
Há séries coreanas que nos fazem rir, outras que nos fazem chorar, e algumas que, como um bilhete esquecido dentro de um livro antigo, nos tocam de forma silenciosa, mas profunda. Our Unwritten Seoul (미지의 서울) é uma dessas histórias. Um K-Drama que fala baixinho, mas deixa ecos sobre batalhas internas, reencontros com nós mesmos, o conforto que vem do apoio das pessoas ao nosso redor e os começos depois de uma página virada.
O K-Drama da tvN estreou em 24 de maio e chegou ao último de seus 12 episódios no dia 28 de junho. Park Bo-Young interpreta, com sensibilidade e nuances comoventes, as gêmeas idênticas Yu Mi-Ji e Yu Mi-Rae. O protagonismo é dividido com Jinyoung, como o introspectivo advogado Lee Ho-Su, e Ryu Kyung-Soo, que rouba a cena com leveza e carisma. Vem comigo?
Ficha técnica de Our Unwritten Seoul
Série: Our Unwritten Seoul
Gênero: Drama
Número de Episódios: 12
Estreia: 24 de maio de 2025
Direção: Park Shin-Woo
Roteiro: Kim Bo-Tong, Yoo Seung-Hee
Elenco principal: Park Bo-Young (Yu Mi-Ji/Yu Mi-Rae), Jin Young (Lee Ho-Su), Ryu Kyung-Soo (Han Se-Jin) e a lista completa
Yu Mi-Ji e Yu Mi-Rae (Park Bo-Young) são irmãs gêmeas idênticas apenas na aparência. Enquanto Mi-Ji vive reclusa, tentando colar os cacos de um sonho esportivo que não se realizou, Mi-Rae opta pelo silêncio para sobreviver em uma grande empresa do mercado financeiro. Uma vida perfeita para quem vê de fora, mas cheia de problemas e abusos do lado de dentro. Quando o peso de ser “bem-sucedida” se torna insustentável, Mi-Rae aceita trocar de lugar com Mi-Ji temporariamente.
Review de Our Unwritten Seoul
A premissa de Our Unwritten Seoul pode parecer simples à primeira vista, mas a história mergulha em camadas muito mais profundas em busca de cura, propósito e aceitação. Mi-Ji, que já foi um prodígio no atletismo, carrega as cicatrizes de um sonho interrompido sem perspectiva de alcançar a linha de chegada. Já Mi-Rae se rende a uma rotina sufocante no trabalho para corresponder às expectativas que recaem sobre ela, guardando dentro de si todos os conflitos internos que, aos poucos, absorvem a sua vontade de viver.
A luta diária de cada um
As batalhas que Mi-Ji e Mi-Rae enfrentam diariamente também estão presentes na vida de outras personagens (e nas nossas). Apesar de estar sempre com um sorriso no rosto e pronto para ajudar, Lee Ho-Su é o retrato de alguém que carrega o passado como um fardo invisível. Ele vê os cuidados da sua mãe Yeom Bun-Hong (Kim Sun-Young) como obrigação, não como um desejo genuíno pela família.
Kim Ok-Hui (Jang Young-Nam), a mãe das gêmeas, vive em conflito silencioso com a mãe Kang Wol-Sun (Cha Mi-Kyung) pelo sentimento de culpa sem saber como ela realmente se sente. Esses e outros personagens são retratados de forma realista, com problemas reais e que mostram como a nossa percepção nem sempre corresponde às coisas como elas são.
Até mesmo personagens secundários como Kim Ro-Sa (Won Mi-Kyung) e Lee Chung-Gu (Lim Chul-Soo) deixam uma forte impressão.
>> Alerta de spoiler!
Quando o passado de Ro-Sa, que na verdade é Hyeon Sang-Wol, é revelado no episódio 10, fica mais fácil entender sua postura defensiva e constantemente desconfiada. Com Mi-Ji e Ho-Su, ela vai se abrindo aos poucos e até aprende a ler. Já Chung-Gu, mesmo com seus métodos questionáveis em alguns processos, encontra redenção no último episódio ao ajudar no caso da Mi-Rae.
A beleza está nos detalhes
Our Unwritten Seoul é um K-Drama sobre dor, mas sobretudo sobre superação. Essas barreiras que se desfazem ao longo do caminho ganham força nos detalhes. Nos silêncios entre os diálogos. Nas cenas que misturam o passado e o presente. Nos pequenos gestos que levam a grandes decisões.
>> Alerta de spoiler!
Ao correr o risco de perder a audição, Ho-Su aprende a linguagem de sinais e começa a perceber que talvez o mundo que ele conhece esteja mudando, de forma irreversível, mas também cheia de possibilidades. Depois de anos trancada em um quarto e trocando de emprego sem uma direção certa, Mi-Ji encontra propósito na escuta empática e decide estudar Psicologia.
Uma das minhas cenas preferidas é quando Mi-Ji se dá conta de tudo o que ouviu, mas preferiu ignorar enquanto se fechou para o mundo e para as pessoas ao seu redor dentro do quarto. Ela acaba usando as mesmas palavras para convencer Ho-Su a deixá-la ficar ao seu lado depois que ele descobre sobre a possível perda da audição. A forma como as cenas entre presente e passado são intercaladas amplia o peso emocional do diálogo e da situação.
A série aborda temas sensíveis: depressão, bullying no trabalho, deficiência auditiva, saúde mental e pressões sociais. Tudo tratado com respeito, sem melodrama excessivo. Há ali um subtexto que grita nas entrelinhas: nem sempre conhecemos a dor do outro, mesmo que ele more na casa ao lado, mesmo que divida o mesmo rosto.
O amor não é sobre vencer ou perder
As relações românticas também fogem do convencional. Cada uma tem uma vibe diferente. Nada de grandes gestos. Aqui, amar é esperar o outro atravessar a noite. É ficar por perto ou sentar do lado, até quando não há troca de palavras. É apoiar mesmo no silêncio.
Apesar das personalidades diferentes, Mi-Ji e Ho-Su se complementam e aprendem um com o outro a andar de mãos dadas. Mi-Rae e Se-Jin se aproximam meio que de um jeito desajeitado, mas ao mesmo tempo fofo, e se apoiam no tempo deles.
O mesmo vale para os relacionamentos familiares e entre amigos. Após uma conversa sincera, Ho-Su finalmente enxerga os sentimentos da mãe e, aos poucos, vê esse fardo perder peso até desaparecer por completo. Quando o atrito silencioso entre Ok-Hui e Wol-Sun é quebrado, a parede que as separava se desfaz. As mães do Ho-Su e das gêmeas também se abrem mais uma com a outra e se aceitam, enquanto Ro-Sa deixa Mi-Ji e Ho-Su se aproximarem.
“Love is not about winning or losing, it’s about remaining in the same team until the very end even if you lose. Love is about staying together even if you lose a hundred or a thousand times.” Essa é uma das frases mais marcantes de Our Unwritten Seoul entre tantas outras e talvez seja a definição mais honesta de amor (em todos os sentidos) que já vimos em um K-Drama.
Impressões finais de Our Unwritten Seoul

Essa dinâmica de trocar de lugar lembra Dear Hyeri (나의 해리에게), embora aqui sejam duas irmãs se apoiando. E lá, era uma questão de mudança de personalidade. Ao contrário de Dear Hyeri que deixa um sentimento de decepção pela falsa sensação de redenção, Our Unwritten Seoul reserva para cada personagem a oportunidade de se redimir e seguir em frente.
>> Alerta de spoiler!
Os dois episódios finais são os meus preferidos. O primeiro é marcado por reconciliações, enquanto o segundo vem para mostrar que após o fim há um novo começo.
“Yesterday is over. Tomorrow is yet to come. But today is yet unknown.” Depois que a Mi-Ji finalmente abre a porta que manteve fechada por tanto tempo, outra cena deixa um forte impacto emocional: a despedida simbólica da avó. Antes de partir, ela se despede como se estivesse indo viajar, mas promete retornar em forma de nuvem ou pássaro. E a promessa é cumprida!
Já o último episódio é de recomeços: Mi-Rae cuida da fazenda e cria um blog sobre investimentos, Se-Jin volta para a Coreia do Sul e encontra ela no meio da multidão, Ho Su aprende a linguagem dos sinais, Mi-Ji descobre um novo sonho na universidade. Me identifiquei muito com a narração do início sobre não derrotar o chefão final para não acabar um jogo ou não ler o último volume de um mangá para a história não acabar.
Não podemos voltar atrás, porque estamos sempre seguindo em frente. E se o fim é um novo começo, a série nos lembra que recomeçar pode ser assustador, mas também pode ser a coisa mais corajosa que fazemos. Assim, Our Unwritten Seoul termina como um dos meus K-Dramas favoritos do ano até agora.
Ao lado dele, When Life Gives You Tangerines segue no topo do ranking. Já conferiu? ˆˆ