
Em um mundo que não teme se vestir de sombras para conduzir o espectador por um labirinto de enigmas, Lord of the Mysteries 「诡秘之主 小丑篇」 pode levar a muitos pontos de interrogação nos primeiros episódios do anime. Com uma atmosfera de estética vitoriana, alquimia, sociedades secretas e divindades ocultas, a obra não facilita para quem gosta de narrativas lineares e explicações rápidas. Entretanto, a experiência visual e atmosférica é tão poderosa que, mesmo perdido, você não consegue parar de assistir.
Inspirado pela novel de Ai Qianshui de Wuzei, o donghua (动画) é um convite para atravessar a névoa, onde Klein Moretti — o “Louco” — se torna o protagonista de uma história guiada por mistério, fantasia e suspense em sua forma mais pura. Embarca comigo?
Ficha técnica de Lord of the Mysteries
Anime: Lord of the Mysteries
Gênero: Ação, Fantasia, Mistério e Suspense
Número de Episódios: 13
Estreia: 28 de junho de 2025
Estúdio: B.CMAY PICTURES
Adaptação: web novel de Ai Qianshui de Wuzei
Inspirado na obra chinesa número 1 em popularidade, o anime transporta para as telas um universo vitoriano movido por um elaborado sistema de poder baseado no ocultismo. Zhou Mingrui desperta no corpo de Klein Moretti. Em uma cidade de máquinas a vapor, sociedades secretas e igrejas em constante disputa, ele descobre o caminho dos Beyonders — indivíduos que, ao ingerirem poções místicas, despertam habilidades sobrenaturais imensuráveis ligadas a “Sequências”.
Do choque inicial ao mergulho profundo nos rituais e conspirações, cada episódio expande esse universo de sombras e enigmas. Esta é a saga de um protagonista com potencial ilimitado, onde cada escolha pode revelar segredos… ou condená-lo à loucura.
Review de Lord of the Mysteries

Desde o início, o anime deixa um convite para desvendar os enigmas que cercam o universo de Lord of the Mysteries. Com quase 40 minutos de duração em alguns episódios, a forma como a história é conduzida parece nos levar para uma imersão dentro de um filme: estética cinematográfica, trilha sonora envolvente, personagens que instigam, mudança de ângulos da câmera e uma ambientação visualmente brilhante.
Em meio a mistérios carregados de complexidade, muitos conceitos ganham vida temas que conectam dimensões paralelas, transmigrações, cartas do tarô e os poderosos beyonders. Embora muitos permaneçam no escuro pelo ritmo acelerado em que tudo acontece, especialmente nos primeiros episódios, LOTM se transformou em uma das melhores companhias dos finais de semana.
Uma história que desafia a compreensão
Logo de cara, a trama apresenta uma cena impactante: o protagonista tenta acabar com sua própria vida. O que poderia ser apenas um choque inicial revela-se como a porta de entrada para um mundo denso, repleto de regras próprias. Klein, na verdade, é um homem do “mundo real” que desperta no corpo de alguém já inserido em uma realidade dominada pelos Beyonders — pessoas que consomem poções para liberar poderes sobrenaturais.
Cada Beyonder segue um caminho de sequências (Sequence Pathways), que vai da sequência 9 até a 0, sendo esta o ápice do poder, quase divino. A ideia é fascinante, mas o enredo despeja essas informações em meio a intrigas religiosas, segredos de organizações ocultas e até mesmo um misterioso “mundo da névoa” (Gray Fog) em que Klein assume uma persona quase divina — conhecida como The Fool (o “Louco)”.
Nos primeiros episódios, acompanhar esses elementos é como montar um quebra-cabeça sem saber a imagem final. Para quem gosta de narrativas claras desde o início, pode ser frustrante. No entanto, se você se permite mergulhar no caos e absorver aos poucos as pistas deixadas aqui e ali, a recompensa chega. Quando a história alcança o meio do caminho, os pontos finalmente começam a se conectar.
Personagens que evoluem além do arquétipo

Klein inicialmente parece apenas mais um protagonista típico: alguém comum jogado em um mundo extraordinário. No entanto, sua jornada passa por uma transformação. Aos poucos, percebemos seu crescimento emocional e sua preocupação genuína com os outros. O que começa como “fingir ser um deus misterioso” no mundo da névoa evolui para uma responsabilidade real de proteger vidas e assumir papéis que nunca imaginou.
Esse contraste entre “Klein humano” e “Klein divino” é uma das partes mais cativantes de Lord of the Mysteries. Mesmo quando está encenando a persona de uma entidade superior, conseguimos acompanhar seus pensamentos internos, repletos de dúvidas e improvisos. Esse toque humaniza o personagem, criando um protagonista complexo, vulnerável e imponente ao mesmo tempo.
Klein não é o único. Cada figura introduzida não é apenas parte do cenário, mas uma peça do tabuleiro que movimenta toda a engrenagem do mundo de LOTM. Dunn Smith é o capitão dos Nighthawks. Por trás da serenidade de suas atitudes se esconde um fardo compartilhado com os que já se foram.
Leonard Mitchell, um dos meus personagens favoritos, indica que tem os seus próprios dilemas para enfrentar apesar da imagem de confiança que passa. Seus poderes como beyonder ganham um dos visuais mais bonitos do anime. Azik Eggers é o misterioso mentor, que surge como sombra protetora, carregando segredos obscuros.
Animação: um espetáculo visual que prende
Um dos maiores triunfos de Lord of the Mysteries é, sem dúvida, a animação. O estúdio B.CMAY Pictures elevou o padrão visual. Cada frame parece pensado para ser digno de um wallpaper. A estética vitoriana ganha vida com a riqueza de detalhes em roupas, arquitetura e ambientes urbanos. Ao mesmo tempo, os cenários nebulosos e sombrios evocam uma aura lovecraftiana, reforçando o peso do desconhecido. O cuidado nos enquadramentos, os ângulos de câmera dinâmicos e os efeitos visuais criam uma sensação de imersão absoluta.
Cenas como a luta após o ritual de adivinhação no espelho ou os flashbacks de Azik são exemplos do poder estético de LOTM, lembrando o estilo gótico de Castlevania mesclado a elementos steampunk vitorianos. Os confrontos, aliás, são grandiosos, com coreografias criativas e efeitos que fazem os olhos brilharem. No conjunto da obra, Lord of the Mysteries provoca uma explosão de tensão e um espetáculo visual, justificando cada minuto investido no enredo até ali.
O ritmo é intenso, especialmente nos episódios iniciais. Informações e conceitos chegam como uma avalanche. A confusão causada após ser atingido por ela leva a uma sensação de desorientação que cria a névoa do mistério. Aos poucos, cada peça se encaixa e, quando as revelações surgem, o impacto é devastador.
Quem persiste até o fim é recompensado com revelações fortes e emocionantes, como no episódio 9, marcado por despedidas dolorosas e poéticas na forma em que são retratadas.
Trilha sonora que amplia imersão de LOTM

Não dá para falar de Lord of the Mysteries sem mencionar a escolha das músicas. O tema de abertura já desperta a sensação de que estamos assistindo a uma superprodução cinematográfica. A introdução transmite uma mistura de suspense e grandiosidade que define o tom da obra.
Em momentos-chave, a trilha sonora se funde ao visual de maneira orgânica — seja para aumentar a tensão de uma poção sendo ingerida, para intensificar o peso emocional de uma revelação ou elevar uma cena de luta ao status de espetáculo. É aquele tipo de trilha que fica na memória, mesmo depois que o episódio termina.
E o encerramento ao piano com “Dark Dream” (Curley Gao) é o ápice para fechar cada episódio de um jeito ainda mais magistral, hipnótico e inesquecível.
Momentos mais marcantes (sem spoilers pesados)
Desde o primeiro episódio, Lord of Mysteries já mostra sua ambição cinematográfica. A forma como a câmera se movimenta, os efeitos sonoros, a trilha e os ângulos de cena criam uma imersão digna de sala de cinema, enquanto conceitos do seu universo vão sendo apresentados. Por mais confusa que pareça, essa introdução marca.
A riqueza visual também se reflete em pequenas escolhas de direção que potencializam a narrativa. Um exemplo memorável é a cena em que o sol se esconde atrás da janela e cobre o rosto de Azik no instante em que ele adverte Klein com um simples “tome cuidado”. O contraste entre luz e sombra intensifica a sensação de ameaça, dando um tom ainda mais sinistro ao aviso. Afinal, para quem ainda não leu a novel, como eu, as intenções de Azik ainda são desconhecidas.
O episódio que revela mais sobre o passado de Azik é um espetáculo de imersão, com sangue respingando na “lente da câmera” e ângulos em primeira pessoa que ampliam a sensação de realismo. Esse estilo vitoriano com pitadas de steampunk reforça a vibe Castlevania, especialmente na cena dos corpos empalados, que pode ser uma referência à figura de Vlad, o Empalador.
>>> Alerta de spoiler!
Os episódios finais são os mais emocionantes. O nono já entrega uma carga dramática pesada, com a despedida de Old Neil em uma cena poética e dolorosa, que me fez chorar junto com os personagens. Mas é no último episódio que o impacto atinge o auge: as lágrimas são inevitáveis em meio a uma batalha intensa contra Megose, marcada por perdas, sacrifícios e recomeços para Klein, Dunn e Leonard. É a síntese perfeita do que o donghua constrói desde o início: uma narrativa densa e repleta de camadas, que se revela tão grandiosa quanto dolorosa.
Ver ou não ver, Lord of the Mysteries é para você?
Por ter suas próprias peculiaridades e complexidades, este donghua não é feito para todos. A história vai agradar principalmente quem curte tramas cheias de mistérios complexos, estética sombria, visuais sofisticados e não se importa em ficar confuso nos primeiros episódios. É para quem gosta de narrativas que desafiam, exigem atenção e interpretação ativa
Se você prefere histórias diretas e com explicações claras desde o início, sem uso de CGI ou simbolismos ou quer apenas um entretenimento leve e descontraído, talvez Lord of Mysteries não seja sua melhor escolha.
Roadmap: o futuro de Lord of the Mysteries promete
O palco para Lord of the Mysteries está montado! Durante o Tencent Video Anime Awards Annual Conference, entre os dias 9 e 10 de agosto de 2025, foram revelados planos ousados para uma década inteira de LOTM. Com o objetivo de adaptar toda a novel, a obra já tem 10 anos de lançamentos confirmados, incluindo especiais, novas temporadas e até um filme:
- 2025: 1ª Temporada (O Palhaço)
- 2026: 1º Episódio Especial
- 2027: 2ª Temporada (Sem Rosto, ~30 episódios)
- 2029: 2º Episódio Especial
- 2030: 3ª Temporada (O Viajante)
- 2032: 4ª Temporada (Os Imortais)
- 2033: 5ª Temporada (O Padre Vermelho)
- 2034: 6ª Temporada (O Vidente da Luz) + 7ª Temporada (O Enforcado)
- 2035: Filme de O Tolo + 3º Episódio Especial
Esse compromisso de longo prazo mostra o quanto Lord of the Mysteries está sendo tratado como uma obra monumental.
Impressões finais de Lord of the Mysteries

Lord of the Mysteries pode ser confuso, até caótico, mas também tem poder de sobra para hipnotizar. Sua mistura de horror cósmico, estética vitoriana e clima sombrio cria uma identidade única dentro do mundo dos donghua. Se o ritmo pode parecer veloz, ele compensa ao oferecer momentos marcantes, personagens densos e um universo rico que recompensa a atenção aos detalhes.
A narrativa de LOTM exige esforço para ser acompanhada, mas quando as peças finalmente se encaixam, a experiência se revela recompensadora. Com animação visualmente brilhante, trilha sonora envolvente e um roadmap ambicioso, esta obra se destaca como uma das produções mais memoráveis do gênero. Se o “Louco” é o arquétipo da jornada sem limites, esse anime é a prova de que estamos apenas no começo de algo grandioso.
Para quem busca uma história fora do comum, que desafia tanto sua paciência quanto sua imaginação, Lord of the Mysteries merece estar na sua lista. E tem todos os elementos para ser um dos melhores animes de 2025, além de um marco do gênero, com uma trilha que promete se tornar lendária pelos próximos anos.
Por falar em lenda, Solo Leveling também deixou o hype nas alturas com a evolução de Jinwoo.