
Imagine uma ilha pacata, cercada pelo mar azul, o som das gaivotas e um clima de tranquilidade — onde o tempo parece se repetir em ciclos misteriosos. Em Torishirojima, cada verão guarda fragmentos de memórias, como conchas esquecidas na areia, prontas para serem descobertas e costuradas em novas histórias. Esse é o clima de Summer Pockets 「SumPock」, um anime que mescla nostalgia, romance e fantasia em uma jornada sobre lembranças, encontros e despedidas.
Inspirada em uma visual novel desenvolvida pela Key em 2018, a obra estreou no dia 7 de abril. Após 26 episódios e seis meses no ar, a adaptação do estúdio feel chegou ao final, provocando lágrimas de tristeza e felicidade. Embarca comigo?
Ficha técnica de Summer Pockets
Anime: Summer Pockets
Gênero: Romance
Número de Episódios: 26
Estreia: 7 de abril de 2025
Estúdio: feel
Adaptação: visual novel
Após a morte da avó, Takahara Hairi deixa para trás a vida agitada da cidade e parte para a ilha de Torishirojima, com a desculpa de ajudar na herança. Enquanto se adapta ao ritmo mais tranquilo dos moradores durante suas férias de verão, ele conhece quatro garotas: a aventureira Kushima Kamome (e a caça a um barco pirata), a doce Wenders Tsumugi, (em busca de si mesma) a divertida Sorakado Ao (com sua obsessão pelas lendas locais) e a antissocial Naruse Shiroha (que se afasta de todos por causa de uma maldição). A partir daí, um ciclo de verões inesquecíveis começa, enquanto memórias do passado transbordam.
Review de Summer Pockets
Assim como Air, Summer Pockets mergulha em um clima de mistério desde o primeiro episódio, ao mesmo tempo em que provoca uma sensação de nostalgia. Pouco sabemos sobre o que aconteceu com Hairi antes de sua chegada à ilha, a ponto dele se referir a ele mesmo como um pássaro que machucou suas asas. Todos os personagens que interagem com o protagonista também são um mistério. Até mesmo a questão da herança da avó — sempre que ele se propõe a ajudar, é dispensado por Kyouko. Por que será?
Não dá para falar de Summer Pockets sem mencionar a trilha sonora. As músicas de Suzuki Konomi (鈴木このみ) dão o tom perfeito: leves, tristes, esperançosos. É uma trilha que não só acompanha, mas amplifica cada emoção. Entre as minhas preferidas, “Alka Tale (アルカテイル)” e “Lasting Moment” são as mais marcantes. “Mahou no Enikki (魔法の絵日記)” tem um arranjo muito fofinho para acompanhar as vozes de Shiroha e Umi.
O anime começa com um tom leve, carregado de mistério e um ritmo contemplativo. A partir do episódio 7, experimentamos o primeiro reset da história. Aos marinheiros de primeira viagem (eu estou entre eles), essa abordagem pode pegar de surpresa, assim como uma tempestade que se forma inesperadamente em alto-mar.
>>> Alerta de spoiler!
Quando tudo parece voltar ao início, a intenção do anime é mostrar o verão como se estivesse preso em um ciclo — o que de certa forma é o que está acontecendo. Mesmo que nem todas as peças do quebra-cabeça se encaixem, a ideia é reforçar que cada reset tem um propósito único. Após passar por todos eles, uma nova rota é liberada: Alka. E, ao completá-la, outra se forma: Pocket. Na VN, ainda tem a versão Reflection Blue.
Um verão que se repete em ciclos

No decorrer dos episódios, começamos a entender que a cada arco com uma das quatro personagens, a narrativa se reinicia, revelando novas camadas do mistério da ilha e do próprio protagonista. A adaptação respeita a estrutura da visual novel, organizando os episódios em “rotas”, e gradualmente nos conduz ao “verdadeiro final” — uma marca registrada da Key.
Rota da Kamome: entre promessas e despedidas
A primeira rota é a da Kamome. Com ares de aventura e uma pitada de melancolia, ela parte em busca de um navio pirata ligado a uma promessa da sua infância. O arco é fofo e triste ao mesmo tempo, chegando ao fim do seu ciclo no episódio 6 com aquele sabor agridoce típico das obras da Key. É um início que já nos prepara para o mix de lágrimas e sorrisos que virá.
Rota da Tsumugi: é a vez da inocência e ternura
No arco de Tsumugi, que se estende até o episódio 10, temos uma das despedidas mais emocionantes da temporada — e a música contribui para elevar a carga emocional. A cena em que Hairi organiza pequenas celebrações para ela, incluindo a vela improvisada em uma lata de Pringles, é pura fofura. É uma rota que mistura inocência com a noção de efemeridade.
Rota da Ao: quando revelações da ilha se abrem
Do episódio 11 ao 14, acompanhamos a rota de Ao, uma das mais interessantes pela forma como conecta as lendas da ilha ao mistério central. A cada conversa, temos a sensação de que a ilha guarda segredos muito maiores do que aparenta — revelados gradualmente. Entre todas as rotas, é a que pega mais leve com as lágrimas.
Rota da Shiroha: o coração de Summer Pockets
Os episódios 15 a 17 marcam o início da rota de Shiroha, a heroína principal. Seu arco é mais íntimo e revela muito sobre o passado dela e de sua família. Embora alguns trechos pareçam apressados (ao menos na ‘primeira versão)’, é aqui que entendemos por que ela é peça-chave da narrativa. Sua relação com Hairi ganha força, sem se aprofundar tanto além da superfície. É no reencontro com Umi que a trama se expande de forma surpreendente.
O clímax de Summer Pockets: Alka e Pocket
A partir do episódio 18, o anime atinge outro nível. Os mistérios que cercam a ilha, finalmente, começam a fazer mais sentido (embora nem todos fiquem claros para mim). O ritmo da história encontra o ponto de equilíbrio, abrindo espaço para aprofundar as conexões e tornar a experiência de Summer Pockets imersiva até o final. Aqui entramos nas rotas Alka e Pocket, que colocam Umi no centro de cada ciclo.
>>> Alerta de spoiler!
Início da rota Alka: a convivência de Hairi, Shiroha e Umi como uma família se torna o centro da história no episódio 18. O romance adolescente das rotas anteriores fica em segundo plano, enquanto os laços criados entre os três assumem o protagonismo. É um dos momentos mais fofos do anime.
No episódio 19, descobrimos o verdadeiro elo entre eles: Umi é a filha dos dois no futuro. É aqui que a história entra no contraste entre a leveza do slice of life — brincadeiras com avião de papel, esconde-esconde, aulas de canto com Tsumugi, livro ilustrado com Kamome — e um tom mais pesado. Por que Umi está ali? Algo acontece no futuro? Já conseguimos fazer algumas deduções…
O fim da rota Alka é também uma das passagens mais devastadoras do anime. No episódio 22, tem o casamento de Hairi e Shiroha, as lembranças aos poucos sendo esquecidas até os fogos de artifício, com a música “Yasouka” tocando ao fundo. Eu chorei e não foi pouco, e você?
O episódio 23 marca a rota Pocket, com Nanami, que na verdade é a Umi maior e sem suas memórias. Ela volta no tempo para a época em que Shiroha ainda era criança, apenas um ano depois da perda dos pais, para ajudá-la a superar o trauma e encontrar a felicidade.
Impressões finais de Summer Pockets

Os últimos episódios mostram a força do conceito de Summer Pockets: memórias que ficam guardadas como fragmentos esquecidos no bolso. A narrativa brinca com loops temporais, lembranças perdidas e reencontros emocionantes, até chegar ao final.
>>> Alerta de spoiler!
O último episódio também foi de partir o coração com a longa despedida entre Umi e Shiroha, com Umi deitada no colo da mãe antes de desaparecer. Hairi finalmente ajuda a organizar o depósito com as coisas da avó e, mesmo com as mudanças na timeline, ele e Shiroha se encontram novamente graças a um avião de papel com as cores do arco-íris, símbolo da filha que existiu e não existiu.
Para quem ainda não conhece o material original, como eu, fica a dúvida sobre as rotas antes de chegar na Shiroha. Por que Hairi precisou interagir com as outras meninas antes de seguir o verdadeiro final? Faz sentido no jogo, talvez, mas como todas as peças se encaixam na adaptação?
Summer Pockets é um anime que exige paciência nos primeiros episódios, mas recompensa com uma narrativa emocionante, cheia de metáforas e sentimentos quando entra na reta final. A história fala sobre o valor das memórias e sobre como cada encontro, por mais efêmero, pode deixar marcas eternas. Apesar de algumas transições abruptas e ritmo desigual, a adaptação parece captar a essência da obra original.
Assim como os fragmentos do verão guardados em bolsos, o anime deixa lembranças que podem virar memórias eternas. Para quem gosta de histórias que misturam romance e mistério com motivos para sorrir e para chorar, Summer Pockets é simplesmente imperdível.
O ar melancólico lembra Atri: My Dear Moments, que mergulha nas águas profundas das relações humanas. *-*