
Imagine reviver os dias quentes do verão, repetidamente, em um ciclo que não parece ter fim e em um lugar que não parece real. E, ao que tudo indica, tudo é uma recriação do que um dia foi a Cidade Murada de Kowloon. Envolto por memórias do passado e arrependimentos, Kowloon Generic Romance 「九龍ジェネリックロマンス」 propõe um mergulho misterioso em um verão que insiste em não terminar.
Baseado no mangá de Mayuzuki Jun, o anime estreou no dia 5 de abril. Apesar de sinalizar faíscas para um romance, a história se apoia muito mais em deixar pistas sutis para desvendar o mistério que envolve Kowloon. Vem comigo?
Ficha técnica de Kowloon Generic Romance
Anime: Kowloon Generic Romance
Gênero: Mistério, Sci-Fi e Romance
Número de Episódios: 13
Estreia: 5 de abril de 2025
Estúdio: Arvo Animation
Adaptação: mangá de Mayuzuki Jun
Entre becos e fachadas em ruínas, a Cidade Murada de Kowloon é uma cidade “genérica”, construída artificialmente para recriar a nostalgia de um passado perdido. Lá, vivem Kujirai Reiko (aka Reko-pon), defensora de tudo o que é novo, e Kudou Hajime, um homem apegado às tradições. Por trás desse embate de perspectivas se escondem segredos esquecidos nas paredes de uma cidade dominada pela melancolia. E um deles começa com a própria existência de Reiko…
Review de Kowloon Generic Romance
O que começa com indícios de uma leve comédia romântica se transforma, episódio após episódio, em um thriller Sci-Fi cheio de mistérios. E, apesar de esperar pelo romance entre Reiko e Kudou, é na busca por pistas sobre a verdadeira origem de Kowloon e os verões que se repetem que a história brilha.
>>> Alerta de spoiler!
Os episódios finais revelam que a cidade de Kowloon pode, na verdade, ser um reflexo dos arrependimentos de Kudou. Um espaço moldado pela perda de Reiko e que replica as memórias do verão que ele passou com ela. Aliás, quantos verões será que Kudou viveu até conseguir seguir em frente? A revelação de que tudo pode ser uma construção mental, ou uma simulação alimentada por memórias, deixa a história ainda mais interessante.
O passado de Reiko vai muito além de memórias apagadas. E ela não é a única, embora seja uma personagem chave para resolver os mistérios que cercam Kowloon e o objeto metálico que flutua no céu. É entre os episódios 8 e 9 que as peças começam a se encaixar e alguns dos segredos escondidos por trás das paredes da cidade são expostos gradualmente.
>>> Alerta de spoiler!
O conceito de zirconianos, genéricos, reais, existência limitada dentro de Kowloon, sem possibilidade de coexistir, experimentos…
Os mistérios são entregues em camadas que personagens como Gwen, Yaomei e Xiaohei começam a descascar. Embora alguns pontos permaneçam propositalmente nebulosos, como se quisesse nos despistar, o anime consegue o feito raro de ser confuso e emocionalmente claro ao mesmo tempo.
Há complexidade, sim, mas também emoção genuína na forma como cada um deles se comporta. Reiko, Kudou e companhia carregam ternura, humanidade e simplicidade que quebram qualquer caricatura. É fácil se identificar com eles. Afinal, são pessoas comuns em busca da sua identidade, do seu “eu absoluto”.
Nostalgia visual, sonora e em todo o contexto
Visualmente, Kowloon Generic Romance é um tributo ao estilo dos animes dos anos 90 e 2000. A estética aposta em cores desgastadas, iluminação quente e ângulos muitas vezes claustrofóbicos que amplificam a sensação de estar preso em um looping emocional. Isso fica visível até mesmo na trilha sonora, principalmente com a escolha de “Summertime Ghost (サマータイムゴースト)” do grupo Suiyoubi no Campanella (水曜日のカンパネラ ) como abertura.
Já a música de encerramento, “Koi no Retronym (恋のレトロニム)” de mekakushe é mais suave, como se quisesse propor uma reflexão para amenizar o tom complexo do anime.
Embora de estúdios diferentes, o design dos personagens de Kowloon Generic Romance e o ar mais maduro me fizeram lembrar de Koi wa Ameagari no You ni, também conhecido como After the Rain. As similaridades não são mera coincidência, já que ambos são do mesmo autor: Mayuzuki Jun.
O gênero promete mistério, sci-fi e romance. Quem mais se sobressai no trio é o primeiro, deixando os outros dois mais como elementos de apoio para um ou outro momento. Afinal, todos estão ocupados demais tentando resolver o enigma por trás de Kowloon. O sci-fi fica mais como plano de fundo, enquanto o romance emerge das sutilezas — nas pausas para fumar ou nos encontros causais aqui e ali.
Impressões finais de Kowloon Generic Romance

Pela complexidade que se esconde atrás da cidade e de seus personagens, Kowloon Generic Romance requer foco e atenção até nos mínimos detalhes: expressões, diálogos, interações. Não é o tipo de anime que pega pela mão e guia pela história, é do tipo que nos instiga a descobrir por nós mesmos. Não é uma história fácil de acompanhar (eu mesma ainda tenho dúvidas à espera de respostas).
O roteiro sabe quando ousar e quando manter um tom mais low-profile, sabe como despistar e como mostrar o caminho, sabe revelar e esconder. É essa dualidade que faz valer a pena investir tempo na história e no que os seus personagens têm a contar. Ao chegar no final da trilha, você pode até não entender o destino, mas fica o aprendizado: “não dá para voltar atrás”.
>>> Alerta de spoiler!
O que parecia se encaminhar para um final triste acabou tendo um toque mais poético, abstrato e melancólico do que eu esperava. Contrariando as expectativas, Reiko consegue sair de Kowloon e viver livremente em Hong Kong, onde se torna uma agente de viagens. E quem aparece no final com aquela vista noturna linda dos prédios ao fundo? Kudou! xD
Kowloon Generic Romance pode surpreender quem procura histórias que saem do óbvio. Não é um romance convencional, nem um sci-fi genérico — apesar do nome. É um anime que melhora a cada episódio ao retratar pessoas comuns presas em situações extraordinárias, tentando se lembrar quem realmente são e tentando viver suas melhores versões.
Quem também mergulha em uma estética nostálgica da mesma época é Teogonia, mas no contexto de deuses e bênçãos divinas.