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Projeto Lontra em Florianópolis: refúgio com propósito

Projeto Lontra em Florianópolis com lontra olhando para a câmera na beira de um laguinho

Você sabia que as lontras desempenham um papel importante na conservação do ecossistema aquático? Como guardiãs de rios e córregos, elas ajudam a manter o equilíbrio da população de animais marinhos. No entanto, as lontras e outros membros da família Mustelidae correm o risco de extinção. Em Florianópolis, o Projeto Lontra atua como um refúgio para conservar a espécie — resgatando animais que precisam de cuidados e promovendo a conscientização. 

Único no país, o projeto conta com um Centro de Pesquisa, Conservação e Educação Ambiental na capital catarinense. Lá, voluntários resgatam animais que precisam de cuidados e oferecem reabilitação, enquanto promovem o Turismo de Conscientização ao abrir o espaço para receber moradores e turistas. Vem comigo conhecer mais?

  1. O que é o Projeto Lontra em Florianópolis?
  2. Como chegar ao Projeto Lontra?
  3. Por que incluir o Projeto Lontra no seu roteiro de viagem?
  4. Como ajudar e contribuir com o Projeto Lontra?

Projeto Lontra em Florianópolis: o que é e o que faz?

O Projeto Lontra em Florianópolis começou como uma iniciativa do oceanógrafo Oldemar Carvalho Junior em 1986. O Centro de Pesquisa, Conservação e Educação Ambiental fica no sul da ilha — às margens da Lagoa do Peri e em uma área cercada pela Mata Atlântica. 

Na época, seu propósito incluía apenas pesquisa e conservação. Após a chegada da primeira lontra órfã, isso mudou. Como os animais não sobrevivem sem a mãe, o centro passou a atuar no resgate e na reabilitação de lontras e outros membros da família Mustelidae (como furões e iraras), que precisam de cuidados. 

Os animais feridos — por acidentes nas rodovias ou ataques de cachorros – são tratados por uma equipe de veterinários e biólogos. Após a recuperação, os bichinhos passam por um processo de reabilitação para que possam ser devolvidos à natureza. Lontras que perdem a mãe acabam crescendo no espaço, já que não desenvolvem mecanismos de defesa para sobreviver em seu habitat natural.

Em 2004, o projeto expandiu com a criação do Instituto Ekko Brasil (IEB). E, assim, começou a coordenar e a apoiar projetos com foco em preservar a biodiversidade e promover o turismo de conservação. Dessa expansão, veio o patrocínio da Petrobras em 2010 e, três anos depois, uma base em Aquidauana (Mato Grosso do Sul) para ampliar seu escopo de estudos com pesquisas no bioma Pantanal, incluindo as ariranhas.

Programa de Ecovoluntários

Desde então, a iniciativa conta com o apoio de ecovoluntários por todo o Brasil, para o monitoramento compartilhado das espécies em ambientes costeiros, marinhos e de água doce. Além de brasileiros, participantes de outros países também contribuem. 

O programa de ecovoluntários do Projeto Lontra em Florianópolis tem o objetivo de transformar turistas e moradores em multiplicadores. É a oportunidade de aprender sobre a preservação do meio ambiente de uma forma mais ativa, através da experiência prática e com a orientação de técnicos especializados. 

Turismo de Conservação

A missão do projeto vai além do resgate e cuidado físico dos animais. Com o programa de ecovoluntários em andamento e de olho em ampliar o conhecimento das pessoas sobre as lontras e outros membros da família Mustelidae, o espaço em Florianópolis alia turismo e conscientização ambiental. 

Turistas, escolas e a comunidade local podem visitar o Projeto Lontra, enquanto aprendem mais sobre a importância de preservar o habitat natural desses animais e despertam o pensamento consciente voltado para a conservação das espécies.

Pesquisa e Educação Ambiental

No campo de pesquisa, o Projeto Lontra tem o Programa de Atendimento às Instituições de Ensino, Pesquisa e Extensão (PAIE). Seu objetivo é ampliar o conhecimento técnico sobre as lontras e outros integrantes da família Mustelidae. Os programas educativos também incluem workshops, palestras, visitas guiadas e experiências interativas.

A participação não se limita a adultos. No espaço em Florianópolis, há uma sala para receber crianças que queiram aprender mais sobre o comportamento dos animais e seu papel no meio ambiente. As aulas são lúdicas e se apoiam na lontra como personagem para promover a conscientização para proteger os recursos naturais e o respeito pela vida selvagem. 

Como chegar ao Projeto Lontra?

A sede do Projeto Lontra em Florianópolis fica no Parque Municipal da Lagoa do Peri — onde está a maior lagoa de água doce da costa de SC — em um local arborizado e conectado com a natureza. Ao passar pelo Morro das Pedras, as primeiras placas começam a aparecer até chegar ao acesso na Armação por uma estrada de terra. É um trecho curto, que pode ser feito de carro, de bicicleta ou a pé. 


Endereço: Servidão Euclides João Alves S/N
Horário para visitas: Segunda a sábado, das 8:00 às 10:00 e das 16:00 às 18:00
Valor: R$40 (inteira) | R$20 (meia) | Guias e condutores com grupos, além de crianças até 6 anos não pagam [baseado em valores de novembro de 2023]

Por que incluir o Projeto Lontra no seu roteiro de viagem?

Basta uma troca de olhar (repare bem no vídeo entre 35s e 36s) com as lontrinhas para querer conhecer seu refúgio e aprender mais sobre elas. Ou você consegue resistir? Eu não consigo e, por isso, finalmente risquei a visita ao Projeto Lontra da minha lista de lugares para conhecer em Florianópolis. Qualquer hora dessas, quero tirar do papel também uma visita ao Projeto Tamar na Barra da Lagoa. 

Uma visita ao Projeto Lontra não apenas proporciona um contato mais próximo com esses animais fofinhos (sim, eu acho lontras fofas <3), mas também contribui para o futuro sustentável dos nossos ecossistemas.

Se estiver de passagem por Florianópolis, recomendo incluir uma visita ao seu roteiro de viagem. Você terá a chance de ver lontras, furões e iraras de perto e, quem sabe, até chegar no momento em que os animais são alimentados. 

Além disso, o projeto se enquadra no turismo de conservação. Para quem busca atrações mais conscientes, educativas e conectadas à natureza, conhecer o espaço é parada obrigatória. O passeio vale para viagens em família com crianças, casais, grupos de amigos ou até mesmo para viajantes solo.

Quais as atrações do passeio?

Apesar do spoiler acima sobre os animais que vivem no refúgio em Santa Catarina, vou compartilhar como foi a minha experiência e o que você pode esperar da visita ao Projeto Lontra em Florianópolis.

Se você olhar o Instagram do projeto, as recomendações de visita sugerem chegar antes das 9h ou por volta das 17h. Esses são os horários que os bichinhos costumam se alimentar. Por uma questão de agenda, eu conheci o espaço em um sábado, pouco antes de fechar o primeiro horário. Ou seja, perto das 10h.

Ao chegar, fui recepcionada por um simpático guia que me explicou o propósito do projeto, contou como as lontras são levadas para lá e compartilhou algumas orientações para a visita. Depois disso, pude circular livremente para acompanhar os bichinhos. O espaço não é tão grande. Dependendo das suas interações, o passeio pode durar de 20 minutos a 1 hora. Não preciso nem dizer que para mim foi a segunda opção, né? Entre uma foto e outra, o sentimento de admiração me fez perder a noção do tempo. 

Além disso, apesar de ser fora do horário habitual, tive a chance de acompanhar uma das pausas para refeição das lontras. Agradeço a um dos tratadores que estava por lá, foi graças a ele. 🙏 O dia estava nublado, com chance de chuva, e eu ainda cheguei perto do último horário da manhã e pouco antes da saída dos últimos visitantes. Eu me senti privilegiada por isso e por toda a liberdade para explorar o espaço, sem pressa.

O Projeto Lontra em Florianópolis trabalha para conservar três espécies: a lontra neotropical, a irara e o furão. Vamos conhecer cada uma delas!

Lontra neotropical

Lontra do Projeto Lontra em Florianópolis comendo peixe

Conhecida como “onça da água”, a lontra neotropical (Lontra longicaudis) é a espécie mais comum no Brasil. Seu habitat natural é aquático — incluindo rios, lagos, estuários e manguezais. É onde ela passa a maior parte do tempo, o que a torna uma excelente nadadora e mergulhadora.

As lontras neotropicais têm membranas entre os dedos e uma cauda longa semiachatada. Essas características auxiliam sua locomoção na água e dão agilidade. Como a base da sua alimentação inclui peixes e crustáceos, ela ajuda a manter o equilíbrio da vida marinha. 

Quando jovens, as lontras são mais sociáveis. Porém, na vida adulta, elas se tornam agressivas e preferem seguir um caminho mais solitário, sem muitas interações. Entre as histórias que um dos tratadores compartilhou comigo, ele contou que certa vez uma das lontras escalou o espaço onde estava para invadir a acomodação ao lado, que abrigava outra lontra. Por quê? Para brigar com a lontra vizinha! Ela poderia ter fugido ou ter simplesmente ficado na dela, né? Depois disso, a equipe realocou a vizinha para outro espaço. E a lontra brigona voltou para seu ambiente em paz.

Ao nascer, a lontra neotropical é altamente dependente da mãe. Afinal, é ela que ensina a lontrinha a sobreviver na natureza. Por isso, quando lontras órfãs chegam ao projeto, elas precisam de cuidados e não podem voltar ao seu habitat natural. Embora seja raro avistar uma por aí, eu tive o privilégio de passar por essa experiência uma vez em Florianópolis. Assim como também já vi pinguins, golfinhos e baleia (baleia em Garopaba).

Visita 

A anfitriã da casa, a primeira a saudar os visitantes quando começamos a trilha do passeio é a lontra neotropical. Quando cheguei perto do vidro para ver o que ela estava fazendo, a lontrinha nadou pra lá e pra cá em um pequeno laguinho na sua casa e logo começou a brincar. Parecia que estava exibindo suas habilidades (no bom sentido). ˆˆ

Mais à frente, depois de passar pelos furões super ativos e pelas iraras (uma hiperativa e o vizinho ao lado sonolento), encontrei mais lontras. Em um espaço maior, um trio de lontras estava em sua pausa para o almoço. E uma delas chamou minha atenção. Toda vez que eu mudava de janela para observar de ângulos diferentes, ela me acompanhava, sempre de olho no vidro para ver se eu estava lá. Teve uma hora que ela até chegou a me procurar e, quando me encontrou, nadou rapidinho para perto de onde eu estava e continuou comendo.

Passei muito tempo nesses dois espaços, o primeiro com a brincalhona lontra Cacau e o segundo com o curioso trio enquanto se alimentava. O último recinto estava vazio, provavelmente porque os bichinhos foram tirar uma soneca depois de comer. 

Furão

Furão do Projeto Lontra em Florianópolis olhando para a câmera

Outro bichinho que viu o Projeto Lontra se transformar na sua casa é o furão (Mustela frenata). Curioso, extremamente ágil e com uma personalidade cativante, o animal faz parte da família Mustelidae. O furão tem olhos expressivos e uma pelagem marcante. Seu habitat natural inclui florestas, campos e até áreas urbanas. 

Diferente da lontra, o furão é um animal terrestre e passa a maior parte do tempo na terra. Pode subir em árvores e arbustos graças às suas habilidades como escalador. Também é bom escavador, além de ágil. Seu papel na natureza é similar ao da lontra. Ao se alimentar de pequenos roedores e insetos, ele ajuda na manutenção do equilíbrio. 

Mas não se engane com sua aparência! Apesar de pequenino, sua coragem excede seu tamanho. Junte dez furões de uma só vez e você verá os bichinhos enfrentando animais mais fortes e maiores, sem se intimidar.

Visita 

Após passar pela primeira lontra, uma dupla veloz de furões corre de um lado para o outro, passando pelos tubos espalhados no espaço onde vivem. Parece um parque de diversões criado para eles. É divertido ver os bichinhos e tentar acompanhar seus movimentos. O desafio é não perdê-los de vista.

Quando eles entram em um tubo, é tudo tão rápido que em um momento eles estão bem na sua frente. Porém, segundos depois, os dois já estão no lado oposto. Enquanto um corria, o outro o seguia por todos os lados. Também passei um bom tempo observando a dupla antes de chegar no próximo habitante do Projeto Lontra em Florianópolis.

Irara

Irara do Projeto Lontra em Florianópolis comendo frutas

As simpáticas lontras e os ágeis furões dividem espaço com as iraras, mais um membro da família Mustelidae. A irara (Eira barbara) é uma espécie onívora, que gosta de subir em árvores para caçar ou coletar frutas e até para buscar mesmo mel. Com resistência às picadas, ela invade colmeias de abelhas para provar o docinho. Não é à toa que seu apelido é papa-mel. 

Seu habitat natural inclui as florestas tropicais — Mata Atlântica, Cerrado e Amazônia — onde contribui para a manutenção do equilíbrio natural ao seu redor. Tem um corpo alongado, com uma cauda que pode chegar a 45 centímetros e garras afiadas para subir em árvores sem qualquer dificuldade. 

As iraras também são seres solitários, que preferem viver sozinhos. Se você avistar um grupo delas, provavelmente será a mãe com os filhotes.

Visita 

Eu já conhecia lontras por acompanhar alguns canais no YouTube com Kotaro e Hana, Sakura e Bingo e Belle. Também já tinha visto furões por aí. Acho até que eles ficariam no topo entre os animais mais populares do trio. Com as iraras, tive meu primeiro contato ao visitar o Projeto Lontra. 

A primeira irara era uma fêmea bem ativa. Enquanto eu estava observando os furões, ela ficou olhando para mim andando de um lado para o outro sem parar. Será que ficou pensando ‘hey, quando será a minha vez?’ ou estava apenas curiosa com um ser humano ali? Sua casa também é cheia de caminhos, mas aéreos, com pontes de madeira que ligam uma árvore à outra. 

Ao seu lado, o vizinho é uma irara macho. Em um polo totalmente oposto, ele estava relaxando e dormindo. O tratador me contou que as iraras são bem ativas, mas, depois de comer, a preguiça toma conta.

Palestras e lojinha

No caminho da trilha ecológica, que passa pelas lontras, furões e iraras, podemos acompanhar a exposição de placas informativas. Cada uma apresenta informações adicionais sobre os animais, seu comportamento e ameaças. No Instagram do Floripa para Mães e Filhos, tem uma prévia de como é a visita.

Além dos bichinhos, o Projeto Lontra em Florianópolis também tem um ambulatório para tratar os animais resgatados e encaminhar a reabilitação, além de um espaço pedagógico. Nele, grupos e escolas têm a oportunidade de acompanhar palestras com foco em educação ambiental e aprender mais sobre as ações desenvolvidas para preservar as espécies. 

No fim do passeio, você também encontra uma lojinha com ecobags, camisetas, bonés e outros produtos que levam o nome do projeto. Toda a renda, tanto da lojinha quanto da entrada, é convertida para a manutenção do espaço e para o desenvolvimento de ações de conservação. Algumas pessoas acham o valor elevado, mas se pararmos para pensar no destino desse dinheiro, é uma  das formas que temos de contribuir. 

Quer ajudar? Saiba como contribuir com o Projeto Lontra

Por meio do resgate, reabilitação, pesquisa e educação ambiental, o Projeto Lontra atua para preservar as lontras e outros mustelídeos. Há várias maneiras de apoiar o trabalho. Uma delas é incluir a visita no seu roteiro de viagem. Para moradores, basta reservar 1 hora para conhecer e aprender mais sobre os animais.

Outra forma de contribuir é com doações através do PayPal, já que representam uma importante fonte de recursos para custear as despesas do projeto com a alimentação dos bichinhos, remédios para o tratamento pós-resgate, materiais de reabilitação e transporte. Sem contar ações de conservação e outras atividades em prol da manutenção da biodiversidade.

Se você não puder contribuir financeiramente, divulgar a iniciativa para amigos e familiares também ajuda a disseminar o conhecimento sobre os animais e aumentar, assim, o grau de conscientização das pessoas ao seu redor. Por fim, você pode participar de projetos voluntários divulgados no Instagram do Projeto Lontra e, se por acaso avistar um dos bichinhos por aí, pode acionar o monitoramento compartilhado.

Desde o seu início, o Projeto Lontra em Florianópolis tem trilhado um caminho de dedicação à preservação da vida selvagem, com pesquisas e ações de conscientização dedicadas às lontras e outros membros da família Mustelidae. A visita não é apenas uma experiência enriquecedora, mas uma oportunidade de se tornar parte ativa dessa jornada e ainda fortalecer o impacto positivo do turismo sustentável.

Além do Projeto Lontra, tive a oportunidade de visitar o Projeto Tamar em Vitória e deixo aqui como recomendação para seguir a leitura. ˆ-ˆv

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