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O que fazer na Liberdade em SP? Vai de Roteiro e mais dicas

Imagem de um dos murais de arte urbana no bairro Liberdade em São Paulo

Você conhece o projeto Vai de Roteiro em São Paulo? É uma iniciativa da Secretaria Municipal de Turismo de SP com o objetivo de estimular turistas e moradores a conhecer diferentes bairros paulistas — dos mais conhecidos como Liberdade até áreas não tão famosas, incluindo uma rota de ecoturismo (uma das mais concorridas aliás). As visitas são conduzidas por guias, que contam um pouco da história local, enquanto mostram os principais atrativos da região.

Para inaugurar minha experiência com o Vai de Roteiro, escolhi o bairro Liberdade como meu ponto de partida. O passeio foi no dia 7 de fevereiro, antes do primeiro show do TWICE no Brasil. Fui recebida pela guia Yuri (natural do Japão) e pela monitora Júlia em uma manhã ensolarada e com altas temperaturas em SP. Neste post, vou compartilhar minha nova perspectiva sobre um dos meus lugares favoritos na capital paulista. Vem comigo?

Viagem no tempo pela história do bairro Liberdade

Quando não há chuva, o Vai de Roteiro Liberdade é realizado todas as quarta-feiras em dois horários, às 11h e às 14h, gratuitamente. Todo o percurso é feito a pé. Afinal, é assim que conseguimos realmente conhecer um novo lugar, não é mesmo? 

O tempo do passeio pode variar de 1h30 a 2h e vai além das luminárias vermelhas características do bairro, inspiradas por uma combinação delicada entre as lanternas de papel japonesas e a flor lírio do vale (すずらんと em japonês). Essa curiosidade, aliás, é uma das muitas compartilhadas por Yuri durante a visita.

Os primeiros registros com a Madrinha Eunice

Você sabia que a fama por concentrar a maior colônia japonesa fora do Japão não foi o que deu origem ao bairro Liberdade? A história da região, incluindo o seu nome, começa com o período de escravidão, mas o início do roteiro é com a estátua da Madrinha Eunice — em uma área onde ocorre a tradicional feirinha da Liberdade nos finais de semana. 

Deolinda Madre, mais conhecida como Madrinha Eunice, viveu em São Paulo durante 12 anos. Foi no bairro Liberdade que ela fundou a Lavapés — uma das primeiras escolas de samba de SP. Hoje com o nome de Lavapés Pirata Negro, a escola foi campeão do Grupo Especial por sete vezes, entre os anos 50 e 60. 

E o nome Liberdade…vem com Chaguinhas

A história não para por aí! O nome Liberdade nada tem a ver com o Japão, mas com uma situação que aconteceu na Praça da Liberdade, que teve seu nome alterado em 2023 para Praça da Liberdade África-Japão. Foi lá que alguns soldados foram sentenciados à morte, entre eles, Francisco José das Chagas — mais conhecido como Chaguinhas.

No dia da execução, em 1821, a corda para enforcar Chaguinhas se rompeu. Diante da cena inusitada, as pessoas começaram a gritar ‘liberdade’ para que o militar fosse absolvido da sua punição. Sem dar ouvidos ao público, as autoridades tentam mais uma vez. E Chaguinhas sobrevive. Apesar dos pedidos de liberdade e de três tentativas frustradas, a execução é levada até o fim. É o que conta a história…

Uma das testemunhas da época segue firme e forte no mesmo local em que presenciou a morte de Chaguinhas. É a Igreja de Santa Cruz das Almas dos Enforcados, ainda de pé desde o início da década do século XIX. Do lado de dentro, os vitrais com moldura de madeira trazem em seus detalhes a figura da corda, uma referência à execução de Chaguinhas. As pinturas são lindas. Vale a pena entrar para contemplar e fotografar.

Na Rua dos Aflitos, uma pequena ruelinha sem saída escondida entre as ruas Galvão Bueno e Glória, a história de Chaguinhas é lembrada na Capela dos Aflitos. É lá também que está o primeiro cemitério público da cidade. Reza a lenda que o beco é mal assombrado, será?

Passagem pelo portal Toori até o Largo da Pólvora

Depois de conhecer um pouco mais da história local, o passeio do Vai de Roteiro Liberdade segue pela principal via do bairro: a Rua Galvão Bueno. Agora sim, entramos no reduto da cultura japonesa, coreana e chinesa — o que faz do bairro Liberdade um dos mais famosos de São Paulo — concentrando lojas com produtos importados dos três países, restaurantes típicos e a famosa feirinha nos finais de semana.

Passamos na frente do Sogo Plaza Shopping — um dos maiores pontos de referência para comprar mangás, produtos inspirados em animes e K-Pop, além de roupas orientais. Dali, fomos ao Jardim Oriental para ver as carpas coloridas em um pequeno lago cercado por bambus e pedras, antes de cruzar o grande portal Toori no viaduto Osaka sobre a Avenida 23 de Maio. 

A caminhada vai até o Largo da Pólvora, entre as ruas Américo de Campos e Tomás Gonzaga e a Avenida da Liberdade. É uma praça inaugurada em 1978 com traços da cultura oriental em seu jardim, árvores e arbustos, na ponte vermelha que passa por um pequeno lago e nas características luminárias da Liberdade (também presentes no espaço). 

Hoje, o Largo da Pólvora é conhecido pelo seu visual inspirado nos jardins japoneses, mas no início a história era um pouco diferente. Até 1832, o lugar servia como armazém de explosivos, o que deu origem ao seu nome — antes conhecido como Casa de Pólvora. 

Museu Histórico da Imigração Japonesa no Brasil

Estamos chegando ao final do roteiro, que tem sua linha de chegada no Museu Histórico da Imigração Japonesa no Brasil. Se quiser conhecer antes de visitar pessoalmente, o site disponibiliza um tour virtual. Eu fiz os dois, então já sabia bem o que priorizar para otimizar meu tempo.

O Museu da Imigração Japonesa foi inaugurado em 1978 e tem o maior acervo da história dos imigrantes nipônicos que chegaram ao Brasil em 1908 a bordo do navio Kasato Maru (笠戸丸). Curiosidade: os primeiros japoneses escolheram o bairro Liberdade como sua nova casa a partir de 1912. São mais de 97 mil itens, incluindo documentos, fotografias, jornais, vídeos, pinturas, objetos e trajes típicos. A exposição toma conta de três andares do Edifício Bunkyo, na Rua São Joaquim: o 7º, o 8º e o 9º.

Todas as quarta-feiras, dia do Vai de Roteiro Liberdade, a entrada é gratuita e acompanhada pela guia do projeto. Esse ingresso com o Vai de Roteiro dá direito a voltar para o museu no mesmo dia. De terça a domingo, o ingresso custa R$16. 

Para quem, assim como eu, gosta da cultura oriental, vale a pena dedicar um tempo do roteiro de viagem a uma visita. Melhor ainda se for com o Vai de Roteiro, já que tem a companhia da guia e dá a oportunidade de conhecer mais sobre a Liberdade com uma nova perspectiva. 

O que fazer no bairro Liberdade em São Paulo?

O Vai de Roteiro Liberdade traz um outro ponto de vista do bairro, com uma abordagem mais histórica e que vai além da cultura japonesa. Vale voltar ao bairro em outro dia (principalmente no fim de semana para conhecer ou revisitar a feirinha), ou aproveitando o turno da tarde (se estiver livre). 

Afinal, tem muita coisa para explorar: fazer compras nas galerias da Liberdade, fotografar os murais entre as ruas que cortam a Galvão Bueno, conhecer a intimista Vila Portuguesa, provar comidinhas típicas e entrar em uma imersão completa na cultura nipônica.

Vou deixar um breve roteiro, que eu segui durante minha última visita, sobre o que fazer no bairro Liberdade em São Paulo em 1 dia. Recomendo ir de manhã, a partir da estação de metrô mais próxima de onde você estiver hospedado. Dali, basta descer na estação Japão – Liberdade da linha azul e subir a escadaria que chega na Praça da Liberdade África-Japão. Se for dia de feira, você já sai praticamente dentro dela.

Comece pela feirinha da Liberdade

Para começar, passe pelas barraquinhas da tradicional feirinha da Liberdade para ver o que tem e o que chama a sua atenção, mas não compre nada ainda. Assim, você não precisa carregar sacolas quando chegar. Afinal, temos um dia inteiro de visita pela frente. A feira acontece das 10h às 18h aos sábados e domingos.

Procure pelos murais de arte urbana

São Paulo ganhou fama como a Capital Mundial do Grafite. Somente na Liberdade, você já encontra vários deles para fotografar. Muitos dos murais, que fazem parte da arte de rua do bairro nipônico, ficam escondidos entre as ruas que atravessam a Galvão Bueno. O que mais se destaca fica na Avenida da Liberdade, atrás da Igreja de Santa Cruz das Almas dos Enforcados. Você vai enxergar de longe, inclusive enquanto estiver fazendo o Vai de Roteiro.

Os outros pontos são mais discretos. Para descobri-los, vale entrar em cada rua entre a Galvão Bueno e a Conselheiro Furtado, passando pela Rua Américo de Campos, pela Rua dos Estudantes e pelo mercado Nandemoyá. Entre Galvão Bueno e a Glória, você encontra o Mural do Mangá, com diversos personagens de animes e mangás — como Dragon Ball, Ultraman, Pokémon, Naruto e clássicos do Studio Ghibli.

Caminhe até as casinhas coloridas Vila Portuguesa

Fachada de uma das casinhas da Vila Portuguesa no bairro Liberdade em São Paulo

Depois de fotografar os murais de arte urbana da Liberdade, aproveite a caminhada para chegar até a Vila Portuguesa, na Rua José Ferreira Rocha. O acesso é pela Rua Fagundes, onde também fica a Mooncake Bakery. Eu tentei comprar mooncakes, o tradicional bolinha lunar chinês, mas a produção só sai nas sextas ou sábados. Como visitei a Liberdade na quarta com o Vai de Roteiro e no domingo, não consegui provar ainda.

A chegada impressiona pelo contraste, deixando para trás o som das movimentadas ruas da Liberdade e dando lugar a um cantinho de sossego, paz e clima tranquilo. A Vila Portuguesa é uma pequena vila histórica com um conjunto de casinhas coloridas, que logo despertam a vontade de fotografar. Todas têm características arquitetônicas europeias, remetendo às vilas portuguesas e italianas.

As casinhas históricas e cheias de personalidade da Vila Portuguesa foram tombadas pelo Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo (Conpresp). 

Prove comidinhas típicas da cultura oriental

Vista do do bairro Liberdade em São Paulo do terraço do Hi Tea

Já caminhamos por todo o bairro e fotografamos, finalmente chegou a hora de comer. Você pode voltar para a feirinha da Liberdade agora, se quiser, e provar o que chamou sua atenção ou escolher um dos restaurantes que viu pelo caminho para reabastecer a energia. 

Eu recomendo o taiyaki no Hachi Crepe Café ou na feira, além do bubble tea do Hi Tea, que oferece vista da Praça da Liberdade Afro-Japonesa. Também estive no Yummy Ice Café, quase escondido em uma galeria no final da Galvão Bueno.

Ali parece ser o ponto de encontro de chineses. Na minha visita, não consegui provar o lámen ainda (da próxima vez não passa xD), mas há alguns restaurantes bem avaliados como o Hinodê, o Kazu e o Momo — todos com versões vegetarianas.

Faça comprinhas nas galerias da Liberdade

Com as energias recuperadas após uma pausa, vamos às compras na Liberdade? Em um dia, você consegue passear e entrar em todas as galerias para avaliar preços antes de escolher o que levar para casa. Eu passei por todas que vi pelo caminho e minha preferida é o Sogo Plaza Shopping na Galvão Bueno.

Para quem gosta de animes e K-Pop, a vontade de levar tudo será grande, mas fique de olho no espaço da sua bagagem. Eu precisei me conter pela limitação da mala e também para não passar do orçamento que projetei. Prepare-se também para enfrentar uma multidão, enquanto se esquiva de uma loja a outra. Nos finais de semana, a Liberdade fica lotada. Cada passo é quase uma competição.

Imagem do BTS dentro do Korea Market no bairro Liberdade em São Paulo

Além do Sogo, os lugares onde mais gosto de fazer compras na Liberdade são os mercados orientais, claro. Minha parada obrigatória em todas as viagens a São Paulo é o mercado Marukai, que já é uma tradição para mim quando passo pelo bairro. Outro que recomendo é o Towa. São os melhores em variedade e preço. Mas aproveite para conhecer também o Korea Mart, o Empório Azuki , o Maruso e o Nandemoyá Market.

Aproveite a imersão pelas tradições japonesas 

Para fechar o roteiro extra pelo bairro Liberdade em São Paulo, minha dica é para que você aproveite a imersão cultural e vivencie todas as experiências que o local proporciona. A melhor forma de conhecer um lugar é a pé, entrando em uma rua, explorando outra e se perdendo entre as luminárias vermelhas da Liberdade. 

Não se esqueça das pausas no meio do dia para provar pratos típicos, o bubble tea (se você gostar tanto quanto eu e não tiver na sua cidade). E aproveite cada cantinho para vivenciar a cultura oriental.

O que achou do nosso tour pelo bairro Liberdade? Para esta viagem, eu trouxe o Vai de Roteiro com sua visão mais histórica, com as origens da região, e também um mergulho mais profundo, com dicas do que fazer enquanto estiver na área mais nipônica da capital paulista. A Liberdade é meu lugar preferido em SP, por isso quis compartilhar minha experiência mais recente com você aqui no blog.

Aproveite para embarcar no tour de animes que eu preparei durante o mês de janeiro. ˆ-ˆv

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