
Algumas histórias chegam como o perfume de uma flor esquecida entre as páginas de um livro: um aroma suave, nostálgico e repleto de lembranças que o tempo não conseguiu apagar. Nesse ritmo sereno e cheio de ternura, My Youth (마이 유스) desabrocha lentamente em episódios carregados de melancolia, que formam um jardim de recordações e segundas chances. É um K-Drama sobre a juventude perdida e reencontrada — e sobre o que ainda pode florescer, mesmo depois de tanto tempo
Sob a direção sensível de Lee Sang-Yeob e roteiro de Park Si-Hyun, a série da JTBC estreou no dia 5 de setembro e chegou ao final nesta sexta-feira, 17 de outubro. Em 12 episódios, ela equilibra nostalgia, ternura e um tom melancólico. Embarca comigo?
Ficha técnica de My Youth
Série: My Youth (마이 유스)
Gênero: Romance e Melodrama
Número de Episódios: 12
Estreia: 5 de setembro de 2025
Direção: Lee Sang-Yeob (A Piece of Your Mind, My Holo Love)
Roteiro: Park Si-Hyun (Run On)
Elenco principal: Song Joong-Ki (Sunwoo Hae), Chun Woo-Hee (Sung Je-Yeon), Lee Joo-Myoung (Mo Tae-Rin), Seo Ji-Hoon (Kim Seok-Ju) e a lista completa
Sunwoo Hae (Song Joong-Ki) foi uma estrela mirim que brilhou cedo demais e rapidamente se apagou após ser explorado pela ambição dos adultos ao seu redor. Com o passar dos anos, ele troca os refletores dos sets de gravação por uma vida tranquila como romancista e florista, vivendo em silêncio entre o perfume das pétalas e as palavras que escreve. Quando Sung Je-Yeon (Chun Woo-Hee), seu primeiro amor e a pessoa que estava ao seu lado nos dias sombrios da juventude, ressurge após dez anos, o tempo volta a florescer para ele. Ela nem imagina que o reencontro significaria também redescobrir sua própria primavera. Entre memórias, arrependimentos e novos começos, os dois percebem que algumas flores precisam de mais tempo para desabrocham.
Review de My Youth
O plot poderia soar familiar: o reencontro com o primeiro amor que teve suas sementes plantadas, mas sem tempo de receber água suficiente para crescer. My Youth se diferencia de outras séries coreanas com histórias similares pelo modo como trata esse reencontro: com calma, sensibilidade e uma sinceridade quase desarmante. Um cuidado para mostrar que o romance, assim como a natureza, tem seus próprios ciclos. Há o tempo de germinar, o de florescer e o de murchar — para que algo novo nasça.
A cinematografia é um protagonista à parte: luz suave, tons quentes e uma fotografia que valoriza o natural. Há uma beleza quase artesanal em cada cena, especialmente as gravadas no atelier de flores de Hae.
>> Alerta de spoiler!
Também gosto da paisagem que acompanha o primeiro beijo (inesperado) de Hae e Je-Yeon, das cores vívidas da cena no rooftop com Seok-Joo envolvendo Tae-Rin em uma bolha gigante e o contraste do cenário dark quando chega a vez dos protagonistas secundários trocarem o primeiro beijo (também inesperado pela forma como foi). ˆˆ
Song Joong-Ki entrega uma atuação serena e comovente, dando vida a Sunwoo Hae com uma quietude que, muitas vezes, diz mais do que palavras poderiam. Seu personagem é uma metáfora da resiliência. Seu olhar carrega o peso do inverno, mas com a esperança de florescer como a primavera. Apesar de ser moldado pelo abandono, Hae tem um bom coração, capaz de amar e cuidar das pessoas ao seu redor com ternura.
Já Chun Woo-Hee dá complexidade ao universo de Je-Yeon: fria e pragmática no presente, mas profundamente humana quando o passado vem à tona. O reencontro entre os dois funciona como uma reconciliação — com o outro e consigo mesmo — para compreender o que restou de quando eram jovens e o que ainda pode florescer agora como adultos.
Impressões finais de My Youth
My Youth é um daqueles tipos de K-Dramas mais contemplativos. Não chega a ser tão neutro quanto The Nice Guy, seu antecessor na grade de programação. Entre as produções recentes, My Lovely Journey, talvez, seja um dos mais próximos em termos de cadência e pelas reflexões que provoca.
O ritmo é deliberadamente lento e talvez não agrade quem busca reviravoltas ou melodramas intensos. Até tem sua dose de drama que, de certa forma, é contida e, muitas vezes quebrada, pelas reações hilárias de Mo Tae-Rin (Lee Ju-Myoung) — e suas interações cheias de provocação com Hae — e pela doçura de Kim Seok-Joo (Seo Ji-Hoon). Juntos, os dois formam o segundo casal da história. É uma pena não ver a dupla em cena por mais tempo. Sinto que o romance não ganhou espaço suficiente para se desenvolver em sua plenitude.
Sobre o último episódio…
⚠️ >> Alerta de spoiler!
E o final para os protagonistas? Apesar de ver Hae e Je-Yeon aparentemente juntos, fiquei com a sensação de que aquela cena foi apenas uma representação visual da carta que ele enviou a ela por causa de suas últimas palavras, algo como “I hope we can say hi again and again someday”. É como se o propósito fosse manter um final aberto, mas sem mostrar essa intenção de forma tão explícita. Então, não tenho certeza se foi um final feliz ou triste. Hae realmente voltou e está saudável? Ou ele ainda está em tratamento e aquela cena foi um sonho, uma projeção do encontro quando e se acontecer no futuro?
De qualquer forma, acho que combina um pouco com o clima melancólico que o K-Drama construiu no decorrer dos seus 12 episódios. Além disso, as cenas que mostram eles adultos “brincando” com suas versões jovens foi um toque interessante, pois passam a mensagem que a história queria transmitir sobre memórias preciosas da juventude de cada um.
Com uma trilha sonora delicada, My Youth não é um jardim para ser visitado com pressa de chegar ao fim do passeio. A proposta aqui é sentir as conexões sutis que se formam, lembrar das memórias em busca de uma segunda chance e, talvez, revisitar nas horas em que o coração pede algo suave e visualmente relaxante.
Uma das melhores séries coreanas sobre cura e recomeços é Our Unwritten Seoul, que rapidamente se tornou uma das minhas favoritas no ano. ˆ-ˆv