
No universo dos K-Dramas, onde sonhos e melodias frequentemente se entrelaçam, Spring of Youth (사계의 봄) surge como uma promessa de frescor para a primavera da juventude, embalada por trilhas sonoras envolventes que logo conquistaram o coração. Uma estreia cheia de potencial para florescer de uma forma tão linda quanto a estação mais florida do ano, mas tomada pelas imperfeições que o roteiro deixou escapar.
No início, a ambientação na universidade, o protagonismo da música e a doçura no tom em que a história de Sa Gye, Kim Bom, Tae-Yang, Jin-Gu e Gyu-Ri é contada, torna a premissa irresistível. Parece até uma combinação de Twinkling Watermelon com Lovely Runner. Mas não é. Passa bem longe disso. E o que começa como uma admiração, termina em desencanto. Embarca comigo?
Ficha técnica de Spring of Youth
Série: Spring of Youth (사계의 봄)
Gênero: Música, Romance e Juventude
Número de Episódios: 16
Estreia: 7 de março de 2025
Direção: Kim Won-Suk
Roteiro: Im Sang-Choon
Elenco principal: Ha Yoo-Joon (Sa Gye), Park Ji-Hu (Kim Bom), Lee Seung-Hyub (Seo Tae-Yang), Kim Sun-Min (Kong Jin-Gu), Seo Hye-Won (Bae Gyu-Ri) e a lista completa
Sa Gye (Ha Yoo-Joon) é forçado a trocar os palcos pela vida universitária após ser abruptamente expulso da The Crown, a maior banda de K-pop do momento. Atraído por uma melodia que toca em seus sonhos, ele conhece Kim Bom (Park Ji-Hu), uma estudante de música que já compôs canções para sua agência e abandonou seu sonho de estudar nos Estados Unidos após perder a mãe. Unidos pela música, eles formam uma nova banda ao lado do guitarrista e rival romântico Seo Tae-Yang (Lee Seung-Hyub), o divertido Jin-Gu e a extrovertida Gyuri.
Review de Spring of Youth
Assim como o charme das flores, à primeira vista, Spring of Youth encanta. No início, parece aquele tipo de K-Drama levinho para relaxar no fim do dia. Seus personagens são vibrantes e cheios de carisma. A música assume o protagonismo, indo além da trilha sonora e com um poder de atração tão forte como um buquê perfumado. Além disso, os dilemas emocionais carregam um grau de leveza que dosa os níveis de drama do mistério envolvendo sonhos, uma melodia familiar e um segredo
A presença de rostos conhecidos — como Lee Seung Hyub do N.Flying (엔플라잉), além de meções a CNBLUE (씨엔블루) e das participações especiais de Lee Hong Ki do FTISLAND (에프티 아일랜드), Jung Hae In, Rowoon e até a novata Wonhee do ILLIT (아일릿) — contribui para ampliar o charme do K-Drama. E, claro, a música “See You Later” da fictícia Two Sa Gye (투사계), um dos pontos altos da série coreana.
E por falar nela, The Crown começa com Sa Gye, Cru e Kim Shin — trio da banda AxMxP (에이엠피), que ainda não fez sua estreia oficial, e Seo Dong-Sung (do N.Flying, assim como Lee Seung Hyub).
No entanto, conforme os episódios avançam, a primavera começa a esfriar. O roteiro, que parecia promissor, entra no clima do inverno e se perde em reviravoltas mal resolvidas, personagens rasos e plots que surgem sem justificativa ou desenvolvimento adequado.
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O elemento de fantasia, envolvendo um transplante de olhos que permite a Sa Gye acessar as memórias da mãe de Bom, não parece surreal demais? É quase como uma tentativa desesperada de adicionar profundidade a uma história que não se sustenta por si só. A curiosidade pelo mistério se dissolve, não apenas pelo tom milagroso, mas também pela enrolação da história para alcançar um desfecho.
As flores não crescem sem água
Parece óbvio? Mas é isso que faltou para extrair mais brilho dos personagens. As brechas no roteiro de Spring of Youth se estendem até o elenco. Sa Gye é como uma planta quando recebe água demais. No início, sua personalidade brilhante e otimismo inabalável conquistam. Fica fácil se conectar a ele, mas tudo que não tem moderação pode causar danos negativos. Toda aquela energia transbordando começou a cansar.
Seu relacionamento com Kim Bom carece de evolução emocional. Algumas regas a mais poderiam resolver o problema e ajudar o casal a florescer. Suas atitudes contraditórias e diálogos simplórios tornam difícil torcer por seu final feliz.
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Se o primeiro encontro dos dois — em um cenário que me lembrou de Extraordinary You — teve um tom quase mágico com a música guiando ele até onde ela estava, o último não mostrou química. Em tom de cobrança, Bom pergunta por que Sa Gye não entrou em contato depois que ela foi para os EUA. Mas quem foi que disse que não conseguia olhar nos olhos dele?
E o rival, como fica? Mesmo sem interesse romântico por Tae Yang — que despertou em mim a síndrome do second lead já no primeiro episódio — Bom poderia ter sido uma pouco mais delicada com ele em consideração a tudo o que ele fez por ela quando sua mãe partiu.
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Primeiro, ao invés de agradecer os sentimentos dele, Bom diz palavras duras, sem qualquer carinho na escolha. Brechas no roteiro deixam algumas cenas ainda mais estranhas, como quando Tae-Yang se recupera do choque após salvar o Sa Gye e deixa o hospital. No dia anterior, Bom estava super preocupada com ele. Aí dois anos se passam, sem qualquer interação entre os dois. E o próximo reencontro só acontece por acaso na rua.
Síndrome de second lead não é pretexto
Minha torcida por Seo Tae-Yang pode até ser levemente tendenciosa. Afinal, se não fosse por ele, eu provavelmente deixaria Spring of Youth passar. Mas deixando as preferências de lado, ele brilha como o segundo protagonista: sensível, contido e complexo. Sua trajetória, no entanto, também sofre com a falta de conclusão — e de mais água para crescer. Seu personagem merecia mais do que recebeu.
>> Alerta de spoiler!
No início, ele sofre de formas exageradas nas mãos do pai. Quando consegue se libertar, mesmo que parcialmente, a banda onde ele tocava ao lado de Bom vê um outro guitarrista sendo forçado para dentro dela e, posteriormente, ele é praticamente expulso. Para piorar, seu amor por Bom parece ser ignorado. Sinto que faltou uma conclusão melhor para que ele pudesse seguir em frente. Seu final é triste, vazio e deixado à mercê de interpretações vagas, mesmo sendo um dos personagens mais consistentes (e o meu preferido).
Lee Seung Hyub mostrou uma das melhores atuações da série, mas sofreu com a falta de aprofundamento que o roteiro deixou de dar ao seu personagem.
Impressões finais de Spring of Youth

Quando estava no auge da primavera, Spring of Youth foi um dos meus K-Dramas favoritos pelo protagonismo da música em relação a outros K-Dramas do gênero, pela participação do Lee Seung Hyub e pela vibe meio Twinkling Watermelon e Lovely Runner. No meio da estação, a produção tropeçou na execução narrativa. Além da falta de aprofundamento do trio principal, personagens secundários como Gyuri e Jin-Gu tiveram seu potencial desperdiçado.
Subtramas como a verdadeira identidade de Jin-Gu, a banda universitária e até mesmo um envolvimento maior da Bom com a música (que perde o foco para outro plot) foram deixadas de lado, enquanto situações que deveriam ser emocionantes (no final, diga-se de passagem) acabam soando forçadas ou incoerentes.
Ainda assim, Spring of Youth tem seu valor. É refrescante (no começo), visualmente bonita e embalada por uma trilha sonora memorável. Para quem busca um K-Drama sem compromisso, com um ou outro momento doce, pode ser uma boa companhia. Mas para quem esperava profundidade, consistência e personagens bem desenvolvidos, talvez reste apenas a sensação de uma primavera que não floresceu por completo.
Entre as estreias do ano, Our Unwritten Seul trouxe um dos roteiros mais consistentes e mais marcantes.