
Assim como Atri ficou dormindo em uma cápsula no fundo do mar, Atri: My Dear Moments 「わたしの幸せな結婚」 estava no modo de espera nas camadas mais profundas da minha lista de animes — desde sua estreia na temporada de julho de 2024. A obra chegou à superfície do blog com 13 episódios a partir de uma adaptação da visual novel desenvolvida pela Frontwing e Makura. TROYCA é o estúdio responsável e, atualmente, está produzindo Kanpekiseijo.
O anime mistura drama, romance e ficção científica em um cenário pós-apocalíptico onde o nível do mar sobe e mantém boa parte do mundo embaixo d’água. Vem comigo?
Ficha técnica de Atri: My Dear Moments
Anime: Atri: My Dear Moments
Gênero: Sci-Fi, Drama e Romance
Número de Episódios: 13
Estreia: 14 de julho de 2024
Estúdio: TROYCA (Kanpekisugite Kawaige ga Nai to Konyaku Haki sareta Seijo wa Ringoku ni Urareru)
Adaptação: visual novel desenvolvida por Frontwing e Makura e publicada pela ANIPLEX
O mundo já não é mais o mesmo desde que o mar deixou cidades submersas, assim como a esperança por um futuro melhor. Natsuki, um jovem marcado por perdas — inclusive a de uma perna — e feridas profundas é um dos poucos sobreviventes que vive à deriva em uma ilha quase esquecida e cercada por águas que já foram lar (e agora são ruínas).
Em uma de suas expedições nas profundezas do oceano, ele encontra Atri, uma androide com aparência de menina, dotada de inteligência artificial avançada e, curiosamente, emoções. A convivência com ela, desperta em Natsuki um novo olhar para a vida, para a empatia e para esperanças por um futuro que parecia já ter se afogado.
Review de Atri: My Dear Moments
O universo de Atri é, ao mesmo tempo, melancólico e reconfortante. O cenário futurista e parcialmente destruído pela elevação dos oceanos serve como pano de fundo para uma história inundada de sentimentos. Grandes catástrofes globais ou conspirações tecnológicas não são o foco, nem chegam à superfície. O mergulho é mais fundo. Atri: My Dear Moments explora as emoções humanas diante da perda, o isolamento e a reconstrução de laços — tudo isso combinado ao otimismo de uma humanoide de alta performance: 高性能ですから!.
Nesse aspecto, lembra animes como Air e Chobits ao refletir sobre o que nos torna humanos e como a conexão entre pessoas (e outros seres) pode resgatar ou dar um novo sentido à existência. Apesar de estar rodeada por dilemas éticos e existenciais, a relação entre Natsuki e Atri é tratada com sensibilidade. Embora seja uma “máquina”, Atri desenvolve senso de identidade, memórias e desejos — como se tivesse um coração humano.
Um conto sobre o tempo, o afeto e as relações humanas
O ponto alto de Atri: My Dear Moments é a proposta emocional. No início, a história flui como as marés que cercam os personagens, em um ritmo tranquilo e sem sinais de transbordar. No entanto, 13 episódios apenas ou talvez até a própria natureza de sua origem — uma adaptação de visual novel — limitam mergulhos mais profundos nas motivações por trás do núcleo formado por Catherine, Minamo, Ryuuji, Ririka e Yoko, além de Natsuki e Atri.
Enquanto vemos a influência de Atri em Natsuki, que passa a ter mais empatia pelas pessoas ao seu redor, pouco sabemos sobre os outros personagens. O desenvolvimento é raso, mesmo com a contribuição de cada um para o avanço da história. E apesar da água ser mais transparente quando não há profundidade, nem a longa passagem do tempo revela os insights escondidos por baixo dela.
Embora a elevação dos mares e as consequências sociopolíticas desse novo mundo sejam apenas pano de fundo, sem qualquer complexidade envolvida, os avanços da tecnologia com o desenvolvimento de humanoides ganham um certo destaque (e mais afeto).
>>> Alerta de spoiler!
Ver Natsuki se tornar o pai dos humanoides e a conquista de direitos humanos, certamente, foi um avanço significativo para o seu personagem. É uma pena que levou tanto tempo, apesar de ser compreensível se a gente pensar na realidade, e que Atri não conseguiu aproveitar isso ao lado dele. Além disso, faltou mostrar melhor o que acontece com os outros personagens, não é mesmo? Ryuuji e Yoko foi o mais inesperado!
Em contraste, a aparência da Atri pode causar desconforto — especialmente quando sentimentos e romance entram em jogo. Mesmo que o relacionamento com Natsuki seja abordado com certa delicadeza e sem intenções explícitas, esse tipo de caracterização sempre levanta discussões sobre romantização e limites narrativos.
No embalo das ondas do mar e da trilha sonora
A parte musical é um dos destaques do anime. A opening “Ano Hikari” (あの光) do grupo Nogizaka46 (乃木坂46) tem uma melodia delicada, gentil e cheia de nostalgia — que combina com a ambientação calorosa e agridoce do anime. Entre as endings, “Yes to No no Aida ni” (YESとNOの間に) do grupo 22/7 (ナナブンノニジュウニ) é a que mais se sobressai pelo instrumental que me faz lembrar vagamente de Canon in D.
Visualmente, Atri atrai o olhar com seu o de cores vibrantes, cenários cheios de brilho (do sol ou no fundo do mar) e clima de verão. O design de personagens é simples, mas agradável, com expressões faciais sutis e uma direção de arte que equilibra bem o bucólico e o futurista.
Impressões finais de Atri: My Dear Moments

Atri: My Dear Moments mistura emoção, um pouco de previsibilidade (levando em conta o gênero e a origem) e um salto ousado no tempo — e talvez longe demais na narrativa. Desde o início, era evidente que o anime caminhava para um desfecho que tentaria ser agridoce, mas o episódio final acaba despertando sentimentos mistos.
>>> Alerta de spoiler!
Com sua postura altruísta e coração que vai além dos circuitos, Atri se sacrifica para garantir a sobrevivência da humanidade ao se tornar a peça-chave na manutenção do Éden. Em troca, temos aquele reencontro com Natsuki após 70 anos. Sim, SETENTA. Dá pra sentir o peso disso? Ainda estou sem palavras que possam refletir o que senti com o final. E o que o holograma da avó diz? Um pedido de desculpas, um agradecimento…
Aquele ritmo mais calmo que vimos no começo dá lugar para uma correnteza forte, que parece apressar o desfecho do anime. É tanta coisa em tão pouco tempo: festa de despedida, fogos de artifício, resoluções, passagem do tempo. Talvez pela forma acelerada com que tudo acontece após o salto temporal, o impacto perde força — sem deixar tempo suficiente para aproveitar as ondas em seu máximo potencial.
>>> Alerta de spoiler!
O mundo ficou de lado? Tivemos indícios da catástrofe ambiental e das transformações sociais, mas o episódio final praticamente ignora isso. Faltou contextualizar o que acontece com a humanidade nos 70 anos em que a Atri ficou na cápsula como administradora do Éden. Ririka virou piloto, Minamo se tornou prefeita, Yoko e Ryuuji viraram avós, e a tecnologia avançou tanto que outras unidades do Éden foram criadas. Mas… e o Natsuki? Só vemos sua versão digital para reencontrar Atri no mundo virtual, mas pouco sabemos do mundo real.
Mergulho final
Apesar dos tropeços no roteiro (ahem, falta de explicações), Atri conquista pelo seu carisma, alto desempenho e um coração (literalmente) do tamanho do mundo. A animação também é especialmente bonita, com cores quentes no pôr do sol e o brilho dos fogos refletindo a emoção contida nos personagens. Algumas cenas têm efeitos sonoros imersivos, como o som do mar ou das gaivotas.
O final de Atri: My Dear Moments sintetiza muito bem a proposta do título: momentos queridos, pequenos e íntimos. Ainda que a história se limite em explorar com mais profundidade seu cenário e personagens secundários, é um retrato delicado do que nos torna humanos, como lidamos com a perda e formamos laços ao longo do caminho. Para quem busca um anime com temas existenciais, ambientado em um mundo melancólico, esta é uma obra que pode emocionar e deixar reflexões.
Melancolia me lembra de Douse, Koishite Shimaunda — um anime com traços bonitos e um certo ar de mistério.