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Let’s Play e as quests da vida adulta: amor, expectativas e ansiedade

Capa do anime Let's Play com a protagonista Sam

Entre streams, chats online e noites mal dormidas de desenvolvimento indie, Let’s Play: Quest-darake no My Life 「クエストだらけのマイライフ」 tenta traduzir para o anime a pressão constante de viver conectado, criar sob julgamento público e lidar com inseguranças que não têm botão de pause

Lançado no dia 2 de outubro, o anime adapta o webcomic americano de Leeanne M. Krecic (Mongie), popular em seu formato digital. A história propõe uma mudança de ares com elenco adulto, ambientada fora do Japão, explorando o mercado de games, o peso da exposição online e as relações interpessoais em tempos de streaming. Embarca comigo?

Ficha técnica de Let’s Play

Anime: Let’s Play: Quest-darake no My Life

Gênero: Comédia e Romance

Número de Episódios: 12

Estreia: 2 de outubro de 2025 

Estúdio: OLM (Kusuriya no Hitorigoto)

Adaptação: web mangá de Nanateru


Samara “Sam” Young é uma desenvolvedora de jogos de Los Angeles, que vê seu sonho desmoronar após uma crítica devastadora de um streamer famoso — crítica essa que se torna ainda mais pessoal quando ele passa a morar ao lado dela. Entre bugs emocionais, ansiedade social, romances em potencial e um adorável cachorro chamado Boiwser, o anime promete uma jornada que mistura vida adulta, cultura gamer e relacionamentos.

Review de Let’s Play

Visualmente, o anime aposta em uma paleta suave, quase lo-fi, com cores chapadas e designs simples. Não é um estilo que me agrada particularmente — há uma sensação ligeiramente estranha, quase psicodélica em certos momentos — mas é inegável que existe uma intenção estética por trás dessa escolha. Os cenários em tons pastel conversam bem com o tom intimista da obra, e a ending “Left & Right”, de Toshinobu Kubota (久保田利伸), reforça essa vibe mais contida e contemplativa. 

Em termos de produção, o anime busca manter o visual do webtoon americano que o inspirou. A OLM entrega um trabalho competente, sem grandes ousadias, mas consistente com a proposta. A animação é funcional, longe de ser memorável, mas também não chega a comprometer a experiência. Comecei a acompanhar pela protagonista querer se tornar uma game developer, área que admiro. Sempre me interesso por animes que dialogam com o universo dos games, e Let’s Play parte de uma premissa que desperta curiosidade. 

No início, Sam fica dividida entre o trabalho na empresa da família, a recepção de seu primeiro jogo independente (Ruminate) e um círculo social que rapidamente se transforma em algo próximo de um harém emocional — nem sempre de forma orgânica e às vezes questionável. 

Apesar dos desafios que tem pela frente, assim como em um game, ela não está sozinha. Sam conta com o apoio de colegas no trabalho, como Charles Jones e seu pai Samuel, além de um grupo de amigos unidos pelo RPG: Angela, Vikki, Dallas, Abe, Olivia e Link. À primeira vista, eles parecem uma pequena família e, em um dos episódios, promovem um encontro offline da guild.

No entanto, como manda o figurino dos rom-coms, conflitos e sentimentos mal resolvidos surgem nos bastidores. O resultado é previsível, com interesses amorosos se formando e emoções representadas de maneira quase literal.

Desenvolvimento no modo autoplay

O maior problema de Let’s Play está no desenvolvimento de seus personagens e, principalmente, nas relações que se formam ao redor de Sam. Ela é apresentada como uma protagonista cheia de camadas: insegura, constantemente se sentindo inadequada, lidando com ansiedade, crises de asma ligadas à baixa autoconfiança e a pressão de corresponder às expectativas profissionais e pessoais. 

O anime toca em temas relevantes, mas raramente se preocupa em oferecer caminhos claros de superação. Sam até demonstra pequenos avanços ao longo da história, porém o foco recai muito mais sobre suas fragilidades do que sobre uma real evolução emocional.

As relações amorosas seguem a mesma lógica apressada. A narrativa parece assumir que basta colocar personagens opostos em cena para que o romance seja automaticamente crível — seja com o chefe sério e contido, o vizinho streamer carismático ou o barista tímido em expressar seus sentimentos. Falta construção, tempo e, principalmente, coerência. Em vez de acompanhar um crescimento gradual, a impressão é de que certos romances existem apenas por conveniência narrativa.

O humor, muitas vezes infantil e excessivamente “descolado”, também não ajuda, tornando algumas situações mais constrangedoras do que engraçadas. No fim das contas, quem realmente conquista é o cachorrinho Bowser.

Game Over ou Continue? A escolha é sua

Depois de uma campanha marcada por quests em um nível quase boring, Let’s Play chega ao seu episódio final entregando mais do que a experiência até então fazia parecer possível. Confesso que, se eu soubesse de antemão como a história se desenvolveria, provavelmente nem teria apertado start. Falta progressão, falta sensação de level up — e o único arco que parecia pronto para doses extras de XP, o de Sam com Link, é encerrado sem recompensa.

Mesmo com a clara sensação de que um casal foi criado apenas para evitar que a protagonista terminasse sozinha após zerar sua barra emocional, o desfecho funciona melhor do que o restante da jornada. É curioso perceber que, no fim das contas, esse acaba sendo um dos melhores episódios do anime (ao menos em comparação com os outros).

Let’s Play: Quest-darake no My Life funciona mais como uma curiosidade do que como uma recomendação certeira. A premissa inicial é atraente, especialmente para quem se interessa por desenvolvimento de jogos e cultura digital, mas a falta de profundidade, as tentativas de romance e o excesso de clichês impedem o anime de avançar para outro nível no gênero. Se você costuma aplicar a regra dos três episódios, talvez valha o teste — só não espere uma experiência que realmente recompense cada hora investida.

Dentro desse universo, talvez Romantic Killer seja uma opção com mais bônus no final por render algumas risadas. ˆ-ˆv

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