Entre véus de seda e conspirações disfarçadas atrás de sorrisos, onde as paredes sussurram segredos e venenos silenciosos circulam entre os corredores da corte imperial, uma jovem apotecária observa tudo com olhos curiosos e uma mente afiada. Em Kusuriya no Hitorigoto 「薬屋のひとりごと」, também conhecido como The Apothecary Diaries, Maomao se move como uma peça invisível no tabuleiro do poder — onde um suspiro errado pode significar o fim.
É ali, entre ervas secas, frascos de vidro e ingredientes exóticos, que ela transforma conhecimento em arma para resolver os mistérios que rondam o palácio — e satisfazer seu fascínio por medicamentos, poções e venenos. Embarca comigo?
🏮 Ficha técnica de Kusuriya no Hitorigoto
Anime: Kusuriya no Hitorigoto (The Apothecary Diaries)
Gênero: Drama e Mistério
Número de Episódios: 24 (S1) + 24 (S2)
Estreia: 22 de outubro de 2023 + 10 de janeiro de 2025
Estúdio: TOHO Animation / OLM
Adaptação: light novel de Hyuuga Natsu (história) e Shino Touko (arte)
Ao lado de seu pai adotivo, Maomao vive uma vida simples como apotecária até o dia em que é sequestrada e vendida como criada para o palácio imperial. Inteligente, cética e absurdamente observadora, ela tenta passar despercebida para sobreviver em silêncio. Mas quando começa a notar padrões estranhos em doenças e mortes súbitas entre as consortes, sua curiosidade a arrasta para o centro de um jogo muito mais complexo.
Seu caminho cruza com Jinshi, o belíssimo e enigmático funcionário do palácio, que vê em Maomao uma peça rara: talvez perigosa, talvez preciosa. Promovida à dama de companhia (provadora de venenos) da concubina favorita do imperador, ela se vê no meio de disputas entre as concubinas e em uma intrincada rede de conspirações, assassinatos silenciosos e jogos de influência.
Entre diagnósticos precisos, manipulações sutis e intrigas imperiais, Maomao se transforma na peça mais perigosa de um tabuleiro onde até os imperadores podem ser dispensáveis.
Review de Kusuriya no Hitorigoto
A primeira temporada é o despertar do jogo: casos episódicos com um arco maior de descobertas e relações que crescem conforme a história avança. Maomao ganha fama no palácio ao resolver mistérios envolvendo medicina, como envenenamentos, infertilidade e até assassinatos escondidos sob véus de etiqueta.
Seu humor seco e desinteresse aparente contrastam com a presença magnética de Jinshi, um oficial imperial dono de uma beleza que esconde muito mais do que adereços nobres.
É nessa tensão, entre o veneno nos corredores e o charme ambíguo das relações, que Kusuriya no Hitorigoto constrói sua força. Cada episódio é como uma dose de chá de ervas raras: às vezes amarga, às vezes doce, mas sempre precisa — revelando camadas de sabor a cada gole.
Na segunda temporada, o sabor se intensifica. Os casos pontuais ainda existem, mas servem mais como véus para o que realmente está em jogo: política de sucessão, segredos de sangue e o passado oculto de peças importantes do tabuleiro (com mais a revelar do que aparentam).
O destaque aqui não está apenas no que é resolvido, mas no que transparece nas entrelinhas. E cada personagem novo — como a astuta Shisui ou o excêntrico Lakan — adiciona mais pistas aos mistérios e conspirações que rondam a esse império tão belo quanto perigoso.
Um elenco memorável e uma protagonista peculiar
Maomao é, sem dúvida, uma das protagonistas mais interessantes dos últimos anos: aparentemente indiferente, excêntrica, cética e extremamente competente. E o mais importante, nunca idealizada. Ela não sonha em mudar o mundo. Ela só quer ajudar o pai, ter uma vida tranquila no palácio (na medida do possível) e, quem sabe, estudar ervas, ingredientes exóticos e venenos que encontra no caminho.
A construção narrativa é um dos pontos mais fortes de Kusuriya no Hitorigoto. Cada caso resolvido por Maomao, mesmo que pareça isolado, se conecta com algo maior. Apesar de ser a mente brilhante por trás da resolução dos mistérios, ela não se apresenta como heroína ou mártir. É apenas alguém tentando sobreviver em um mundo onde o status e a posição de uma mulher podem influenciar sua vida de formas negativas. A inteligência é sua proteção, mas também pode atrair olhares maliciosos.
Mesmo com toda a tensão do palácio, o anime é surpreendentemente divertido. A personalidade direta da Maomao, seu desinteresse por frivolidades, sua obsessão por venenos e seu senso de humor seco são um deleite constante.
Já Jinshi, seu improvável par, é um mistério por si só: belo demais para o seu próprio bem e com um segredo que vai se revelando como o aroma lento de um incenso proibido. O charme dos protagonistas se estende para o restante do elenco: concubinas, criadas, nobres e médicos — todos com histórias, traumas e vozes próprias. Não há figurantes em The Apothecary Diaries, todos, de uma forma ou de outra, são peças de um jogo maior.
Do visual à trilha sonora, beleza em cada detalhe
A arte é belíssima. As cores são sóbrias, os figurinos ricamente desenhados, os cenários projetam o luxo sufocante da corte imperial. A animação se mantém fluida e consistente do início ao fim, ao longo de seus 48 episódios. O uso de sombras e ângulos fechados durante cenas de tensão intensifica a sensação de claustrofobia do palácio: uma prisão dourada.
As aberturas e encerramentos são verdadeiras pérolas sonoras, especialmente o primeiro par formado por “Hana ni Natte (花になって)” da banda Ryokuoushoku Shakai e e “Aikotoba (アンビバレント)” da cantora AiNA THE END, até o episódio 12 da 1ª temporada. A segunda metade abre com “Ambivalent (アンビバレント)” da Uru e “Ai wa Kusuri (愛は薬)” do grupo wacci.
A trilha de fundo, embora discreta, acompanha bem as mudanças de tom entre os momentos mais leves aos sombrios, além da música típica que começava a tocar sempre que Maomao analisa um caso. Não é o tipo de trilha que você vai assobiar por aí, mas cumpre com excelência o papel de fortalecer a imersão.
Para a segunda temporada, a opening mantém o impacto — talvez um pouco menor mas ainda marcante por anunciar o aguardado retorno do anime — com “Hyakka Ryouran (百花繚乱)” de Lilas Ikuta. E a ending “Kusushiki (クスシキ)” da banda Mrs. GREEN APPLE também marca.
Na outra metade, troca para “Shiawase no Recipe (幸せのレシヒ)” de Hirai Dai adota um tom mais suave na abertura, acompanhada por “Hitorigoto (ひとりごと)” da banda Omoinotake com um toque emotivo no encerramento. Um sussurro solitário que encapsula a essência de Kusuriya no Hitorigoto: o que Maomao não diz, mas sente.
Todas as peças na mesa para o checkmate
Após os eventos da primeira temporada, os enigmas vistos como casos independentes à primeira vista começam a se entrelaçar, levando a uma trama muito maior do que todos esperavam. A segunda temporada de Kusuriya no Hitorigoto não é uma continuação no sentido tradicional. É um refinamento que nos leva ainda mais fundo aos mistérios do palácio.
O enredo ganha contornos cada vez mais políticos. Cada episódio carrega pequenas pausas, olhares mais longos, dúvidas internas que nunca chegam a virar confissões. E todas as peças desse jogo de xadrez assumem suas posições no tabuleiro, à espera do checkmate.
No meio de tudo isso, Maomao, tão hábil em decifrar sintomas e envenenamentos, começa a descobrir algo muito mais letal: a responsabilidade de saber demais e as consequências das suas escolhas. É como se ela tivesse deixado para trás o conforto do “caso da semana” para entrar no perigoso território das consequências.
A relação com Jinshi se aprofunda por meios inesperados. A imagem do príncipe intocável começa a ruir à medida que segredos sobre sua origem vêm à tona. É curioso como ele se torna mais real conforme se afasta do ideal.
>>> Alerta de spoiler!
Depois que sua identidade é revelada, Jinshi não consegue mais se segurar quando está perto da Maomao, mas por que sempre tem alguém por perto para interromper na melhor parte? Maomao também é atenciosa com ele, mas ainda sem deixar claro, ao menos para mim, como realmente se sente em relação a ele. Descansar no colo dela foi seu prêmio de consolação. xD
Maomao parece prestar mais atenção nele, com um olhar de cuidado e sem julgamentos. Sua “frieza” começa a rachar em momentos inesperados. E agora ela sabe que há perguntas que, uma vez feitas, nunca mais nos deixam em paz.
Impressões finais de Kusuriya no Hitorigoto
The Apothecary Diaries dispensa batalhas épicas ou poderes místicos para capturar sua atenção. A história vence pela inteligência de seus diálogos, pela composição delicada de seus cenários, pelo carisma peculiar de seus personagens, pela tensão que deixa no ar, pelas pistas reveladas em pequenas doses de mistério e pela escolha de mostrar em vez de explicar.
O anime é um convite a observar com mais cuidado: a forma como um chá é servido, a leve mudança no rosto de uma concubina, a ordem com que os pratos são trazidos à mesa. Tudo tem significado. Tudo tem um propósito. E é nesse ambiente de aparências calculadas que Maomao se move, como uma flor que floresce apesar dos venenos à sua volta.
>>> Alerta de spoiler!
Lembrei do episódio 21 da segunda temporada quando ela é trancada em um tipo de calabouço com um baú cheio de bichos peçonhentos. Na verdade, não foi ela que ficou presa com os bichos…foram eles que ficaram presos com ela, né? 😂
Algumas revelações são irreversíveis. Algumas decisões custam caro. E às vezes, a coisa mais difícil de fazer não é agir, é aceitar. É uma história que exige atenção e paciência, mas que recompensa com personagens complexos, dilemas reais e uma ambientação de tirar o fôlego.
>>> Alerta de spoiler!
No episódio 22, Jinshi vai para a guerra e, depois de passar uma boa parte separado da Maomao, consegue salvá-la. O reencontro dos dois foi tão simbólico, com ela pedindo que alguém conhecido aparecesse pela porta. E quem é o primeiro a aparecer? Ele! Melhor impossível. Só não deu para contar o segredo sobre sua verdadeira identidade, porque a presença dele confirmou as peças que faltavam. Só faltou ele se apresentar como Ka Suigetsu.
Um veneno (no bom sentido) irresistível
Kusuriya no Hitorigoto é como um frasco de elixir proibido: estranho à primeira vista, mas impossível de largar depois da primeira dose. Com suas intrigas palacianas, uma protagonista afiada e enredo envolvente, o anime entrega duas temporadas sólidas, maduras, encantadoras e incrivelmente bem animadas (cenários detalhados da época da China Imperial, brilho nos olhos dos personagens, movimento dos cabelos, delicadeza no toque das mãos). É quase impossível dizer qual é a melhor.
>>> Alerta de spoiler!
Uma das cenas mais bonitas entre os 48 episódios vem com as revelações da Louhan/Shisui. Ela não apenas movimenta todas as peças do tabuleiro a seu favor, como também “se despede” com aquela dança cinematográfica embalada por uma música linda que se silenciou quando ela foi atingida pelo tiro e caiu.
Mas o episódio final nos mostrou ela viva e bem! Sabia que ela ia sobreviver pelo brilho sutil no meio dos arbustos depois da queda dela no penúltimo episódio. Será que teve um simbolismo para representar sua libertação: Louhan morreu para a Shisui viver? Que personagem carismática, apesar de misteriosa! Só não gostei que trocou o enfeite de cabelo que a Maomao ganhou do Jinshi e deixou com ela para quando se reencontrassem. Será que tem chance desse enfeite voltar para as mãos da Maomao?
Com duas temporadas concluídas, Kusuriya no Hitorigoto se firma como um dos animes mais completos dos últimos anos, ao lado de Solo Leveling e Sousou no Frieren. O final da 2ª temporada não apenas amarra o que veio antes, mas planta sementes para a nova fase — já confirmada em um lindo trailer com as vozes dos nossos queridos protagonistas. Que venha a próxima dose de Maomao e Jinshi! ❤
Me conta aqui nos comentários o que você achou! Já viu tudo ou ainda nem começou? ˆ-ˆv
Hasta La Tour 