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Kimi no Suizou wo Tabetai: um anime que cura e abala o coração

Cena do filme Kimi no Suizou wo Tabetai com os protagonistas caminhando com a companhia das flores de cerejeiras

Existem filmes que nos fazem chorar, outros que nos fazem sorrir e alguns que dosam um pouquinho de cada. Kimi no Suizou wo Tabetai 「君の膵臓をたべたい」 pertence ao último grupo. Desde a primeira cena, o anime prepara o terreno para um turbilhão emocional que mistura a doçura efêmera da juventude com a dureza inevitável da morte. 

Lançado em 1º de setembro de 2018, o longa — também conhecido como I Want to Eat Your Pancreas — é baseado na novel de Sumino Yoru. A obra adapta com sensibilidade a história de dois opostos que se conectam pelo segredo escondido em um diário. 

Com forte apelo emocional, direção delicada e uma surpresa inesperada no meio do caminho, Kimi no Suizou wo Tabetai finalmente sai da minha lista para chegar até você em forma de review. Embarca comigo?

Ficha técnica de Kimi no Suizou wo Tabetai

Anime: Kimi no Suizou wo Tabetai (I Want To Eat Your Pancreas)

Formato: Filme (1h48min)

Estreia: 1 de setembro de 2018

Adaptação: novel de Sumino Yoru

Estúdio: Studio VOLN (SI-VIS The Sound of Heroes)

Gênero: Drama e Romance


Sem qualquer interesse pelas pessoas ao seu redor e muito menos vínculos e amizades, a vida de um reservado estudante muda quando ele encontra um diário com o nome “Living with Dying”. Suas páginas revelam o segredo que apenas a família de sua popular colega de classe Yamauchi Sakura sabe: ela sofre de uma doença terminal no pâncreas e seus dias estão contados. Em vez de tristeza ou empatia, sua expressão permanece neutra. Mesmo assim, Sakura consegue convencê-lo a passar seus últimos dias com ela vivendo ao máximo, sem arrependimentos. 

Aos poucos, duas vidas completamente distintas passam a se entrelaçar, construindo uma amizade que vai muito além de rótulos, romance ou convenções. Enquanto ele começa a se abrir para o mundo aos poucos, os dois embarcam em uma jornada sobre descobrir o significado de viver…mesmo quando o fim está próximo.

Review de Kimi no Suizou wo Tabetai

Para você, o que significa viver? Esta é uma das perguntas que o protagonista (nome não revelado para evitar spoiler) faz a Sakura quando eles jogam “Truth or Dare” no hospital. As possibilidades de respostas são infinitas. Elas não apenas refletem como cada um de nós vê a vida, como também podem ser moldadas diante de um contexto. Embora a morte seja um destino inevitável, os dias de Sakura já têm data definida para chegar ao fim. Por isso, ela decide viver intensamente, realizar seus desejos e visitar lugares onde nunca esteve.

Kimi no Suizou wo Tabetai é um daqueles filmes que nos lembram por que histórias aparentemente simples podem carregar impactos gigantescos. Não se trata apenas de mais um romance escolar (eu diria que está bem longe disso, aliás). É um lembrete sobre como devemos deixar nossa marca no mundo, como podemos impactar as pessoas ao nosso redor e como duas personalidades tão opostas podem mudar uma à outra profundamente — mesmo em pouco tempo.

Apesar de ter seus dias contados e de guardar dentro de si o medo e as inseguranças do que está por vir, Sakura é uma personagem aberta, vibrante e cheia de vida. Sua popularidade na escola se justifica. Em contraste, ele é introspectivo, antissocial e emocionalmente distante — sem qualquer interesse em aprender sobre a vida dos outros, fazer amizades ou até mesmo namorar. Ele gosta apenas do que lê nos livros. O encontro entre dois polos opostos cria um dinamismo que evolui de forma orgânica. 

Um drama sobre a vida, não sobre a morte

O roteiro trabalha bem o equilíbrio entre viver a vida intensamente e conviver com a dor de uma despedida precoce do mundo. Mesmo sabendo o destino inevitável de Sakura desde o início, o filme consegue surpreender — não pelo o quê, mas pelo como. A narrativa mostra que o impacto de uma vida não depende de sua duração, mas das conexões que ela faz pelo caminho. 

Só não gosto de como os colegas de classe julgam Haruki no início por passar tempo com Sakura. Como podem dizer coisas como “por que você se interessa por alguém como ele?” se nem sabem o tipo de pessoa que ele é?

A animação segue a estética suave de filmes similares, com cenários belíssimos e atenção ao detalhe, especialmente nas cenas com flores de cerejeira, que reforçam simbolismos de efemeridade e renascimento. O uso eventual de CGI e a participação limitada de personagens secundários poderiam elevar um pouco mais a história, mas não tiram seu brilho por trás de uma mensagem sobre a vida através da morte. A trilha sonora, embora discreta, complementa o tom delicado e reflexivo de Kimi no Suizou wo Tabetai.

Impressões finais de Kimi no Suizou wo Tabetai

Cena do filme Kimi no Suizou wo Tabetai com os protagonistas posando para a foto, close na Sakura

Em algum momento, você já parou para pensar no título do filme? I Want To Eat Your Pancreas soa estranho à primeira vista, até desconfortável, mas não dá para dizer que não desperta a curiosidade. No contexto da história, a frase ganha um significado delicado. Uma crença antiga afirma que comer a parte do corpo que está doente ajudaria a curá-la. 

Sakura, com sua doença no pâncreas, transforma essa superstição em metáfora quando diz: “Apparently there is a foreign religion where if someone else eats you, your soul will live inside them.” O que parecia apenas uma escolha provocativa revela um simbolismo sobre conexão, legado e a forma como alguém pode continuar vivendo dentro de nós.

A história se apega ao significado de viver e ao poder de transformação que uma pessoa pode ter na vida de outra. Mesmo com personalidades opostas, Sakura vê no protagonista uma sensação de normalidade. Diferente de como seria a reação dos outros se soubessem da doença, ele não a trata com pena ou tristeza. Já para ele, ela simboliza sua primeira conexão real, a primeira pessoa a despertar seu interesse fora dos livros. 

Cerejeira + Primavera

Juntos, os dois se complementam como yin e yang e passam a se influenciar mutuamente — um inspirando o que há de melhor no outro, como as cerejeiras que florescem com a chegada da primavera. O filme também traz referências do universo da obra “O Pequeno Príncipe”, que ganham vida com a mensagem de despedida da Sakura. Se você reparar no início, como a história começa, e nas pistas sutilmente deixadas nos detalhes (inclusive uma delas está no nome dele), perceberá como todas as peças se conectam e têm um significado.

Kimi no Suizou wo Tabetai é mais do que um tearjerker, é um lembrete de que viver é algo precioso, e de que cada encontro, por menor que seja, pode transformar alguém. Para quem busca um anime que abala o coração, mas também cura, fica a recomendação (mas não se esqueça de separar os lenços, você provavelmente vai precisar).

Entre os filmes mais marcantes que vi, Suzume no Tojimari marca pela viagem de autodescoberta. ˆ-ˆv

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