Inteligência Artificial (AI), Realidade Virtual (VR), Realidade Aumentada (AR), tecnologias que pareciam pertencer a um futuro distante já são o nosso presente. Influenciam o cinema, a área da saúde, da educação, da comunicação, entre tantas outras. Dando um passo adiante com a implementação da AI na música, o cantor Midnatt lançou Masquerade no dia 15 de maio em seis idiomas simultaneamente. A novidade faz parte do Project L da HYBE.
Recentemente, fiz um post sobre K-pop e AI, o que culminou na estreia de vários grupos nos últimos anos. Alguns compostos inteiramente por idols virtuais. Outros com formação híbrida, mesclando o mundo real e o virtual. Uma combinação que tende a aumentar e se tornar cada vez mais comum no nosso dia a dia. Será que temos um novo marco do uso da AI no K-pop ou, quem sabe, na indústria da música como um todo? Vem comigo!
Quem é o idol por trás de Midnatt?

Antes de analisar Masquerade, vamos passar rapidamente pela carreira de Lee Hyun (이현) — o nome por trás de Midnatt. Afinal, nem todo mundo deve conhecer o cantor, não é? Lee Hyun entrou na HYBE (Big Hit na época) em 2007.
Seu debut solo veio em 2009 com o miniálbum 30 Minutes Ago. Antes de sua estreia como solista, ele fez parte do grupo misto 8eight, com Joo Hee e Baek Chan, e do duo Homme com Changmin (2AM). 8eight ficou ativo até 2014, enquanto Homme se manteve em atividade de 2010 a 2018. De lá para cá, Lee Hyun lançou diversos singles para a OST de K-dramas, além de collabs e uma contribuição em You Are Here, parte do álbum BTS World: Original Soundtrack — trilha sonora para o jogo que leva o mesmo nome.
Agora, em 2023, Lee Hyun fez seu comeback como Midnatt (seu alter ego). Aliás, muitos idols seguem essa trilha, como Suga com Agust D, que recentemente lançou o álbum D-DAY.
Midnight is the starting point of a new day, and it begins in the dark. I believed the word portrayed well the story I wanted to tell as I start off fresh after a long hiatus.
Durante conferência para a imprensa, Lee Hyun falou sobre a escolha do nome. Midnatt significa meia-noite em sueco e também representa uma metáfora para o recomeço do idol: uma nova vida que se inicia entre o final do dia e o início de outro dia. Para ele, a palavra retrata bem a história que quer contar com seu retorno, além de mostrar um novo lado como solista através da tecnologia.
Lançamento de Masquerade em 6 idiomas simultâneos?
Masquerade é o primeiro single de Lee Hyun como Midnatt e chegou às plataformas de streaming em seis idiomas simultaneamente: coreano, inglês, japonês, chinês, espanhol e vietnamita. Se você ouvir todas as versões e reparar na pronúncia de cada palavra, perceberá uma certa fluência.
Mesmo com a prática, é natural a gente deixar o sotaque transparecer em um trecho ou outro em nossa fala e isso vale também para a música. Sem contar que os idols costumam lançar primeiro a música em coreano. Depois adaptam para o japonês, às vezes inglês ou chinês. Porém, leva tempo entre um lançamento e outro.
Então, como Midnatt lançou Masquerade em múltiplos idiomas de uma vez só? Graças à tecnologia da Inteligência Artificial. Além de transformar a letra da música para outras cinco línguas (além da versão original em coreano) e adaptar a pronúncia para soar de uma forma mais natural, a AI também possibilitou um dueto do cantor com ele mesmo como uma voz feminina (sintetizada a partir de sua própria voz).
O produtor, compositor e DJ, Choi Jin-woo — mais conhecido como Hitchhiker — trabalhou com o sintetizador de voz da Supertone para manter as emoções transmitidas na versão coreana de Masquerade. Somente com a tecnologia, a adaptação em busca da fluência poderia mudar o tom da música.
Análise da música
So go on and leave me 'Cause I don’t think I need ya (Mm-mm) Everything's an illusion Won't look back and I mean it (Mm-mm)
Deixando a AI de lado, eu gostei bastante da sonoridade na primeira vez que ouvi. A linha vocal de Midnatt é agradável para os ouvidos, enquanto a melodia me lembra levemente a época áurea dos DJs que eu mais gostava de acompanhar (David Guetta, Calvin Harris, Steve Aoki, Armin van Buuren, Avicii, Alesso). Bons tempos!
Masquerade começa com uma boa composição, seguindo o gênero do synthwave com uma guitarra rítmica. A combinação passa a sensação de um som “newtro” como uma reinterpretação que mistura o novo e o retrô. A mixagem, porém, soa meio incompleta, talvez um pouco superficial, como se faltasse algo. Pode ser só uma impressão.
Fora isso, gostei do que eu ouvi e da disposição da HYBE em buscar novas formas de produzir música através dos recursos tecnológicos que temos por aí. Já a letra traz o contraste entre os pensamentos e conflitos mais íntimos do artista, enquanto se afasta de seu passado e vive essa transição de Lee Hyun para Midnatt.
Com um ar futurista, o MV me lembrou muito cenas de filmes como Dune, Star Wars e Blade Runner. Para os efeitos visuais, a HYBE contou com a Giantstep, especialista na área, e com o auxílio de mais uma tecnologia — Realidade Aumentada (AR).
Afinal, do que se trata o Project L da HYBE?

Na entrevista de Bang Si-Hyuk para a Billboard, que eu compartilhei aqui no blog no post sobre K-pop e AI, eu comentei que a tecnologia da Inteligência Artificial já estava no escopo dos novos projetos da HYBE. Project L é um projeto musical piloto com o intuito de explorar as possibilidades de uso da AI na música e no K-pop.
Em outras palavras, uma nova era guiada pelo entretenimento tecnológico para levar o K-pop a outro nível, expandir seu horizonte e proporcionar novas experiências para os fãs. Masquerade é a primeira experimentação que podemos acompanhar a partir da aquisição da Supertone, enquanto Midnatt é o primeiro artista a estrear pelo Project L da HYBE.
Especialista em AI, a Supertone pode replicar vozes humanas e simular sotaques, inclusive características mais específicas que influenciam a forma de falar (como a idade). De acordo com Bang PD, a tecnologia vem para se tornar uma parte estratégica nas operações da HYBE. Ele acredita que, daqui para frente, contar apenas com artistas humanos pode não ser o bastante para satisfazer as necessidades e os gostos do público.
Isso não significa substituí-los, mas incorporar a tecnologia de uma forma que consiga expandir as habilidades dos artistas e ultrapassar as barreiras físicas (e linguísticas). Isto é, explorando novas possibilidades no K-pop e ampliando o alcance para uma audiência global. E, quem sabe, começar uma nova onda que pode mudar toda a indústria da música.
O que esperar dos avanços da AI no cenário musical?

Acredito que a palavra-chave para o que estamos vivenciando com a participação cada vez mais ativa da Inteligência Artificial no cenário musical é experiência. Portanto, eu descreveria o Project L como o pontapé inicial para a experimentação do que a tecnologia tem a oferecer.
Se levarmos em conta que a HYBE é a agência por trás do BTS, que detém se não a maior, mas uma das maiores (com certeza) bases de fãs pelo mundo afora, a globalização é inevitável. Como se não fosse o bastante, NewJeans, que fez seu debut em julho de 2022, também está trilhando o caminho da popularidade (e na velocidade da luz). Danielle, Haerin, Hanni, Hyein e Minji alcançaram a marca de 1 bilhão de streams no Spotify mais rápido do que qualquer outro grupo do K-pop, de acordo com a Billboard.
Direitos autorais
Usar a Supertone para levar a voz de seus idols para o idioma nativo dos fãs deve ser uma estratégia com prioridade máxima na HYBE. Bang PD deu a largada. Agora nos resta acompanhar como as leis de direitos autorais vão se adaptar à nova era da AI no cenário musical. Não apenas para as agências sul-coreanas e produtoras pelo mundo. Em teoria, qualquer pessoa com um sintetizador de voz poderia usar a tecnologia.
Tanto que recentemente um usuário do TikTok produziu a música Heart on my Sleeve e, com ajuda da Inteligência Artificial, sintetizou as vozes de Drake e The Weeknd. Não é o primeiro caso e, muito provavelmente, não será o último.
No caso da Supertone, o especialista em processamento de linguagem e Machine Learning, Lee Kyogu, disse à Fast Company que a tecnologia não pode ser utilizada pelo público em geral. Além disso, todas as vozes sintetizadas têm autorização de uso. Por fim, ele acrescentou que está comprometido em aperfeiçoar o algoritmo de detecção para discernir vozes reais das sintéticas.
Dar às pessoas a chance de ouvir uma música em seu idioma nativo (mesmo que não seja o caso de Masquerade de Midnatt para o português) pode trazer um refresh ao cenário musical. Isso vale principalmente para o K-pop, já que o coreano pode ser um pouco difícil de memorizar na hora de aprender uma letra. Embora eu goste de acompanhar músicas, filmes e séries em seu idioma original, ter a opção pode ser um plus.
E você, acompanha as novidades musicais com o toque da Inteligência Artificial e outras tecnologias? Me conta o que acha de tudo isso!