protagonista tão forte quanto Akira para lutar ao seu lado — dá lugar a uma elfa dedicada a conquistá-lo. 

O lado romântico prevalece, embora o relacionamento deles não tenha tempo de crescer e nos convencer sobre o quanto um se importa com o outro: 

  • Batalhas: os dois mal lutam juntos. Geralmente, é Akira salvando a Amelia de alguém querendo usar suas habilidades de ressurreição para fins maléficos. 
  • Provações: além das tentativas de raptar Amelia, os dois não compartilham momentos de superação de obstáculos, daqueles que servem para fortalecer a relação.
  • Vínculo: a confiança que Yoru e Akira depositam um no outro não tem o mesmo aprofundamento quando envolve Amelia, mantendo o elo entre eles mais superficial.

Tudo parece muito apressado, sem os preparativos necessários para elevar a ligação dos dois como casal. Até mesmo as cenas românticas são escassas — e faz sentido, já que Sutetsuyo não é um anime de romance. Em 12 episódios, tem apenas um momento que marca e é muito bem conduzido, exceto por um detalhe: faltou o aquecimento.

Quem dita o tom: mais atmosfera, menos ação

Diferente de outros animes do gênero isekai que apostam em jornadas grandiosas para derrotar o vilão, Sutetsuyo é extremamente atmosférico. Na reta final, a ambientação urbana em um cenário que lembra os encantos de Venezia — escolhido para encerrar a trilha de Akira, pelo menos por enquanto — deixa essa abordagem ainda mais visível.

Visualmente, a Sunrise entregou uma animação limpa e consistente. As cenas de luta, especialmente o confronto no telhado antes da grande decisão, mostram um trabalho de câmera e ângulos dignos de grandes produções.

O visual, porém, não é o único recurso utilizado. Quando personagens são teletransportados para outro mundo, raramente vemos o que acontece com os que ficam do outro lado. Ansatsusha de Aru Ore no Status ga Yuusha yori mo Akiraka ni Tsuyoi no daga mostra, mesmo que brevemente, a família de Akira sofrendo com seu desaparecimento e torcendo para o seu retorno em segurança.

Entre o status e sua identidade: o dilema de Akira

O que torna Sutetsuyo mais interessante do que um isekai padrão (mesmo com suas imperfeições) não é o quão forte Akira se torna, mas o desconforto constante entre o que ele é e o que o mundo espera que ele seja. Receber a classe de Assassino não significa, automaticamente, aceitar tudo o que ela representa. Pelo contrário: ao longo da temporada, o anime mostra um protagonista que hesita, observa e questiona — alguém que entende o peso simbólico e moral de agir nas sombras.

Diferente de heróis que abraçam seu papel com orgulho ou revolta imediata, Akira caminha em uma zona cinzenta. Seu poder existe, sua classe é clara, mas sua identidade ainda está em formação. Ele não quer se tornar uma arma, muito menos fechar os olhos para as injustiças ao seu redor. Esse conflito interno é silencioso, mas constante, e ajuda a definir o tom mais atmosférico da obra.

Uma classe que carrega escolhas

No contexto de um mundo de fantasia, as classes costumam funcionar como rótulos: guerreiro luta, mago fornece buffs ou lança magias de ataque, assassino mata. Ansatsusha de Aru Ore no Status ga Yuusha yori mo Akiraka ni Tsuyoi no daga quebra essa lógica ao tratar o status de Assassino como uma posição em aberto. O que importa não é o bônus de agilidade ou furtividade, é a decisão sobre quando e se deve usar esse poder.

Essa abordagem faz com que o desenvolvimento de Akira não seja medido apenas por level up ou upgrade de equipamentos, mas por convicção. Cada passo em direção à aceitação da sua classe é dado com cautela, reforçando que assumir esse papel requer mais do que força: exige responsabilidade.

O episódio final reforça essa escolha narrativa. Em vez de batalhas épicas ou confrontos explosivos, Sutetsuyo opta por um encerramento denso, introspectivo e atmosférico. O silêncio fala mais alto que a música, e a ausência de ação intensa amplifica o peso emocional das decisões tomadas.

Veredito: um isekai sobre aceitar quem você se torna

Review do anime Ansatsusha de Aru Ore no Status ga Yuusha yori mo Akiraka ni Tsuyoi no daga: personagem Amelia com semblante triste e pensativo

O final da temporada, mais focado no caminho das sombras e na aceitação do que em batalhas frenéticas, deixa claro que o anime se preocupa com a evolução interna de Akira — mesmo não tendo mostrado sinais de evolução do protagonista, exceto por sua resolução. O ritmo acelerado, algumas escolhas apressadas e a dificuldade em decidir se quer ser romance, slice of life ou vingança impedem a obra de ir além.

Por que pode valer a pena dar uma chance?

  • Personagens Secundários: de Yoru a Saran, os personagens ao redor de Akira têm personalidades distintas e não são apenas figurantes (às vezes até se sobressaem).
  • Quebra de arquétipo: Akira não é o herói clássico, ele recebe a classe de assassino e questiona até que ponto deve aceitar ou não as responsabilidades que vêm com ela.
  • Final atmosférico: o último episódio foge do clichê de batalha épica e aposta em um encerramento denso, silencioso e decisivo.

Assim como algo muda em Akira após sua resolução, algo também muda na própria atmosfera do anime. Ansatsusha de Aru Ore no Status ga Yuusha yori mo Akiraka ni Tsuyoi no daga termina com a sensação de prólogo, como se a história tivesse, enfim, encontrado seu verdadeiro ponto de partida — sugerindo que há muito mais para explorar.


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