
Viajar sem destino, explorar lugares desconhecidos, acelerar quando o horizonte chama e parar apenas quando algo desperta a curiosidade. Essa é a essência de Shuumatsu Touring (Touring After the Apocalypse), mas com um detalhe: a paisagem é a de um Japão pós-apocalíptico, onde cidades viraram ruínas tomadas pela vegetação e o silêncio substituiu o ritmo frenético da vida moderna.
Neste review, convido você a subir na garupa da moto de Yoko e Airi para percorrer estradas que já foram movimentadas e cheias de vida. Não será uma viagem em busca de respostas imediatas, apenas a experiência de continuar seguindo em frente. Embarca com a gente?
Ficha técnica: Shuumatsu Touring
Anime: Shuumatsu Touring 「終末ツーリング」
Gênero: Aventura, Ficção Científica e Slice of Life
Número de Episódios: 12
Estreia: 4 de outubro de 2025
Estúdio: Nexus (Kage no Jitsuryokusha ni Naritakute!, Darwin’s Game)
Adaptação: mangá de Saitou Sakae
Guia de viagem
Yoko e Airi atravessam o Japão de moto, visitando lugares registrados em antigas fotos e memórias. Cada parada revela vestígios do passado — às vezes alegres, às vezes tristes — enquanto o mundo, agora dominado por ruínas do que restou após o colapso e pela natureza, segue existindo sem os humanos. Entre descobertas inesperadas, uma caça a selos escondidos e um banho de mar na companhia de pinguins, a jornada da dupla se torna tão importante quanto qualquer possível destino.
Um roteiro guiado pela curiosidade
Diferente de obras de sobrevivência frenéticas como Zom 100: Zombie ni Naru Made ni Shitai 100 no Koto, Shuumatsu Touring foca na contemplação. O mundo acabou, o silêncio substituiu o caos das metrópoles, e a natureza retomou seu espaço. É nesse cenário que acompanhamos Yoko, uma garota transbordando energia, e Airi, sua companheira androide de raciocínio lógico.
Mas por que turistar pelo silêncio do fim do mundo? A missão da dupla é simples: visitar lugares registrados em fotos antigas da irmã de Yoko. Elas não buscam respostas, nem soluções para salvar o mundo e restabelecer a humanidade. O que elas mais querem é vivê-lo, um quilômetro por vez.
「1」 Paradas obrigatórias: turismo em um mundo vazio
O grande trunfo de Shuumatsu Touring está na forma como o anime humaniza o vazio. A produção do estúdio Nexus utiliza locais reais — como Akihabara e circuitos de corrida — para as aventuras de Yoko e Airi. Tudo carrega marcas de um passado reconhecível. Além de criar uma sensação de reconhecimento geográfico, cada parada da dupla proporciona uma experiência nostálgica.
Em uma das conexões com o passado, a memória de Akihabara é resgatada a partir de referências à cultura pop, como na cena em que as duas vestem cosplay inspirados em maid cafés. Neste mesmo episódio, a dupla chega a uma estação onde as transmissões de rádio permanecem de forma contínua — mesmo em um mundo tomado pelo silêncio.
Já na área de Tokyo Big Sight, o que era para ser apenas um momento de pausa para relaxar entre uma viagem e outra se transforma em uma experiência inesquecível: banho de mar com pinguins nadando livremente.
「2」 Paradas obrigatórias: o brilho das pequenas histórias
O anime também aproveita o roteiro de viagem de Yoko e Airi para conectar passado e presente por meio de histórias episódicas. Aqui, um dos encontros mais marcantes acontece no início de Shuumatsu Touring, com o robô que parte em busca da família. É o tipo de cena que prova que, mesmo sem humanos, a humanidade permanece. A despedida, após cruzarem caminhos, é cheia de ternura e de uma delicadeza ímpar.
Mais à frente, quase chegando na reta final, Yoko passa por um ritual quase espiritual. Esse momento ganha vida quando ela tem a chance de experimentar a sensação de andar de moto em um circuito de corrida abandonado, com a velocidade em seu nível máximo.
⚠️ >> Alerta de spoiler!
A cena é marcada por um dos “sonhos reais” da Yoko, que sente na pele a sensação de arquibancada cheia com a presença de robôs e as “almas/memórias” de carros e motos, correndo ao seu lado. Vagalumes também surgem brilhando como uma forma poética de dar vida à nostalgia.
Yoko e Airi no coração da jornada
A dinâmica da dupla sustenta a narrativa. Yoko é o motor: movida a instinto, energia pura e muita curiosidade. Airi é como se fosse o freio para conter os impulsos da sua entusiasmada companheira de viagem, com algumas doses de lógica.
Separadas, são personagens simples. Juntas, criam um equilíbrio que torna a viagem envolvente. Elas preenchem o vazio das estradas com músicas, brincadeiras,diálogos que variam de curiosidades históricas (como as referências a Benkei e Yoshitsune, que me lembrou, obviamente, de Fate/Grand Order) até silêncios confortáveis sob o céu estrelado — e atividades comuns do dia a dia como lavar roupas ou preparar a janta.
O cuidado mútuo, as experiências compartilhadas e os pequenos gestos de respeito pelo mundo ao redor reforçam o tom humano da obra, mesmo em um cenário desumanizado.
Mistérios que ficam no horizonte
Como o tema central de Shuumatsu Touring é viagem, seu tom é contemplativo e relaxante na maior parte do tempo. No entanto, ao longo do caminho, o anime planta sementes de mistérios que mais sugerem do que explicam.
⚠️ >> Alerta de spoiler!
Talvez não seja a proposta, mas o que causou o apocalipse? Qual a origem de Airi? A revelação de que ambas viveram em um abrigo subterrâneo até receberem uma mensagem da irmã de Yoko deixa várias perguntas em aberto. Deixa no ar a dúvida: quem é realmente Yoko? Seria ela também uma androide ou a última esperança humana? Aliás, onde está a irmã de Yoko, que só aparece em fotos ou vídeos?
Veredito: uma jornada que valoriza o caminho, não o destino

Shuumatsu Touring não é um anime sobre respostas, grandes revelações ou a reconstrução do mundo. O roteiro prefere caminhar no sentido oposto: observar o que ficou para trás e seguir adiante, mesmo sem saber exatamente para onde. Essa escolha narrativa pode frustrar quem espera explicações claras sobre o apocalipse ou sobre a verdadeira natureza de Yoko e Airi, mas funciona muito bem para quem aprecia histórias contemplativas, que apostam mais na atmosfera do que no enredo tradicional.
No decorrer da rota de cada episódio, a obra transmite uma sensação constante de tranquilidade misturada com melancolia. Cada ruína visitada carrega um passado silencioso, e cada encontro — humano, mecânico ou até espiritual — reforça a ideia de que memórias e desejos sobrevivem mesmo após o fim do mundo.
Por que pode valer a pena dar uma chance?
- Exploração imersiva: cenários reais do Japão com uma estética pós-apocalíptica silenciosa, bela e tomada pela natureza, criando um convite à contemplação.
- Vibe relax: clima relaxante que mistura viagem e slice of life entre o passado conhecido e o presente esquecido.
- Mistérios em aberto: mesmo sem entregar respostas, o anime planta pistas para gerar teorias e manter o interesse até o último episódio.
Mais do que chegar a algum lugar, Shuumatsu Touring fala sobre continuar viajando: “Let’s keep travelling… as far as we can go. The destiny? Wherever we feel like”. É um anime que nos ensina que, mesmo quando tudo termina, ainda há beleza em seguir em frente. Se a ideia de acompanhar uma viagem sem pressa, onde o fim do mundo serve apenas como cenário para pequenas descobertas, pode ser uma parada inesperada e agradável no seu roteiro.
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E aí, para onde você iria se o mundo acabasse amanhã? ˆ-ˆv