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[Review] Ballroom e Youkoso: dançando até o último passo

Cena do anime Ballroom e Youkoso com três pares prontos para entrar no salão de dança

Entre os inúmeros nomes da minha lista de animes antigos, Ballroom e Youkoso 「ボールルームへようこそ」 chamou a atenção por colocar um esporte bem peculiar à frente dos holofotes. Classificado como anime esportivo, o diferencial aqui está no centro do palco: não são quadras, pistas ou estádios, mas salões de dança. 

Welcome to the Ballroom é baseado no mangá de Takeuchi Tomo, o que deu origem a 24 episódios produzido pelo estúdio Production I.G (Psycho-Pass, Guilty Crown, Kimi ni Todoke, Ao Haru Ride, Mahoutsukai no Yome, xxxHOLiC, Kaleido Star). O anime foi ao ar entre 9 de julho e 17 de dezembro de 2017.

Com uma animação estilizada, muita dança, suor e ritmos diferentes, a história nos conduz passo a passo pelo salão com Tatara e companhia. Vem comigo?

Ficha técnica de Ballroom e Youkoso

Anime: Ballroom e Youkoso

Gênero: Esportes

Número de Episódios: 24 

Estreia: 9 de julho de 2017

Estúdio: Production I.G 

Adaptação: mangá de Takeuchi Tomo


Fujita Tatara é um adolescente comum, sem grandes ambições, que vive nos bastidores da própria vida. Após ser salvo de valentões por um carismático dançarino profissional, Sengoku Kaname, Tatara é arrastado – quase literalmente – para uma escola de dança de salão. Mesmo desajeitado e tropeçando nos próprios pés, ele encontra na dança algo que nunca teve: propósito e brilho nos olhos. Enquanto enfrenta desafios técnicos e inseguranças internas, Tatara começa um longo ensaio na tentativa de acompanhar o ritmo de um mundo que exige postura, precisão e — acima de tudo — entrega.

Review de Ballroom e Youkoso

Cena do anime Ballroom e Youkoso com Tatara e Mako dançando e sorrindo

Imagine um salão iluminado por holofotes, onde cada passo pode ser o começo de uma história. É nesse palco que Ballroom e Youkoso convida o espectador a entrar — não apenas como um observador, mas como alguém que, em poucos compassos, se vê atraído para o centro da pista.

À primeira vista, pode parecer estranho pensar em um anime sobre dança de salão. Mais pela falta de familiaridade do que por qualquer outro motivo. Ballroom e Youkoso não deixa esse pensamento fluir por muito tempo. O anime quebra qualquer expectativa ao apresentar a dança como algo tão competitivo, intenso e envolvente quanto os esportes mais tradicionais. 

Aqui, a dança de salão se torna uma metáfora para o amadurecimento. Cada giro, deslize e queda no ritmo representa as hesitações de Tatara e seu esforço contínuo para encontrar o compasso certo.

A narrativa se divide em dois grandes arcos. O primeiro foca na descoberta do protagonista, além de introduzir personagens importantes como Shizuku, Kiyoharu, Mako e Gaju. Já o segundo apresenta a destemida Chinatsu, que se torna o par de Tatara apesar do enorme contraste de personalidade entre os dois.

Aliás, a relação entre Tatara e Chinatsu é o ponto alto do anime. Ela é explosiva, rebelde e muito experiente na dança (embora mais como líder do que seguidora) — completamente o oposto dele. Os dois se chocam frequentemente, mas essa colisão emocional e técnica é o combustível para que ambos cresçam, individualmente e como dupla. O que se vê na pista é a materialização de conflitos, desejos e sonhos.

A arte de contar histórias com o corpo

Um dos méritos mais marcantes do anime está na forma como ele traduz visualmente a intensidade da dança de salão. Cada coreografia se transforma em um duelo de emoções: olhar nos olhos, tensão nos braços, suor escorrendo pelo rosto — tudo é capturado como se estivéssemos no centro da pista, sentindo a pulsação da música e do coração dos dançarinos.

Todos que se envolvem com Tatara são mais do que personagens secundários: são espelhos que revelam aspectos de sua personalidade e desafiam seu crescimento. Chinatsu, por exemplo, é uma tempestade em forma de bailarina. Sua força não está só nos passos marcados, mas na forma como exige de Tatara não apenas técnica, mas conexão. 

Com ela, ele descobre que dançar não é apenas conduzir, mas escutar — um diálogo silencioso onde o respeito e a entrega mútua são tão importantes quanto o ritmo. Mesmo com personalidades opostas, mesmo sem entenderem um ao outro, o que importa é abrirem juntos a porta que leva a uma apresentação que mostra a união do par aos olhos do público.

A dança como palco para o conflito interno

Ao longo dos episódios, o anime constrói um crescendo emocional digno de uma valsa que começa tímida e se transforma em espetáculo. Não se trata apenas de vencer competições — embora elas estejam lá, com toda a pompa dos figurinos brilhantes e os olhares dos juízes atentos. Trata-se de aprender a ocupar o próprio espaço no mundo, com a cabeça erguida e o peito aberto, como exige qualquer boa postura de dança.

As rivalidades surgem como embates de estilos. Há quem dance com técnica pura, outros com fogo nos pés, e há os que, como Tatara, tentam encontrar um equilíbrio entre forma e emoção. É aí que o elenco secundário brilha, especialmente Kiyoharu, o prodígio da dança, que se estabelece como uma referência e possível rival. Além dele, Kugimiya é um personagem com uma aura sombria, além de misterioso e introspectivo que traz um contraste necessário à leveza do protagonista.

As diferenças entre os pares e adversários formam uma verdadeira milonga de personalidades, que se chocam e se complementam ao longo da pista narrativa. Mesmo que a história tenha um tropeço aqui e outro ali — com um final um pouco apressado e sem qualquer sinal de uma sequência — o anime consegue nos manter engajados com seu ritmo consistente.

Competir vai muito além de dançar…

Visualmente, Ballroom e Youkoso é bem estilizado. Os traços exagerados, especialmente os longos pescoços dos personagens, podem causar estranhamento no início, mas ajudam a compor a estética da dança. A movimentação durante as competições é fluida, cheia de impacto visual pelos trajes (especialmente os vestidos brilhosos), expressões faciais que mudam conforme o tom da música e uma paleta de cores vibrante.

Se alguém achava que para competir bastava saber dançar, a história nos conduz a passos maiores do que a coreografia indicava. Liderar e ser liderado, atrair a atenção do público, encantar os olhos atentos dos juízes, executar os movimentos sem perder a postura, avaliar o espaço no salão para evitar colisões, ajustar a estamina para a longa sequência de diferentes ritmos e estilos — e segue o baile.

A trilha sonora acompanha o ritmo das competições, ora acelerando com a tensão, ora suavizando nos momentos mais introspectivos. Entre as openings e endings, a segunda abertura, “Invisible Sensation” da banda UNISON SQUARE GARDEN, é a minha preferida. Além de traduzir em som a energia apaixonada da dança, complementa tão bem os passos trocados entre Tatara e Chinatsu na chuva. Em seguida, vem o segundo encerramento, “Swing Heart Direction” (Komatsu Mikako).

Impressões finais de Ballroom e Youkoso

Cena do anime Ballroom e Youkoso com Chinatsu e Tatara dançando e sorrindo

À primeira vista, Tatara não é um personagem tão fácil de aceitar. No início, ele parece superestimar as coisas e ter grandes expectativas para si mesmo (maiores do que pode abraçar). E ele tem potencial para isso, mas, como tudo na vida, precisa de tempo, paciência, dedicação e treino — além das pessoas certas. 

No entanto, quanto mais tempo ele passa na pista de dança, mais inseguro parece ficar. Em alguns momentos, cheguei a pensar que o anime terminaria sem que Tatara conseguisse superar suas preocupações. Um dos maiores destaques, porém, é a forma como ele influencia todas as pessoas ao seu redor (de forma consciente ou não). Ele ajuda Mako a perceber o quão talentosa ela é, recupera a paixão de Chinatsu pela dança e desperta em Shizuku, Kiyoharu e Gaju o desejo de melhorar ainda mais.

Sengoku-さん também chama a atenção de um jeito negativo no início por ser, muitas vezes, mais duro e exigente do que deveria com Tatara quando estava aprendendo seus primeiros passos. Mas sua “presença” e uma simples palavra (見ている) foi essencial na competição para guiar a motivação de Tatara pelo salão.

Último compasso: o aplauso é inevitável

Ballroom e Youkoso é um espetáculo completo — daqueles que fazem o público prender a respiração até a música parar de tocar. Sua maior força não está apenas na animação fluida ou nas trilhas empolgantes, mas na coragem de transformar o universo competitivo da dança em uma metáfora para o crescimento humano.

A história fala sobre autoconfiança e a confiança entre os parceiros de dança, convicções, frustrações e a perseverança para encontrar seu próprio estilo, além da paixão de estar em movimento. 

Ao final, sentimos como se tivéssemos dançado ao lado de Tatara. Cambaleamos com suas falhas, sorrimos com seus triunfos e nos emocionamos com cada pequeno gesto de superação. Porque no salão da vida, como na dança, não basta apenas saber a coreografia: é preciso sentir a música, confiar no parceiro e ter coragem de dar o próximo passo — mesmo quando não sabemos o que vem depois.

Com uma animação estilizada, trilha sonora vibrante e personagens realistas, Ballroom e Youkoso é uma dança que vale a pena acompanhar até o último passo. 🎩 💃 👞 🎼

Para seguir no ritmo de superação, Medalist também inspira sonhos, mas nas pistas de patinação no gelo. ˆ-ˆv

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