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[Review] Towa no Yugure: novas formas de amar em uma era de IA

Review do anime Towa no Yugure: personagem Yugure em cenário pós-apocalíptico da P.A. Works com o rosto iluminado pelo sol

Você já parou para pensar como seriam nossos laços afetivos se um novo conceito de família fosse introduzido? Em um futuro moldado pelas cicatrizes de uma grande guerra tecnológica, Towa no Yugure (Dusk Beyond the End of the World) nos convida a mergulhar em uma proposta ambiciosa pela reconstrução da humanidade sob novos pilares. 

Nesta obra original da P.A. Works, estúdio conhecido por seu cuidado visual, a sociedade deixou para trás o casamento tradicional como o conhecemos. No lugar dele, surge o Sistema Elsie, nova estrutura de contrato social e convivência imposta pela OWEL — uma organização que monitora cada interação entre humanos e androides sob uma vigilância implacável.

Com 12 episódios e uma história original, a obra mistura romance e sci-fi em um cenário pós-apocalíptico melancólico, onde tecnologia, memória e sentimentos se entrelaçam em tons de crepúsculo. Embarca comigo?

Ficha técnica de Towa no Yugure

Anime: Towa no Yugure 「永久のユウグレ」

Gênero: Sci-Fi e Romance

Número de Episódios: 12

Estreia: 3 de outubro de 2025

Estúdio: P.A. Works (Angel Beats!, Another, Charlotte, Nagi no Asu kara, Hanasaku Iroha, Skip to Loafer, Sirius, Glasslip, Kuromukuro, Hibi wa Sugiredo Meshi Umashi, Mikadono Sanshimai wa Angai, Choroi)

Adaptação: obra original


Himegami Akira desperta de um longo sono criogênico e se depara com um mundo completamente diferente do estilo de vida que ele conhecia. Cidades em ruínas tomadas por vegetação e uma sociedade governada por uma organização chamada OWEL, onde o amor e o casamento foram substituídos por um sistema chamado “Elsie”. Enquanto tenta se ajustar à nova realidade que se tornou seu presente, ele encontra uma figura idêntica à sua antiga namorada Towasa, agora uma androide chamada Yugure — que o surpreende com um repentino pedido de casamento no primeiro episódio. Em busca de respostas, Akira embarca em uma jornada sobre identidade, perda e afeto em tempos artificiais.

Review de Towa no Yugure

O primeiro episódio já sinaliza para um começo promissor e um mundo cheio de possibilidades, ainda mais por ser uma história original onde tudo pode acontecer. O ponto de partida traz um ótimo gancho: mistério, ação bem embalada pela trilha sonora e uma pergunta inevitável: o que aconteceu com o mundo enquanto Akira dormia? O despertar do protagonista em uma realidade tão diferente da sua é o início de uma relação inusitada.

O encontro entre Akira e Yugure não começa com um “はじめまして”. Logo de cara, somos surpreendidos pela androide pedindo a mão dele em casamento: “結婚して 下さい”. Esse momento, além de divertido, sai dos tropos tradicionais do gênero e nos faz questionar: como funciona o afeto em um mundo regido pelo Sistema Elsie? O contraste entre a postura confiante de Yugure e a inocência de Akira cria uma dinâmica envolvente, desafiando a lógica fria da organização OWEL sobre o que define um “vínculo”.

A estética do crepúsculo em cada detalhe

Se tem algo que a P.A. Works sabe fazer é criar atmosfera. O título em inglês “Dusk” (Crepúsculo) não é por acaso. A direção de arte utiliza a iluminação de forma magistral para refletir o estado emocional dos personagens. As cenas são banhadas por tons de fim de tarde, evocando uma nostalgia constante por um passado que Akira não reconhece mais.

A trilha sonora, frequentemente melancólica e delicada, merece um destaque à parte em alguns momentos pontuais. Entre eles, o episódio 3, quando a música eleva a experiência visual da cena de resgate, e o 6 com um encontro que começa a mudar a perspectiva de Akira. Essa harmonia entre imagem e som também se sobressai nas cenas finais, em um lugar de paz, confissões e despedidas.

Sistema Elsie: um novo conceito para o amor

A introdução do Sistema Elsie representa uma das propostas mais ousadas de Towa no Yugure. Diferente do casamento tradicional, baseado na promessa de amor exclusivo e eterno entre duas pessoas, aqui nasce uma nova forma de amar. 

Elsie é um modelo de vínculo afetivo, em que o amor pode ser compartilhado igualmente entre três, quatro ou até mais indivíduos, independentemente de gênero. A ideia central não é a posse ou a exclusividade, mas a coexistência emocional, regulada por um sistema que busca equilíbrio, estabilidade social e continuidade da humanidade em um mundo pós-guerra.

O anime levanta uma questão que pode causar incômodo: o amor precisa, necessariamente, ser exclusivo para ser legítimo? Em um futuro onde a sobrevivência da espécie está em risco e a OWEL faz o controle da população, o Sistema Elsie sugere que os vínculos afetivos também precisam evoluir — não apenas emocionalmente, mas estruturalmente. 

Embora o termo “ehlsea” seja citado com frequência, raramente é explorado além da superfície ou questionado de forma consistente. O anime não chega a mostrar como esses vínculos funcionam na prática, quais são seus dilemas emocionais ou suas contradições humanas. Com o tempo, a repetição do termo passa mais a confundir do que enriquecer a narrativa.

A questão Amoru: obsessão ou legado?

Essa fragilidade conceitual do novo mundo fica ainda mais evidente com a introdução de Amoru. A dinâmica central entre Akira e Yugure funciona muito bem: os dois estão na mesma página, conectados pelas convenções do passado. Quando Amoru se junta ao grupo, sua presença parece servir mais como um catalisador de um triângulo amoroso forçado do que como uma peça essencial para expandir a visão sobre o amor nesse futuro.

Seu sonho de ser autora de livros infantis ilustrados é um detalhe sensível e simbólico —  um desejo de preservar a imaginação e a humanidade em uma sociedade marcada pelo controle da OWEL. No entanto, seu arco narrativo sofre com mudanças bruscas. Em vez de ser uma representação concreta das possibilidades (ou falhas) do Sistema Elsie, Amoru se perde entre a obsessão e o legado.

Veredito: Towa no Yugure é uma obra que perde o rumo?

Review do anime Towa no Yugure: personagens Towasa e Akira conversando no metrô

Towa no Yugure tinha tudo para ser um marco do gênero. A premissa é genuinamente genial ao propor um cenário que tenta equilibrar a tecnologia de ponta com a fragilidade da vida. 

No entanto, a execução não acompanha a grandeza desse conceito. Por um lado, a P.A. Works nos entrega imagens que parecem pinturas e uma trilha sonora que dita o ritmo de cada cena. Por outro, o roteiro desperdiça tempo limitado de 12 episódios com fillers e arcos secundários — como o breve e irrelevante arco dos irmãos — que pouco agregam ao tema central. É quase impossível ignorar a sensação de potencial desperdiçado.

O episódio final é um espetáculo visual. A luta entre Yugure e Yoiyami é magistralmente coreografada, com os créditos subindo organicamente durante o clímax, e o encerramento do ciclo de Towasa traz o fechamento necessário. No entanto, do ponto de vista narrativo, envolvendo Amoru e o desfecho do relacionamento central, deixam uma sensação agridoce.

O crepúsculo das revelações

Por que pode valer a pena dar uma chance?

  • Estética impecável: se você valoriza a direção de arte, iluminação e design de personagens de alto nível, este anime é um banquete visual.
  • Conceitos sci-fi provocantes: traz temas atuais como o impacto da inteligência artificial e propõe reflexões com a introdução do Sistema Elsie.
  • Trilha sonora marcante: a música não é apenas fundo, é parte da narrativa, especialmente nos momentos de ação e no desfecho melancólico.

Towa no Yugure é uma obra sobre memória e legado, enquanto questiona os limites da tecnologia. O conceito é forte e apresenta um mundo fascinante, mas a execução não acompanha totalmente suas ideias. A jornada de Akira e Yugure é visualmente envolvente, porém se deixa ser guiada por uma narrativa com potencial que poderia ter ido muito além. 

Você sentiu que a Amoru encontrou o seu lugar no mundo ao lado dos protagonistas ou preferia ter visto a personagem seguindo um caminho mais independente? Deixe sua opinião! ˆ-ˆv

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