Em um mundo onde cada vida tem seu próprio roteiro, You and Everything Else (은중과 상연) surge como um retrato melancólico para nos lembrar que as amizades mais profundas são, muitas vezes, as mais traiçoeiras. Este K-Drama da Netflix é como um filme em preto e branco sobre a complexidade de uma amizade entre duas mulheres que se estende por três décadas.
Ryu Eun-Jung e Cheon Sang-Yeon têm seus destinos conectados por uma teia de admiração e inveja. Assim como uma fotografia que quando exposta demais perde o foco, o laço entre elas se desfaz sob o peso do ciúme, da ambição e de uma traição que envolve o roubo de uma história. O que realmente resta quando a rivalidade consome o que era para ser amor?
A série coreana estreou no dia 12 de setembro, com todos os episódios liberados de uma vez. Depois de acompanhar tudo, eu vim aqui para compartilhar o que achei. Embarca comigo?
Ficha técnica de You and Everything Else
Série: You and Everything Else (북극성)
Gênero: Drama, Melodrama e Romance
Número de Episódios: 15
Estreia: 12 de setembro de 2025
Direção: Jo Young-Min (The Interest of Love, Do You Like Brahms?)
Roteiro: Song Hye-Jin
Elenco principal: Kim Go-Eun (Ryu Eun-Jung), Park Ji-Hyun (Cheon Sang-Yeon), Kim Gun-Woo (Kim Sang-Hak) e a lista completa
A roteirista Ryu Eun-Jung (Kim Go-Eun) e a produtora de cinema Cheon Sang-Yeon (Park Ji-Hyun) são amigas desde a infância — e também rivais por natureza. Eun-Jung sempre foi sincera e empática, enquanto Sang-Yeon cresceu cercada de privilégios e carências afetivas. Ao longo de três décadas, suas vidas se cruzam e se afastam, marcadas por mágoas, recomeços e um sentimento de dependência emocional. Após uma separação definitiva, Sang-Yeon reaparece pedindo um último favor, e as duas precisam encarar tudo o que ficou mal resolvido no trabalho, nos relacionamentos e, principalmente, entre elas.
Review de You and Everything Else
O que imediatamente captura a atenção em You and Everything Else é a sua ambientação meticulosa e o tom deliberadamente sério. Longe de ser um feel-good drama, o K-Drama nos transporta para as paisagens das séries coreanas que exploram o passado, começando nos anos 90. Esse estilo retrô, que lembra produções como 20th Century Girl e A Time Called You, confere uma camada de nostalgia que contrasta dolorosamente com os conflitos enfrentados pelas protagonistas com o passar do tempo.
Juntos, direção e roteiro constroem a narrativa com um contraste brilhante e sem desperdiçar um segundo de tela. Cada diálogo e cada enquadramento carregam peso, enquanto simbolizam o distanciamento emocional entre as personagens, fazendo com que a história se aproxime de uma realidade palpável.
O duelo de amigas e rivais: Ego vs. Empatia
O coração da série reside no duelo psicológico entre as duas protagonistas, uma dinâmica que serve como um estudo sobre racionalidade e emoção.
De origem rica, Cheon Sang-yeon é retratada como uma figura quase patológica, uma “espinha” constante na vida da amiga. Motivada por um complexo de inferioridade (ligado à perda de status e à falta de afeto familiar), sua ambição se manifesta em forma de sabotagem.
⚠️ >> Alerta de spoiler!
Ela não apenas rouba o roteiro de Eun-jung, mas também interfere em seu romance com Kim Sang-Hak (Kim Gun-Woo). Sua volta no final, sob o pretexto da doença terminal, é percebida como um último ato de controle: ela sabia que Eun-jung, por sua natureza, não recusaria o pedido de passar suas últimas horas com ela.
Apesar de origens mais humildes, Ryu Eun-Jung se mantém empática e se deixa guiar pelo coração na maior parte do tempo. Em essência, ela é uma boa amiga que constantemente dá chances a quem não merece.
⚠️ >> Alerta de spoiler!
O perdão final de Eun-jung, apesar de frustrante, é coerente com sua personalidade: ela é uma força da natureza movida pelo afeto, e não pela vingança — mesmo que, no meio da amizade, exista o ciúmes.
Essa dupla face, a manipuladora com traços de vulnerabilidade versus a empática e leal, é o motor que nos mantém engajados do início ao fim.
Química, performance e ressonância emocional
É impossível falar de You and Everything Else sem reverenciar o talento de Kim Go-eun e Park Ji-hyun. A química entre as duas é palpável e autêntica, o que torna sua luta e sua dependência mútua ainda mais reais.
- A atuação de Park Ji-hyun como Sang-yeon é tão convincente a ponto de incomodar com uma personagem irritante, mas complexa e digna de pena (talvez).
- Kim Go-eun se sai muito bem ao transmitir o sofrimento e a lealdade de Eun-jung, expressando a dor de uma amizade que a feriu por três décadas.
Complementando o visual e as performances, a trilha sonora é profundamente melancólica e minimalista. As peças lentas de piano acentuam o peso emocional das cenas, fazendo os sentimentos “transbordarem” e reforçando a sensação de uma inevitável nostalgia.
Além do roteiro: escolhas e tabus sociais
A série vai além do simples drama de rivalidade entre duas amigas. A história aborda a fragilidade de algumas escolhas, inclusive românticas, ao mesmo tempo em que ousa tocar em tabus raramente abordados com tanta clareza na Coreia do Sul.
⚠️ >> Alerta de spoiler!
Sabemos que o romance não era o foco e que o Sang-Hak teve sua parcela de culpa na separação por omissão, mas alguém mais esperava ver ele e Eun-Jung juntos novamente no futuro? Primeiro, a despedida trágica e inesperada do irmão da Sang-Yeon. Depois, o reencontro de Sang-Hak e Eun-Jung. Mesmo com o carinho visível de um pelo outro, seus caminhos seguiram direções diferentes.
Já entre os tabus sociais, teve o adeus de Sang-Yeon em Zurich, retratando a morte assistida. É um tema delicado pelo potencial de polarizar opiniões, mas, deixando isso de lado, o contraste entre a decisão de Sang-Yeon e as paisagens na Suíça, as lembranças da amizade com Eun-Jung e o clima de paz antes do último suspiro é mostrado de uma forma interessante: bonito, mas extremamente melancólico.
Pelas escolhas de roteiro, You and Everything Else funciona quase como um estudo psicológico de apego e perda a partir da ambivalência da amizade feminina. E aqui entra novamente a pergunta do início: o que resta quando a rivalidade consome o que era para ser amor?
Impressões finais de You and Everything Else
Durante a transição entre três décadas, You and Everything Else retrata o tempo como se fosse uma lembrança em processo de apagamento, alternando flashbacks dos anos 90 com o presente e uma despedida final. Sang-Yeon é uma personagem difícil de amar, mas impossível de ignorar. Sua inveja é construída com camadas de dor, criando um espelho incômodo da própria Eun-Jung que, mesmo ferida, continua oferecendo empatia. É nesse contraste entre racionalidade e emoção que o K-Drama encontra seu brilho.
You and Everything Else é um K-Drama maduro, feito para quem aprecia histórias que não oferecem consolo fácil. É belo, cruel e profundamente humano: um lembrete de que algumas amizades, por mais dolorosas que sejam, moldam quem somos. Assim como as fotos de câmeras analógicas, algumas relações permanecem, enquanto outras se apagam com o passar do tempo.
Se esse é o tipo de história para você, o filme Tune in For Love traz algumas similaridades, além de contar com a participação de Kim Go-Eun. ˆ-ˆv
Hasta La Tour 