
No Japão do período Edo, marcado por fortes tradições, conflitos internos e pela presença simbólica do espiritual na vida cotidiana, surgem narrativas que misturam história e fantasia de forma única. Kijin Gentoushou 「鬼人幻燈抄」 segue essa trilha ao nos transportar para um mundo onde o passado e o futuro se entrelaçam através da figura de um homem transformado em demônio, mas que nunca deixa de carregar sua humanidade.
Baseado na novel escrita por Nakanishi Motoo, o anime de 24 episódios abre espaço para reflexões sobre dever, perdas e a inevitável passagem do tempo — mesmo para quem é condenado à imortalidade. Embarca comigo?
Ficha técnica de Kijin Gentoushou
Anime: Kijin Gentoushou
Gênero: Ação, Aventura e Fantasia
Número de Episódios: 24
Estreia: 31 de março de 2025
Estúdio: Yokohama Animation Laboratory (The New Gate)
Adaptação: novel de Nakanishi Motoo
Após fugir com sua irmã Suzune no meio da noite, Jinta é acolhido pelos moradores da isolada vila de Kadono nas montanhas. Com o passar do tempo, ele se torna o guardião da sacerdotisa Itsukihime até o momento em que se depara com um demônio misterioso. Após o confronto, Jinta é amaldiçoado com a imortalidade e acaba testemunhando a destruição do vilarejo e a tragédia envolvendo Suzune. A partir daí, ele se torna Kadono Jinya e inicia uma longa jornada, atravessando séculos, protegendo pessoas e enfrentando demônios, enquanto lida com a dor da perda e o peso da eternidade.
Review de Kijin Gentoushou
No início, a proposta de Kijin Gentoushou chama a atenção por trazer um episódio inaugural de quase uma hora, como se fosse um curta-metragem. É uma introdução intensa, sinistra e tão imersiva que nos faz mergulhar de cabeça nos dilemas de Jinta — mais tarde conhecido como Jinya — após os trágicos incidentes que transformam o vilarejo em um palco de fatalidades. Com um pano de fundo histórico, a ambientação traz elementos que lembram Rurouni Kenshin 「るろうに剣心」 e Demon Slayer 「鬼滅の刃」.
Entre os pontos positivos, o anime se destaca por sua profundidade temática. A história não se limita ao clássico embate entre humanos e demônios. Ela explora luto, amadurecimento e reconciliação com o passado. No decorrer dos episódios, o protagonista ganha densidade, deixando para trás a postura rancorosa para encontrar serenidade após muitas provações.
>>> Alerta de spoiler!
Embora não seja tão focado no Jinya, um dos melhores episódios do ponto de vista narrativo é o 6º, trazendo revelações inesperadas sobre a origem do dono do restaurante de soba e sua filha oni: Ofuu. Outro bom exemplo é o 13, onde Jinya confronta o pai e Natsu acaba cortando relações ao descobrir sua verdadeira natureza, mas a cena mais marcante foi a despedida de Shirayuki — me lembrou Tidus e Yuna em Zanarkand de FFX.
O elenco coadjuvante, por sua vez, apresenta personagens que enriquecem a jornada de Jinya e oferecem diferentes perspectivas sobre amizade, amor e destino. O cuidado nos diálogos, que soam naturais e maduros, também merece menção, assim como a trilha sonora. Tanto as aberturas “Continue (コンティニュー)” da banda NEE e “Ash” da banda [Alexandros], quanto os encerramentos com “Senya Ichiya feat. Izumi Nakasone (HY) (千夜一夜 feat. 仲宗根泉 [HY])” do duo Hilcrhyme e “Enrin (円鈴)” do duo FAKE TYPE, reforçam a atmosfera entre o épico e o melancólico.
Pontos de melhorias
Apesar do início promissor, a obra enfrenta limitações evidentes. A principal crítica recai sobre a qualidade da animação, que começa com um ar quase cinematográfico, mas cai significativamente nos últimos episódios (o mais perceptível é o 22). Em alguns momentos, os traços parecem inacabados, especialmente em lutas ou detalhes de personagens.
As viagens temporais, embora conceitualmente interessantes, deixam a narrativa confusa. O recurso tem potencial de expandir a trama, como mostra o episódio 9 e todo o simbolismo por trás do Santuário Jinta. No entanto, também pode levar a desvios desnecessários, sem deixar espaço para uma conexão mais profunda com os personagens do futuro.
Além disso, sinto que a presença da Suzune era uma peça central do anime, mas ela acaba diluída ao longo da temporada, deixando parte da expectativa criada no início sem resolução. Talvez não fosse o foco da obra. Talvez tenha sido uma interpretação só minha.
Impressões finais

Para mim, Kijin Gentoushou é uma obra que mistura fascínio e frustração. Seu enredo carrega um potencial imenso, com reflexões maduras, um protagonista memorável e um elenco de apoio que sabe como deixar sua marca, mas sofre com limitações de produção e escolhas narrativas que me fazem questionar o propósito do anime.
Durante os primeiros episódios, a história rapidamente deixou sua marca e se tornou uma das minhas favoritas da temporada de abril. Seis meses depois, minha percepção mudou, mais por uma quebra de expectativa do que por qualquer outro motivo. Em vez de batalhas épicas ou uma resolução decisiva entre os irmãos, o roteiro opta por um tom reflexivo, marcado por despedidas, promessas cumpridas e o fechamento de ciclos. O último episódio apresenta um final sem cara de final.
Kijin Gentoushou é para quem prefere uma experiência diferente dos típicos animes de ação focados em batalhas. É uma jornada reflexiva, repleta de dor, crescimento e a eterna busca por redenção através da introdução de pequenos arcos e novos personagens.
Apesar de não estar inserido no contexto histórico, Fruits Basket tem uma história com início, meio e fim bem desenvolvidos.