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Pé da Cascata do Caracol: uma trilha marcada por memórias

Pé da Cascata do Caracol em Canela, na serra gaúcha

Araucárias por todos os lados, cheiro de eucalipto no ar, terra molhada pela chuva no dia anterior e borboletas de todas as cores voando de um lado para o outro. Este é o cenário para quem chega na entrada do Parque do Caracol, na trilha que leva até o Pé da Cascata do Caracol. O som da leve brisa do vento se mistura ao da água corrente e ao canto dos pássaros, ecoando como uma orquestra verde conduzida pela natureza.

No último fim de semana, como um presente antecipado de Natal, eu tive a oportunidade de conhecer um dos passeios exclusivos pela região de Canela e Gramado, na serra gaúcha. Uma cortesia da Prefeitura de Gramado e da agência Brocker — a anfitriã do tour Pé na Cascata Explorer. Hoje, vou compartilhar como foi minha experiência com você. Vem comigo?

Uma cascata, uma família e muitos sonhos

Placa indicando cascata na trilha que leva ao Pé da Cascata do Caracol

“Ouvi dizer que existe uma cascata. Ninguém tem certeza, mas acredito que será um bom lugar para nossa família criar raízes…” Era uma vez, uma cascata no meio de um vale e uma família cheia de sonhos. Desse encontro, nasceu o tour pelo Pé da Cascata do Caracol, mas muita coisa aconteceu antes disso. Vamos voltar no tempo?

Tudo começou com a vinda de Guilherme Wasem e Bárbara Wasem. Acompanhado pelos filhos, o casal deixou sua cidade natal Dörrebach, na Alemanha, para trás em busca de uma nova vida no Brasil. Eles chegaram ao país em 1847 e se estabeleceram na região conhecida como Campestre Canela em 1864, tornando-se os primeiros moradores do local. 

A família se encantou pelas similaridades geográficas entre a região e sua terra natal e também com as possibilidades nas terras que encontraram mais tarde, perto da Cascata do Caracol — na época batizada como Cascata Wasem. Em meio a uma mata ainda intocada, construíram seu novo lar e deram asas aos seus sonhos. 

Naquele tempo, ninguém tinha interesse em ter uma cascata como parte da propriedade. A prioridade era ter terras planas para favorecer a agricultura. E quem diria que algumas gerações depois, a área da Cascata do Caracol seria tombada como patrimônio do Estado e se transformaria no Parque Estadual do Caracol?

Hoje é um dos principais pontos turísticos de Canela e Gramado e oferece aos seus visitantes uma vista de cima pelos bondinhos ou pelo mirante e de baixo pela trilha até o Pé da Cascata do Caracol.

No Pé da Cascata do Caracol, tem um balanço

A Cascata do Caracol fica em uma área verde no Vale da Lageana com mais de 200 hectares, dentro do Parque Estadual do Caracol, na divisa entre Gramado e Canela. A região é cercada pela Floresta Ombrófila Mista, composta por araucárias, eucaliptos e pinheiros, além de outras plantas como o xaxim, pés de limão e a canela preta — que inclusive levou ao nome da cidade de Canela por sua abundância.

O tour pelo Pé da Cascata do Caracol começa em uma pequena trilha no meio da natureza, passa por um balanço que deixa a sensação de flutuar pelas águas da cascata e termina com uma deliciosa mesa inspirada pelas culinárias alemã, italiana e gaúcha na Casa da Vó Ivonne.

Conhecer o Pé da Cascata do Caracol é um passeio exclusivo da Brocker, uma das principais agências turísticas da região e que tem sua história profundamente conectada à da família Wasem. Existem duas opções para aproveitar a experiência: bate e volta apenas para a trilha ou pacote completo incluindo um brunch na Casa da Vó Ivonne (foi o que eu fiz). 

Nada como conhecer a história do local para deixar a experiência mais completa, não acha? Agora que você já sabe um pouco mais, estamos prontos para dar o próximo passo. Antes de embarcar no tour pelo Pé da Cascata do Caracol, vamos fazer um breve checklist?

☑️ Conhecer a história 

☑️ Agendar o passeio

☑️ Preparar mochila, incluindo água e um casaco (nunca se sabe como será o clima, né?)

☑️ Usar roupas confortáveis

☑️ Acordar cedo, colocar a mochila nas costas e embarcar

Preparando o embarque para o Caracol…

O relógio marca 7 horas da manhã. É hora de me arrumar, tomar um rápido café da manhã e sair. Apesar do período de chuvas e do temporal na noite anterior, o dia amanheceu com um tímido sol ensaiando para sair entre as nuvens. A van que leva até o início da pelo Pé da Cascata do Caracol sai da loja da Brocker em Gramado às 8h15. 

Antes de embarcar, é preciso confirmar a reserva no balcão e preencher um documento. Meu grupo tinha em torno de 15 pessoas, maioria casais. Com todos prontos, iniciamos nossa jornada. Saímos por volta das 8h25, com o guia Renan (que também é biólogo) e o motorista Maurelio. Assim que a viagem começa, Renan já começa a contar, em detalhes, a história da família Wasem e sua chegada ao Brasil. 

Imagem de uma casa típica alemã no caminho até o Pé da Cascata do Caracol em Canela, na serra gaúcha

No caminho, fazemos algumas paradas. Em uma delas, de um lado, observamos uma casinha verde com traços típicos alemães, em madeira e com um adorno ao redor do telhado que lembra o efeito da neve derretendo — remetendo a lembranças do país. Do outro lado da janela, contemplamos uma casa de madeira rústica, sem pintura, comum entre os imigrantes italianos que evitavam gastos com o que fosse supérfluo.

Durante o trajeto, também ouvimos mais sobre as araucárias, os eucaliptos e o Pinus. Você sabia que a média de idade de uma araucária é de 500 anos? Essa foi uma das curiosidades que o guia trouxe, além de compartilhar seus conhecimentos sobre a fauna e a flora da região. Pouco antes de chegar ao início da trilha, uma narrativa em forma de rádio novela nos apresenta os planos da família Wasem com as terras no entorno da Cascata do Caracol.

Começando a trilha até o Pé da Cascata…

Inspira e expira! Estamos a 530 metros de altitude. Consegue sentir o cheiro de eucalipto se espalhando pelo ar? Se você fechar os olhos e se concentrar, conseguirá ouvir o canto dos pássaros. Bem ao fundo, o som da água que desce da cascata, ainda suave e sem se destacar, também começa a entrar em harmonia com a natureza ao redor. 

Quase 9h30. Recebemos algumas orientações do guia, principalmente com os cuidados ao andar, já que a terra molhada pela forte chuva na noite anterior pode ser bem escorregadia. Uma placa de madeira indica o ponto de partida da trilha de 1 quilômetro (ida e volta) até o Pé da Cascata do Caracol, seguindo os passos dos primeiros moradores da região. 

Borboletas, das mais variadas cores, são as primeiras a dar as boas-vindas aos visitantes. O caminho começa em uma área aberta com um corrimão de madeira para quem precisa de um apoio extra, mas alguns trechos passam por mata fechada. Tem pequenos trechos com subida e degraus ao chegar perto da cascata, onde fica o balanço infinito. 

A caminhada leva, em média, de 20 a 30 minutos, com pequenas pausas para que o guia compartilhe curiosidades sobre a vegetação e os animais da região — em especial a gralha azul, mascote do passeio. O percurso é bem leve e tranquilo. Preste atenção nos detalhes a sua volta, como a marca do coração em uma das árvores ou a moldura pendurada em um galho para uma pose no meio do verde. Entre galhos, troncos e folhas, é possível avistar a água passando do lado, enquanto o som fica mais forte a cada passo.

Chegando ao Pé da Cascata do Caracol…

Quando a passagem da água começa a ecoar com intensidade, a principal atração aparece bem diante dos seus olhos. Por causa da chuva intensa na noite anterior, a Cascata do Caracol surge em sua maior abundância em seus 130 metros de queda d’água. Não teve arco-íris, afinal o tempo estava nublado, mas a visão não perde em nada para um dia ensolarado. Ainda mais com a quantidade de água que vimos.

Ao ficar frente a frente com a Cascata do Caracol, há dois caminhos. Um leva até um balanço mais perto da queda d’água para curtir o visual e o contato com a natureza, além de tirar algumas fotos para preservar as memórias da sua passagem por lá. O outro leva a um mirante com dois balanços mais altos. É aqui que temos a sensação de flutuar sob as águas da cascata logo abaixo dos nossos pés.

Tanto o guia Renan como o motorista Maurelio se tornaram os anfitriões dessa experiência. Enquanto um deles ajustava o equipamento de segurança quando sentamos no balanço, o outro se preparava para registrar o momento. Há uma pequena estante para deixar seus pertences pessoais. E o celular fica com um dos dois para as fotos. Eles tiram várias na maior boa vontade.

Você já fez um daqueles famosos passeios de buggy pelas dunas das praias de Natal no Nordeste? Antes de começar, o motorista pergunta qual o grau de emoção para o passeio em uma escala de pouca à muita. No balanço infinito do Caracol, também podemos escolher o quanto de impulso queremos. No início, dá um leve frio na barriga. Mas, depois, já dá vontade de pedir para balançar o mais alto que puder.

Gostinho de infância na Casa da Vó Ivonne

Depois que todos passam pela experiência de flutuar no Pé da Cascata do Caracol e registram a paisagem de vários ângulos diferentes, voltamos pelo mesmo caminho até chegar na van. A trilha terminou por volta das 11h. 

É hora de fazer uma pausa para ir no banheiro ou para que as famílias possam preparar as crianças para a próxima e última etapa do passeio: o brunch na Casa da Vó Ivonne. Afinal de contas, tem coisa melhor do que recarregar as energias depois de um pequeno exercício? 

As memórias da Vó Ivonne ainda são preservadas em um casarão com um lindo jardim na entrada, uma parreira no quintal e uma vista verde emoldurada pelas araucárias (muitas delas plantadas através de sementinhas que a Vó Ivonne deixava durante suas caminhadas). É ao lado dessa companhia que podemos saborear um café colonial no estilo brunch, o que inclui comidas típicas inspiradas na gastronomia alemã, italiana e gaúcha.

Ao chegar na Casa da Vó Ivonne, o guia nos conta mais sobre as gerações da família Wasem, que se tornou Nunes e que se tornou Brocker. A entrada ­— com uma pequena lojinha cheia de lembranças — leva a um corredor que sai na cozinha, onde uma mesa cheia de quitutes (alguns com receita da própria Vó Ivonne) nos aguarda com uma equipe extremamente atenciosa, que apresenta cada prato. 

Antes de aproveitar as delícias da cozinha, você pode fazer um tour pelo quarto e o banheiro, subir as escadas até o sótão, andar pela sala de costura e uma salinha de descanso. Há fotos e relíquias da família espalhadas pelos cômodos da casa, com mais curiosidades sobre a história de seus moradores.

Hora do brunch

Após conhecer cada cantinho da casa e sua história, é hora de relembrar aquele gostinho da casa da vó com o brunch que completa o passeio. Na mesa, pães caseiros, cuca de goiabada, a famosa apfelstrudel, torta de bolacha, bolo de fubá e pastinhas caseiras como o doce de leite, além de uma salada com verduras da horta. 

No fogão, fica a parte das comidas. Como vegetariana, experimentei o nhoque com molho de queijo. Para completar, chá de maçã quentinho, café, leite fresco e suco de uva. O que mais gostei de provar foi a apfelstrudel acompanhada pelo chá de maçã. Mesmo em um dia quente, (30ºC) não resisto a um chá de maçã. E o bolo de fubá me fez lembrar dos doces da minha vó, uma sensação nostálgica e gostosa.

Saímos da Casa da Vó Ivonne para voltar a Gramado por volta das 12h30, fechando a manhã e o passeio pelo Pé da Cascata do Caracol. Cheguei na cidade com o sentimento de gratidão pelas memórias que fiz no dia, pela trilha (mesmo que breve) e pela comida em um ambiente tão aconchegante (cercado pelas araucárias que eu tanto admiro). Se você gosta de visitar lugares ao ar livre e em contato com a natureza, recomendo viver essa experiência quando estiver de passagem pela região. 

Para finalizar a trilha, aproveita para deixar recomendações sobre o que fazer em Gramado, com sugestões para famílias e casais.


PS.: este post não é patrocinado, reflete minha experiência real e meu sentimento de gratidão à Prefeitura de Gramado e à Brocker.

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