
Histórias de fantasia que lembram RPG têm um charme especial. Mizu Zokusei no Mahoutsukai 「水属性の魔法使い」 nos convida a mergulhar em um mundo vasto, repleto de cenários deslumbrantes, magia e aquele clima de “aventura prestes a começar”. Com um protagonista que deseja uma vida tranquila, mas acaba sendo arrastado para lutas, conspirações e encontros que mudam seu destino, o anime mistura contemplação, humor leve e pitadas de ação em um pacote curioso: envolvente, porém frustrante.
Esse universo amplo de reinos mágicos, guildas e dungeons passa a impressão de que 12 episódios não são suficientes para nos dar a chance de explorar todo o conjunto por completo. E isso realmente se confirma. Com estreia no dia 4 de julho, a obra inspirada na light novel de Kubou Tadashi (história), Amano Hana e Nokito e Mebaru (arte) deixa um gostinho de quero mais ação, menos contemplação. Embarca comigo?
Ficha técnica de Mizu Zokusei no Mahoutsukai
Anime: Mizu Zokusei no Mahoutsukai
Gênero: Aventura e Fantasia
Número de Episódios: 12
Estreia: 4 de julho de 2025
Estúdio: Typhoon Graphics (Kanojo ga Koushaku-tei ni Itta Riyuu, Madougushi Dahliya wa Utsumukanai, Sengoku Night Blood, Douse, Koishite Shimaunda.) e WonderLand
Adaptação: light novel de Kubou Tadashi (história), Amano Hana, Nokito e Mebaru (arte)
Ryou renasce no mundo mágico de Phi para experimentar a paz de uma vida tranquila. Ele descobre ter afinidade com magia de água e uma rara habilidade chamada “juventude eterna”, que o mantém jovem enquanto o tempo passa. Apesar de sonhar com dias de calmaria, desde o seu encontro com Abel, ele acaba se envolvendo em batalhas perigosas e eventos que o empurram para o centro da história. Entre contemplação, descobertas e confrontos inesperados, Ryou parece ter um futuro bem mais agitado do que gostaria pela frente.
Review de Mizu Zokusei no Mahoutsukai
Os primeiros episódios de Mizu Zokusei no Mahoutsukai lembram a atmosfera contemplativa de Sousou no Frieren: um ritmo sereno e imersivo, uma trilha sonora envolvente e um protagonista que prefere levar a vida no seu próprio tempo — ainda que o destino insista em empurrá-lo para situações muito além da tranquilidade que desejava.
O anime acerta em criar uma experiência sensorial. A trilha sonora transmite a sensação de estar em uma sala de cinema, ampliando cada detalhe do mundo mágico de Phi, devagar e sem pressa. A magia da água, baseada na imaginação, é explicada de forma simples e encantadora, enquanto Ryou demonstra criatividade ao utilizá-la tanto no dia a dia quanto em situações de risco. Pequenos momentos do cotidiano, como provar curry ou conversar com novos amigos, tornam a experiência mais próxima e acolhedora.
É nesse início que o anime mais brilha, trazendo um world-building consistente e explorando a amizade de Ryou com Abel. O universo de Mizu Zokusei no Mahoutsukai parece se expandir a cada episódio, sempre com detalhes sobre suas dinâmicas e personagens.
Da contemplação à…frustração
A partir do quarto episódio, o clima muda. Conflitos maiores são apresentados, como a luta contra Leonore durante um eclipse ou a batalha no 40º andar da dungeon para salvar Abel, mais uma vez, de um destino trágico. Depois disso, só vemos Ryou em ação novamente no final em um confronto guiado por um mal-entendido.
E aí surge uma das minhas maiores frustrações: apesar de poderoso e carismático, Ryou é frequentemente colocado em segundo plano. Muitas vezes, enquanto ataques e crises acontecem, o protagonista está… na biblioteca ou caminhando com a elfa Sera, que, aliás, quase não aparece na história apesar de ser destaque na ending.
É difícil entender por que o roteiro insiste em deixá-lo de lado, quando há tanto potencial para explorá-lo em batalhas e relacionamentos com os outros personagens. Minha decepção não é com o protagonista, mas com a forma como sua jornada é conduzida.
>>> Alerta de spoiler!
Esse problema fica ainda mais evidente no penúltimo episódio. Mais da metade do tempo é dedicada a flashbacks de um personagem secundário que mal aparece. Oscar pode até ser importante lá na frente, como deu a entender no final, mas virar “protagonista”, deixando Ryou como um simples “mob” em um anime com apenas 12 episódios faz sentido para você?
E quando um atentado contra a princesa exige ação imediata, o que você acha que o Ryou estava fazendo? Se preparando para chegar derrubando todo mundo? Claro que não! Ele tem coisas mais importantes, como passar boa parte do tempo em uma fila para comprar comida. Hello? Que tipo de roteiro faz isso com seu próprio protagonista? Em um anime mais longo, dar espaço aos coadjuvantes ou arrastar cenas faz sentido, mas em uma temporada de apenas 12 episódios essa ausência não se justifica.
Impressões finais de Mizu Zokusei no Mahoutsukai
Ryou é um protagonista cheio de carisma, com uma personalidade sincera e divertida ao seu modo, além de extremamente poderoso com magia de água e até mesmo com a espada. Por que desperdiçar todo esse potencial, deixando ele como uma peça de figuração no palco de uma apresentação de teatro?
Ryou e Abel protagonizam a opening, mas só lutam juntos quando Ryou resgata Abel da morte no início da história. A elfa Sera é a protagonista solo da ending , mas suas cenas com o Ryou são limitadas — até mesmo suas aparições na história. Todos os personagens merecem mais do que o roteiro deixa acontecer. Eu cheguei ao último episódio com vontade de ver:
- Ryou em lutas intensas, mostrando todo o seu poder
- Ryou e Sera interagindo e se aproximando mais
- Ryou e Abel juntos em novas aventuras
>>> Alerta de spoiler!
Além da retomada do confronto do eclipse, que passou sem deixar qualquer vestígio dos próximos capítulos. Acho que até mesmo o Ryou queria ver mais, já que termina o episódio com a frase “たのしみです”, sua nova casa recém-comprada e promessas de que muita coisa ainda está por vir — passando bem longe do desejo de uma vida tranquila.
Da frustração ao…desejo de “quero mais”
A atmosfera contemplativa é um diferencial raro, assim como sua amizade com Abel, construída de forma sincera, rendendo momentos de parceria que fogem do clichê de haréns ou relacionamentos forçados. A opening “Blue Motion (ブルーモーション)” de Meiyo Densetsu (名誉伝説) empolga, enquanto ending “Tayutau Mama ni (たゆたうままに)” de Misaki (みさき) traz calma e deixa aquela vontade de assistir ao próximo episódio.
Mizu Zokusei no Mahoutsukai deixa sentimentos mistos. De um lado, a beleza visual, a música envolvente e a imersão contemplativa. De outro, o ritmo lento e a falta de protagonismo de Ryou fazem a obra perder impacto em momentos cruciais. Mesmo com as falhas narrativas, o gosto de “quero mais” ficou, já que o mago da água mais forte da história ainda tem muito a mostrar. Com ajustes de roteiro e mais foco no protagonista, essa história pode facilmente se transformar em uma das boas surpresas do gênero.
Um anime com uma vibe similar, menos contemplativa e com mais a mostrar é Teogonia. ˆ-ˆv