
Você pode até não ter visto ainda, mas muito provavelmente já ouviu falar no anime Fruits Basket 「フルーツバスケット」 — também conhecido entre os fãs como Furuba. Afinal, a obra inspirada no mangá de Natsuki Takaya é um clássico na lista de todos que gostam de acompanhar a cultura oriental.
Fruits Basket ganhou duas adaptações, a primeira animação em 2001 e a segunda (um remake adaptando toda a obra original) em 2019. Além dos animes, tem o filme Fruits Basket: Prelude, lançado em 2022, como uma prequel. Eu costumava ouvir muito sobre o anime como recomendação de amigos, mas, até então, não tinha conseguido ver.
Após acompanhar as duas adaptações simultaneamente para comparar as mudanças e, enfim, riscar o anime da minha lista de pendências, vim aqui compartilhar minhas impressões. Vem comigo?
Ficha técnica de Fruits Basket
1ª Adaptação | Fruits Basket (2001)
Gênero: Drama, Romance, Sobrenatural
Estúdio: Studio Deen
Número de Episódios: 26
Estreia: 2001
Remake | Fruits Basket (2019)
Gênero: Drama, Romance, Sobrenatural
Estúdio: TMS Entertainment
Número de Episódios: 25 + 25 + 13
Estreia: 1ª Temporada (2019), 2ª Temporada (2020), Final (2021)
Resumo de Fruits Basket

Tanto na adaptação original de 2001 e, posteriormente, no remake de 2019, Fruits Basket acompanha o encontro destinado da protagonista Honda Tohru com a família Sohma. Após perder seus pais e sem querer sobrecarregar a família que lhe resta, Tohru escolhe viver sozinha até ser acolhida por Yuki, Shigure e Kyo.
O trio faz parte da família Sohma, que há gerações carrega consigo uma maldição, além de um passado sombrio e triste. Cada membro corresponde a uma figura do zodíaco chinês e, quando um deles é abraçado por uma menina, ele se transforma temporariamente em dos animais do zodíaco.
Review do anime Fruits Basket
O mangá de Fruits Basket ganhou sua primeira adaptação pelo Studio Deen, com 26 episódios, que foram ao ar entre 5 de julho e 27 de dezembro de 2001. Apesar da popularidade na época — e até hoje — nem tudo na obra original entrou no anime.
Então, muitos anos depois, a obra ganhou um remake e a promessa de animar todo o conteúdo do mangá. Com 25 episódios, a 1ª temporada fez sua estreia em 6 de abril de 2019 e se estendeu até 21 de setembro do mesmo ano, dessa vez com animação do estúdio TMS Entertainment. A 2ª temporada chegou no ano seguinte, com mais 25 episódios exibidos entre 7 de abril e 22 de setembro de 2020.
A parte final da adaptação do anime Fruits Basket começou em 6 de abril de 2021 e chegou ao último dos seus 13 episódios em 29 de junho do mesmo ano. Em 18 de fevereiro de 2022, o filme Fruits Basket: Prelude trouxe uma prequel, acompanhando a história da mãe de Tohru, Honda Kyoko, e seu encontro com Katsuya.
Fruits Basket (2001)

Na época, mesmo com a recomendação de amigos, eu não tinha muito interesse em Fruits Basket. Pessoas se transformando em animais do zodíaco chinês? Não. Gostava mais de mahou shoujo estilo Cardcaptor Sakura e Sailor Moon. Foi somente após o anúncio do remake — com a mente mais madura, um novo olhar e uma animação moderna — que resolvi, enfim, acompanhar.
Fruits Basket é um anime mais denso e cheio de contrastes. Do lado da família Sohma, uma maldição passada entre gerações é cercada por segredos obscuros e histórias sombrias. Do outro, Tohru e sua complicada bagagem — perda do pai ainda nova, depois da mãe em um acidente de carro até ir e, por fim, a família meio indiferente para cuidar dela, levando a protagonista a escolher viver em uma tenda para não “incomodar”.
Mesmo assim, Tohru é sempre gentil, otimista e tem um bom coração, embora seja totalmente sem noção em alguns momentos. Ela representa a luz para iluminar os problemas que assolaram o passado da família Sohma e que agora se refletem no presente e na forma como os personagens interagem entre eles. Gradualmente, a presença da protagonista afeta cada um, trazendo a esperança de um futuro melhor e, quem sabe, sem a maldição.
A animação de Fruits Basket segue o estilo da época, sem muitos recursos, porém com sensibilidade a alguns detalhes — como as cores dos cabelos ou dos olhos dos membros da família Sohma, representando o animal correspondente de cada um.
A opening “For Fruits Basket” (For フルーツバスケット por Ritsuko Okazaki) e a ending “Let’s Go Home” (最終回 por Chiisana Inori) transmitem simplicidade e delicadeza.
Roteiro e desenvolvimento dos personagens
A história de Fruits Basket no anime de 2001 é incompleta, com uma série de pontas soltas e um final ambíguo — sem deixar claro o relacionamento entre os personagens. Na época, o mangá ainda estava em andamento, sendo finalizado apenas em 2006.
Em poucas palavras, Furuba é basicamente um ciclo que se repete entre cenas de briga do Kyo com o Yuki, Tohru no meio da confusão e outros personagens da família Sohma sem tanto desenvolvimento em aparições quase aleatórias. Muitas vezes, o contraste entre a personalidade doce da Tohru e as piadas para amenizar a carga dramática com a maldição do zodíaco e o passado pesado dos Sohma perde o timing certo.
Talvez pela falta de material de base, os personagens adotam padrões clichês e são extremamente previsíveis (e até um pouco forçados) na forma como interagem. Falta um fluxo natural, ou melhor, um propósito que justifique o que vemos no anime.
Para mim, na versão de 2001, Tohru chega a um nível de inocência questionável diante das circunstâncias em sua vida, sem falar na situação absurda da tenda e em como ela vai parar na casa da família Sohma. Ao menos, no remake e em Fruits Basket: Prelude conhecemos mais sobre a forma como a protagonista foi criada, justificando sua personalidade.
Kyo parece violento demais e indiferente com as coisas ao seu redor, o que evolui um pouco mais à frente, mostrando o personagem como um dos mais realistas no anime. Yuki, um dos meus personagens favoritos no remake, é quase invisível na primeira adaptação.
Vale a pena ver a versão de 2001?
Para quem está acostumado com os traços das animações atuais, a estética de Fruits Basket pode não agradar à primeira vista. Porém, se você focar na história e lembrar que o anime foi lançado em 2001, logo se acostuma.
Apesar das falhas de roteiro, falta de desenvolvimento mais profundo dos personagens e explicações em aberto, já que o mangá ainda não estava concluído, é um anime interessante de acompanhar. Mesmo assim, eu só tirei da minha lista para ver simultaneamente com o remake e, assim, comparar o que acontece em cada versão.
Se fosse para assistir apenas Fruits Basket de 2001, provavelmente eu escolheria outro anime. Talvez, eu acompanhasse o plot pelo mangá, porque Furuba tem uma história que desperta a curiosidade.
Fruits Basket (2019)

Quando saiu o anúncio da nova adaptação de Fruits Basket para 2019, resolvi ver tudo de uma vez só, mas eu esperei o lançamento de todas as temporadas. Nem faz tanto tempo desde que consegui acompanhar todos os episódios das duas adaptações. E, recentemente, tive a chance de ver o filme.
O remake de Furuba adaptou todo o mangá de Natsuki Takaya em 63 episódios, divididos em três temporadas, entre os anos de 2019 e 2021. Além da história — agora completa e com flashbacks do passado para melhor contextualizar o presente — os personagens passaram por um desenvolvimento mais profundo.
Não apenas Tohru, Kyo e Yuki, mas outros membros da família Sohma (com destaque para o big boss Akito) e até mesmo as inseparáveis amigas da protagonista têm mais espaço. Sem falar no visual, que ganhou um toque mais moderno, atualizado e bonito.
- Na 1ª temporada, somos apresentados a cada um dos animais do zodíaco e suas peculiaridades. No decorrer dos episódios, também conhecemos suas fragilidades, enquanto acompanhamos o crescimento dos personagens e a influência da Tohru.
- Na 2ª temporada, um ano se passa desde que a protagonista se mudou para a residência Sohma. Seus laços com Kyo, Yuki e Shigure estão mais fortes, assim como com outros membros da família. Aprendemos mais sobre a maldição, o passado de cada um e seu envolvimento emocional.
- Na reta final, o anime explica o que une os membros possuídos da família Sohma e a obsessão de Akito em assumir o papel de “deus”, como um líder soberano. Diante disso, Tohru está determinada a quebrar as correntes que prendem Yuki, Kyo e companhia à maldição do zodíaco.
Trilha sonora reconfortante

A trilha sonora de Fruits Basket mantém a sutileza da primeira adaptação, com um toque mais otimistas e uma seleção que torna o anime ainda mais envolvente. A 1ª temporada abre com “Again” (Beverly) e depois segue com “Chime” (Ai Otsuka). O fechamento fica por conta de “Lucky Ending” (Vickeblanka) e, posteriormente, “One Step Closer” (INTERSECTION).
Para a 2ª temporada, mais quatro músicas entraram no repertório. As openings incluem “Prism” (AmPm ft Miyuna) e “Home” (Toki Asako), enquanto as endings trazem “Ad Meliora” (The Charm Park) e “Eden” (Monkey Majik). E a última temporada abre com “Pleasure” (WARPs UP) e encerra com “Haru Urara” (Genic).
Várias delas — como “Again”, “Prism” e “Ad Meliora” — entraram na minha playlist de músicas de anime, sendo “Pleasure” uma das minhas preferidas tanto pelo som de conforto (com a chuva ao fundo) como pelo visual da abertura.
Personagens com profundidade



Apesar de manter sua essência, Tohru parece um pouco mais madura no remake. Ainda gentil, otimista e com um bom coração, mas gradualmente crescendo enquanto se envolve com os membros da família Sohma. Também gosto da seiyuu Iwami Manaka, representando muito bem a personalidade dócil da protagonista — uma voz suave e marcante que facilmente reconheci em outros animes como Tada-Kun Koi wo Shinai.
Além de Tohru, Fruits Basket apresenta 12 personagens baseados nos animais do zodíaco chinês: Yuki (rato), Shigure (cachorro), Momiji (coelho), Haru (boi), Rin (cavalo), Hatori (dragão/cavalo-marinho), Kureno (galo), Ayame (cobra), Hiro (ovelha), Kisa (tigre), Kagura (javali) e Ritsu (galo). Kyo é o gato, animal fora do zodíaco, o que faz com que ele fique de fora das reuniões da família Sohma e tenha um tratamento áspero por parte de Akito.
Entre os membros, Yuki e Kyo atuam como os maiores protagonistas dos Sohma, ao lado da Tohru, com foco principalmente na implacável rivalidade da dupla. E vale tudo. Batalhas de palavras, competições de todos os tipos e até mesmo lutas físicas.
Diferente da primeira adaptação, mergulhamos em uma camada mais profunda e conhecemos outro lado do Yuki. Na superfície, uma personalidade gentil e a aparência de um príncipe. Mais a fundo, um passado sombrio movido por medos, inseguranças e traumas de infância, assim como todos na família Sohma, inclusive Akito.
Já o foco em Kyo vai além de seu lado explosivo, sangue quente e competitivo, mostrando como seu relacionamento com Tohru se desenvolve de forma segura e gradual. Começa com uma curiosidade que vira amizade verdadeira, depois uma afeição profunda até evoluir para o romance.
Relacionamentos em suas várias formas



O remake de Fruits Basket também se dedica a explorar o amor em suas mais diferentes formas. Através de flashbacks, as relações familiares resgatam o relacionamento amoroso de Tohru com sua mãe. A ligação das duas é um contraste quando vemos a distância entre os membros afetados pela maldição e suas famílias, que se afastam e se isolam.
Entre o amor compartilhado e o amor renegado, o cenário fica ainda mais denso quando entendemos o comportamento de Akito como líder, embora suas atitudes agressivas não se justifiquem. Nem mesmo seu relacionamento tóxico, muitas vezes destrutivo, com Shigure.
Assim como os laços de sangue, as amizades em Furuba também ganham camadas mais profundas com relacionamentos realistas e cheios de nuances entre os personagens — seja com as duas amigas inseparáveis (Uotani Arisa e Hanajima Saki) ou até mesmo com Tohru, Yuki e Kyo ainda pequenos.
Vale a pena ver o remake de 2019?
O anime tem seus momentos cômicos, mas o clima de melancolia é ainda mais forte no remake de Fruits Basket pela profundidade dos personagens (tanto principais quanto secundários). E quanto mais episódios avançam, maior é a complexidade deles e de tudo que os envolve.
Tem drama (um monte), romance claro (Kyo, Yuki e até outros membros da família Sohma) e muitas lágrimas (conforme a história de cada um é apresentada). A animação ganhou melhorias visíveis se comparada à adaptação de 2001, assim como a progressão da história e o desenvolvimento dos personagens.
Empatia, amor, perdão, tristeza, superação de traumas, crescimento pessoal e autoaceitação são temas recorrentes. E são facilmente relacionáveis à vida real — transformando a adaptação de Fruits Basket em um compilado de valiosas lições para lidar com diferentes situações do nosso dia a dia, incluindo as adversidades.
Se não fosse a curiosidade para comparar as duas versões, eu teria visto apenas o remake, ainda me estendendo para o mangá. Então, sim, recomendo Furuba.
Fruits Basket 2001 vs Fruits Basket 2019

Nem todos os animes têm a chance de receber um remake completo como Fruits Basket. Enquanto escrevia, lembrei de Sailor Moon, que também ganhou uma adaptação mais fiel à obra original e uma animação moderna. E se a versão de 2001 deixou algumas lacunas em aberto, a versão de 2019 não apenas preencheu o que faltava, como se aprofundou no desenvolvimento dos personagens.
Com o mangá completo, Fruits Basket 2019 adapta todo o material do início ao fim, incluindo histórias trágicas do passado dos membros do zodíaco (apresentadas na obra original mais tarde). Por isso, a primeira animação foca mais na comédia e na leveza, enquanto a nova versão mergulha em uma narrativa densa e com alta carga emocional.
No anime mais recente, também temos a chance de acompanhar o relacionamento de Tohru com Kyoko através de flashbacks do forte vínculo criado entre as duas, as lições aprendidas e como tudo moldou a personalidade da protagonista. A amizade com Arisa e Saki também ganha mais tempo de tela, saindo da superfície para mostrar o impacto que uma teve (e ainda tem) na vida da outra.
Assim como as melhores amigas de Tohru, os 12 membros do zodíaco e Kyo têm seu momento de protagonismo. Rin e Kureno aparecem pela primeira vez, já que entraram no mangá quando Fruits Basket 2001 tinha finalizado. Momiji ganha um desenvolvimento mais interessante e menos infantil. E Akito também tem sua história revelada por completo, incluindo seu passado, sua verdadeira identidade e a chance de redenção.
Enquanto a primeira animação não traz uma imagem clara do relacionamento entre os personagens, principalmente amoroso, a versão de 2019 apresenta Tohru e Kyo como o casal oficial. Yuki também encontra seu par, assim como outros membros do zodíaco. E a maldição da família Sohma, enfim, é quebrada.
Impressões finais de Fruits Basket

Quem acompanhou Fruits Basket 2001, muito provavelmente vai gostar de Fruits Basket 2019. Enquanto a primeira animação é um clássico entre os fãs, o remake finalmente encerra a série com início, meio e fim.
Se você, assim como eu, quer ver as duas versões ao mesmo tempo, também deve apreciar a experiência, com uma inclinação um pouco maior para a adaptação mais recente. E quem quiser ir direto para a obra atual, vai gostar de acompanhar se o plot chamou sua atenção.
Furuba apresenta as camadas mais profundas de seus personagens, enquanto eles aprendem a seguir em frente e viver suas vidas além de membros do zodíaco. Eu, particularmente, prefiro um roteiro bem desenvolvido à comédia. Por isso, a série de 2019 ganha pontos pela forma como retrata o desenvolvimento de todos e como a trama progride. É como se em um momento ou outro, cada um tivesse tido a chance de protagonizar um pedacinho de Fruits Basket com sua própria história e carga emocional.
Momiji e Yuki são destaques positivos, enquanto Akito me deixa com uma série de dúvidas. Embora seu background seja bem apresentado, seu passado não justifica o complexo de deus, nem o tratamento abusivo.
Após acompanhar os dois animes de Fruits Basket, olhar para trás passa um ar de missão cumprida. Não apenas por finalizar uma série que há tempos ouço os meus amigos recomendarem, mas também pela sensação de que a história tem início, meio e fim e que todos os personagens têm a chance de amadurecer e seguir em frente. Portanto, Furuba vale a recomendação, mais o remake do que a primeira animação ou os dois juntos.
No próximo review, quero falar sobre Fruits Basket: Prelude. Enquanto isso, aproveite para conhecer Violet Evergarden, outro anime sobre sentimentos.