
Ambientado em um universo onde a comida vai além do sabor — representa afeto, hospitalidade e uma forma de conectar até mesmo diferentes raças como humanos e ayakashi — Kakuriyo no Yadomeshi Ni 「かくりよの宿飯 弐」 nos convida a retornar ao Tenjin-ya após sete anos de espera.
A sequência do anime baseado na light novel de Midori Yuuma chegou no dia 2 de outubro, com 12 episódios. À primeira vista, o cardápio de Aoi-さん continua acolhedor: receitas que confortam a alma e vínculos construídos em refeições compartilhadas.
No entanto, por trás desse tempero familiar, a segunda temporada entrega uma experiência que erra a mão na harmonia de seus pratos. E a sensação que fica no final é daquele gostinho agridoce na boca. Embarca comigo?
Ficha técnica de Kakuriyo no Yadomeshi Ni
Anime: Kakuriyo no Yadomeshi Ni (Bed and Breakfast for Spirits 2)
Gênero: Drama, Fantasia, Gourmet e Romance
Número de Episódios: 12
Estreia: 2 de outubro de 2025
Estúdio: Gonzo (Rosario to Vampire, Special A, Gantz, Chrno Crusade, Trinity Blood, Romeo x Juliet, 7 Seeds, Hori-san to Miyamura-kun, Kaleido Star), em parceria com Makaria (Zatsu Tabi: That’s Journey)
Adaptação: light novel de Yuuma Midori
Tsubaki Aoi é uma jovem humana capaz de ver ayakashi, que usa seu talento culinário como ponte entre dois mundos. Após recusar um casamento forçado com Oodanna-さん, um ogro dono da da luxuosa pousada Tenjin-ya, Aoi decide quitar a dívida deixada por seu avô abrindo seu próprio restaurante. A segunda temporada expande esse universo, trazendo conflitos políticos do Hidden Realm, inspirando a criação de novos pratos e testando o coração de Aoi com um sumiço inesperado.
Review de Kakuriyo no Yadomeshi Ni
Com base na primeira temporada, Kakuriyo no Yadomeshi Ni tinha tudo para ser aquele anime que aquece o coração como um prato quentinho servido em um dia frio. O ritmo continua o mesmo: contemplativo, paciente, sem pressa de “entregar” a receita final. A diferença é que, desta vez, o tempo de preparo foi drasticamente reduzido — de 26 episódios para apenas 12. E, quando se trata de uma narrativa que depende tanto de atmosfera, vínculos e pequenos gestos cotidianos, essa mudança pesa mais do que parece à primeira vista.
A expectativa pela continuação era alta, especialmente após sete anos de espera. O marketing soube explorar bem esse retorno: artes promocionais com tons outonais, cenários detalhados, iluminação suave e aquela sensação de conforto visual. As imagens prometiam um reencontro cuidadoso com o Tenjin-ya para despertar nostalgia e acolhimento: como se estivesse abrindo novamente a porta de uma hospedaria familiar após muito tempo longe.
No entanto, conforme os episódios avançam, fica claro que nem todo esse cuidado visual se sustenta na experiência completa. Apesar da paleta quente e da proposta estética aparentemente mais refinada, falta algo essencial: vida. As animações são mais limpas, mas também mais rígidas; as transições entre cenas são abruptas, e os personagens, muitas vezes, parecem emocionalmente distantes. É como se o prato estivesse bem apresentado, mas tivesse perdido parte do tempero que o tornava memorável.
Um retorno ao Tenjin-ya… mas nem tudo aquece o coração
Após um longo hiato entre a primeira e a segunda temporada, era natural esperar que Kakuriyo no Yadomeshi Ni começasse com algum cuidado em reintroduzir seu universo. Em animes que passam tanto tempo fora do radar, uma recapitulação é sempre bem-vinda para: reacender memórias, resgatar vínculos e nos familiarizar novamente com aquele mundo.
Em vez de revisitar os principais acontecimentos no Hidden Realm, a sequência faz apenas um breve recap — com pouco tempo para degustar e relembrar — e inicia a partir de onde parou, deixando para trás a oportunidade de reacender o encanto que fez da primeira temporada uma experiência tão acolhedora. Para quem não tem tudo fresco na memória, a sensação é de estar entrando em uma conversa já em andamento.
O resultado é um início que, em vez de convidar o espectador a se sentar novamente à mesa, parece assumir que todos ainda se lembram exatamente de como era o sabor daquele prato. E para complicar um pouco mais, o foco nos protagonistas muda para Kasuga, uma personagem secundária do Tenjin-ya. A relação central entre Aoi e Oodanna fica em segundo plano.
⚠️ >> Alerta de spoiler!
O próprio Oodanna aparece em praticamente três cenas memoráveis, entre os episódios 1 e 3. Ao lado de Aoi para coletar folhas de momiji, com os créditos passando e uma música suave ao fundo. Em uma das poucas conversas no rooftop garden secreto que ele criou. Um beijo surpresa, antes dele sumir por completo.
Animação mais bonita, mas estranhamente sem vida
À primeira vista, Kakuriyo no Yadomeshi Ni ainda preserva elementos que remetem ao conforto visual do anime: cores suaves, referências à estética tradicional japonesa e um mundo de fantasia que, em teoria, deveria acolher. A animação aparenta ser mais limpa e bem-acabada, mas, conforme os episódios avançam, surge uma sensação difícil de ignorar: a de que algo essencial se perdeu no caminho.
As transições entre cenas são frequentemente secas e pouco naturais, quebrando a fluidez contemplativa que ajudava a dar ritmo à narrativa. Parece até uma economia na animação: enquadramentos repetidos, pouca variação de movimento e cenas que se resolvem mais no diálogo do que na expressão corporal.
Os personagens, por sua vez, são contidos demais: expressões vazias, quase neutras, como se estivessem emocionalmente desconectados do que acontece ao seu redor. Em muitos momentos, a sensação é de estar observando figuras estáticas, com pouca variação além do movimento da boca durante os diálogos. Falta a sensação de presença, aquele toque sutil que fazia o Tenjin-ya parecer lugar espaço vivo e convidativo, e seus anfitriões, tão carismáticos.
Esse sentimento se intensifica em comparação à primeira temporada. Um dos grandes destaques de Kakuriyo no Yadomeshi em 2018 era o cuidado com os cenários, padrões, texturas e pequenos detalhes visuais que transformavam cada ambiente em parte da experiência emocional da história. Na segunda temporada, muitos desses espaços parecem mais simples, assim como o design dos personagens, a ponto de perder identidade.
Para quem guardava um carinho especial pela atmosfera da primeira temporada, esse retorno causa uma melancolia difícil de explicar. É como revisitar um lugar querido e perceber que ele ainda está ali, mas já não transmite exatamente a mesma sensação de antes.
Impressões finais de Kakuriyo no Yadomeshi Ni

Embora esperado, o retorno ao Tenjin-ya revela um gosto agridoce. Comfort food ainda é o prato principal, mas não dá para negar que a mudança do tempero altera o sabor. Mesmo com o convite para sentar à mesa novamente com Aoi e companhia, uma comida bem apresentada não tem o mesmo valor quando servida sem calor suficiente para reconfortar.
A expectativa criada após tantos anos, somada ao marketing visual que prometia um reencontro caloroso e nostálgico, contrasta com diálogos e reações emocionais rasas, além de interações emocionais menos profundas. Oodanna passa boa parte da temporada distante, enquanto Ginji lida em silêncio com seus sentimentos por Aoi.
Mesmo com limitações claras, Kakuriyo no Yadomeshi Ni preserva a conexão através da comida e a crença de que a convivência — seja entre humanos ou ayakashi — nasce dos gestos cotidianos. O problema é que 12 episódios parecem pouco para sustentar tudo o que a temporada propõe e ainda tratar esses temas com o cuidado que eles merecem. Há conflitos importantes, ideias interessantes e um universo rico tentando se expandir, mas sem o tempo necessário para amadurecer.
⚠️ >> Alerta de spoiler!
O último episódio encerra a temporada anunciando “o início da batalha final para trazer Oodanna de volta” e deixa no ar novas perguntas, como a enigmática menção a Setsu. Com o cliffhanger, a história para no meio do caminho e repleta de fios soltos, sem a certeza de continuidade.
Kakuriyo no Yadomeshi Ni não apaga o encanto de seu universo, mas tampouco o amplia como poderia. e algum conforto, mas também uma frustração silenciosa. Talvez, por ora, o Tenjin-ya seja melhor apreciado nas páginas da light novel, onde os pratos de Aoi devem encontrar mais tempo para cozinhar.
Quando penso em uma refeição quentinha para o coração sempre me lembro de Hibimeshi. ˆ-ˆv