
Até que ponto a relação com a Inteligência Artificial — Artificial Intelligence ou AI — pode substituir a conexão entre as pessoas? Esta é uma das abordagens do K-drama My Holo Love, que apresenta uma tecnologia avançada na forma de holograma e com capacidade de evoluir a partir das interações com humanos. Chamado de Holo, a projeção tem a aparência do seu criador, mas ele só pode ser visto por quem estiver utilizando um par de óculos especial (desenvolvido para esse fim).
A partir daí, relações humanas, solidão, traumas, crimes cibernéticos e o amor (AI vs Humano) são temas recorrentes na série coreana, que chegou à Netflix em 2020. Ela já estava na minha lista quando foi lançada e, enfim, consegui assistir. Neste review, vou compartilhar as minhas impressões com você. Então me acompanhe!
Ficha técnica

Série: My Holo Love (나 홀로 그대)
Gênero: Ficção Científica e Romance
Número de Episódios: 12
Estreia: 07 de fevereiro de 2020 (Netflix)
Direção: Lee Sang-Yeob e Yoon Jong-Ho
Roteiro: Ryu Yong-Jae, Kim Hwan-Chae e Choi Sung-Joon
Elenco principal: Ko Nan-Do / Holo (Yoon Hyun-Min), Han So-Yeon (Ko Sung-Hee), Ko Yoo-Jin (Choi Yeo-Jin) e a lista completa
Resumo
So-Yeon (Ko Sung-Hee) tem dificuldade para reconhecer o rosto das pessoas devido a um trauma na infância. Ela mantém sua condição em segredo, ao mesmo tempo em que evita criar laços com as pessoas ao seu redor. Por obra do acaso (ou será o destino?), a moça solitária se torna beta tester do holograma Holo (Yoon Hyun-Min). Enquanto a relação dos dois se aprofunda, ambos descobrem as limitações de humanos e AIs. Holo tem a mesma aparência física de seu criador Ko Nan-Do (também interpretado por Yoon Hyun-Min), mas suas personalidades são completamente opostas. O que será que o destino reserva para o trio?
Destaques de My Holo Love

Fazia tempo que eu não escrevia o review de um K-drama, não é mesmo? O último foi Moon Lovers: Scarlet Heart Ryeo. Depois me dediquei a uma série de posts sobre o universo de Sword Art Online até chegar à série japonesa Alice in Borderland. Desde então, o tempo passou muito rápido e não consegui acompanhar nada de novo, além de animes — Tate no Yuusha, Cardcaptor Sakura Clear Card, Tsubasa Reservoir Chronicles, Sailor Moon Crystal, Kamisama Hajimemashita — e novidades no K-Pop.
Para não voltar a me afastar dos doramas, criei um checklist com uma seleção que pretendo acompanhar neste ano. O primeiro a receber o check na lista foi My Holo Love, que também pode ser encontrado como Holo Meu Amor, se estiver com o catálogo da Netflix em português.
Bom, vamos lá? A partir daqui, não me responsabilizo pelos spoilers, já que eles podem aparecer a qualquer momento, mas prometo me conter. O que mais chamou a minha atenção em My Holo Love foi o tema. Gosto de ler e aprender sobre tecnologia — Inteligência Artificial (IA), Big Data, Machine Learning, Internet das Coisas (IoT) e por aí vai. Foi por esse mesmo motivo que falei sobre o debut do aespa no ano passado, embora pareça que os avatares foram deixados de lado.
Holo não é um holograma qualquer

Os hologramas não são exatamente uma novidade. A idol virtual Hatsune Miku é um exemplo de 2007. Aliás, a indústria musical vem utilizando a tecnologia em um show ou outro também, mas nada em um nível tão avançado e realista como é mostrado em My Holo Love. Assim que Holo (Yoon Hyun-Min) é apresentado a investidores no primeiro episódio, todos ficam boquiabertos pelas semelhanças com os humanos.
Isso acontece porque quem apresenta a novidade é o próprio Holo, ao lado da CEO do Laboratório Gio, Ko Yoo-Jin (Choi Yeo-Jin). Somente no final da apresentação, ele revela que é, na verdade, um holograma baseado na tecnologia da Inteligência Artificial. A dupla explica que, ao chegar ao mercado, o AI só poderá ser visto pelo seu usuário por meio de um par de óculos especial.
Perseguição dá início a beta teste

Não demora para que o recurso comece a chamar a atenção de empresas concorrentes. Tanto que na mesma noite da apresentação, Yoo-Jin é perseguida por aqueles que estão de olho na tecnologia. Com a ajuda de Holo, ela consegue despistar os seus perseguidores, pelo menos até deixar os óculos em segurança e longe da cobiça alheia.
Assim começa a fase de beta teste com So-Yeon (Ko Sung-Hee). Devido a um trauma da infância, ela sofre cegueira facial, mas mantém essa condição em segredo e vive uma vida solitária. Por não reconhecer os rostos das pessoas ao seu redor, So-Yeon evita se aproximar e, muitas vezes, é julgada de forma errada, como alguém que não se importa com os outros.
Missão: fazer o seu usuário feliz

Ao encontrar os óculos em sua bolsa, So-Yeon experimenta e logo se assusta com a aparição repentina de Holo. Leva um tempo, mas quando ele finalmente consegue a sua atenção — sem ser confundido com um fantasma ou uma ilusão criada pela mente de So-Yeon — Holo explica a situação. Então, começa o beta test, sob três condições:
- Sua missão é fazer o seu usuário feliz;
- Aconteça o que acontecer, Holo não quebra as regras;
- Ele sempre dirá a verdade, independentemente da situação.
No início, além de ser uma ótima companhia para So-Yeon, Holo também começa a ajudá-la em seu trabalho e a reconhecer as pessoas ao seu redor. Ele tenta até dar uma de cupido, aproximando So-Yeon do seu crush. Mas um mal-entendido termina com uma festa no terraço, com direito a decoração holográfica, dança e algumas bebidas. No rastro do óculos para recuperá-lo, Ko Nan-Do chega até Holo e So-Yeon.
Holo e Nan Do: personalidades opostas

Por falar em Ko Nan-Do, a atuação de Yoon Hyun-Mi é o primeiro destaque que vem à minha cabeça quando penso em My Holo Love. Na série, o ator tem dois papéis principais. Um deles é o charmoso Holo, com uma personalidade doce e sempre disposto a fazer o que estiver ao seu alcance para ver o seu usuário feliz. Já Nan-Do é o oposto. Ele adota uma postura mais fechada, não é tão amigável à primeira vista e tem aquele clássico perfil de bad boy.
Várias vezes ao longo da trama, a dupla troca de lugar, mas é fácil apontar quem é quem. Não apenas pela aparência que muda. Enquanto Holo aparece com roupas claras na maior parte do tempo e o cabelo liso e sempre arrumado, Nan-Do usa tons mais escuros e tem o cabelo levemente bagunçado e ondulado. Além da caracterização, a atuação entre um personagem e o outro me deixou bem satisfeita Yoon Hyun-Mi.
Sem contar a última versão do Holo, quando a Magic Mirror consegue, enfim, colocar as mãos no tão cobiçado óculos e também no comando do Laboratório Gio. Depois do reboot, vemos uma terceira personalidade, mais fria e sem sentimentos, como seria um produto artificial. E ainda tem a versão completamente reprogramada e a versão com resquícios da antiga personalidade do Holo de Nan-Do e So-Yeon.
So-Yeon: quem não se identifica?

Por mais que não tenha me causado tanto impacto quanto a dupla Nan-Do e Holo, a atuação de Go Ko Sung-Hee provoca uma conexão com os telespectadores. Qualquer identificação não é mera coincidência. Quem nunca sentiu solidão em algum momento da vida? Quem nunca passou pelo julgamento de colegas de trabalho ou outras pessoas do seu círculo? Mesmo diante disso, So-Yeon não se deixa abalar e vive a vida da melhor forma possível.
Além disso, a personagem também prefere fazer as coisas do jeito certo. Lee Ki-Chan (Kang-Woo), seu crush, é o chefe do departamento de marketing da Prism, onde ela trabalha. Quando Holo se torna o seu coach amoroso, So-Yeon se recusa a seguir conselhos que não têm a ver com ela ou que a levem a mentir para conquistar Ki-Chan. Suas inseguranças retratam bem o que uma pessoa faria no seu lugar.
Improvável triângulo amoroso: AI vs Humano
O que começa com um beta teste, com o passar do tempo, acaba despertando um sentimento mais forte em So-Yeon. E ela começa a se perguntar se o que sente por Holo é amor. Afinal, o relacionamento entre uma humana e um holograma é possível ou é um devaneio da mente? Enquanto isso, Nan-Do — cuja imagem e semelhança inspirou Holo — também parece estar se apaixonando por So-Yeon.
Surge então um improvável triângulo amoroso. Pode parecer absurdo quando você pensa sobre isso, mas a série conduziu bem a relação entre os três. E trouxe um embasamento que justifica a forma como um personagem passa a ver o outro.
So-Yeon & Holo

Enquanto Holo ajuda So-Yeon a ganhar autoconfiança e a se aproximar das pessoas ao seu redor, sua conexão com ele aumenta. Holo é o namorado perfeito, não fosse por um detalhe: ele é um holograma. Ou seja, o relacionamento impõe algumas limitações. É fácil entender por que ela se apaixona por ele.
Ao lado de Holo, a figura da mulher solitária logo dá lugar a uma protagonista cheia de ânimo e confiança para seguir em frente. Holo, por sua vez, tem a chance de aprender muitas coisas com So-Yeon e evoluir como AI, tornando-se cada vez mais inteligente e “humano”.
So-Yeon & Nan-Do

Quando Nan-Do se muda para o apartamento ao lado de So-Yeon, vez ou outra ele troca de lugar com Holo. Isso acaba aproximando os dois, mesmo que no início ela não saiba que Holo é, na verdade, Nan-Do, consolando nos momentos que ela mais precisa e sempre cuidando dela de perto.
Mas a ligação entre os dois é muito mais profunda, já que So-Yeon e Nan-Do estão conectados pelo passado. Ao longo da trama, o presente transporta o casal para o tempo em que eram crianças. Conforme o relacionamento avança, um ajuda o outro a curar traumas do passado. Essa ligação é muito bem construída, apesar de um pouco demorada.
Relações humanas podem ser complicadas

O que deixa a desejar em My Holo Love é a motivação do Nan-Do ao esconder sua identidade no início. Se ele já sabia que a So-Yeon era a criança do seu passado, por que não revelou antes? Ele estava fingindo ou sempre se lembrou dela? Por que uma hora ele questiona a escolha de Holo quando tentou proteger o óculos da perseguição de carro e em outro momento sofre por estar longe dela? Por que ele quis incentivar o amor de So-Yeon por Holo acima dos seus próprios sentimentos?
Enfim, My Holo Love falha em ilustrar melhor os sentimentos de Nan-Do para quem acompanha a série. Eu fiquei bem confusa, e você? Porém, não foi apenas o criador do Holo que deixou dúvidas no ar. So-Yeon também levanta alguns questionamentos. Em um episódio, ela diz estar apaixonada por Holo, até vai em encontros com ele e age como se ele realmente existisse (mesmo que para os outros ela pareça estar falando sozinha).
Em outro episódio, os seus sentimentos parecem ter sido transferidos para Nan-Do sem o devido tempo — para nós telespectadores — de acompanhar o desenvolvimento gradual e natural das coisas. Seja como for, ver os dois deixando para trás a solidão que os rondava por uma vida mais feliz e com propósito aquece o coração.
Holo na vida real: qual seria o impacto?

Você consegue imaginar um mundo em que o Holo faz parte da nossa realidade? Eu acho que seria bem parecido com o que o K-drama retrata. Um pequeno caos! Se hoje as pessoas já se distraem facilmente com o celular, deixando, muitas vezes, de aproveitar o presente, imagine um holograma. Não apenas um holograma, mas praticamente um assistente pessoal para ajudar no trabalho, no dia a dia, no que for preciso.
Como pano de fundo, a série também traz à tona temas como a regulamentação das leis cibernéticas. Para salvar Nan-Do e So-Yeon, Holo provoca um blecaute. Quando a polícia chega até ele, depois de muita investigação e de um pauzinho e outro da Magic Mirror para colocar as mãos na tecnologia do Laboratório Gio, o que ela pode fazer? As leis para crimes cibernéticos ainda são, de certa forma, recentes e não contemplam tudo. No caso da série, então, como enquadrar um AI do nível do Holo? Não é fácil!
Final: Holo evolui para HELLO

Embora previsível, o final de My Holo Love trouxe algumas boas surpresas. Uma delas foi a volta de Holo após ter o seu programa deletado. Ele não retorna à sua forma original (ainda) — aparece apenas na foto entre Nan-Do e So-Yeon — mas deixa em aberto a possibilidade de voltar às vidas do casal. Afinal de contas, Holo não é um holograma qualquer, não é mesmo? Tudo é possível!

Uma surpresa nem tão inesperada assim, mas agradável de ver, foi o casamento dos amigos, rivais e, depois de algumas reviravoltas, recém-casados Yoo Jin com Baek Chan-Sung (Hwang Chansung). O programador chefe do Laboratório Gio Jo Jin-Seok (Jung Young-Ki) e a detetive Ji-Na (Jung Yeon-Joo) também estão juntos.
No final de My Holo Love, o K-drama deixa uma mensagem bem especial sobre a conexão entre as pessoas. Mesmo com um holograma avançado como Holo, as interações humanas são insubstituíveis. Por melhor que seja uma tecnologia, ela pode ter limites quando comparada às possibilidades que os humanos podem colocar em prática por meio das relações que um tem com o outro.

Depois da confusão causada com o lançamento de Holo, Nan-Do e So-Yeon unem forças para criar um novo conceito — HELLO — com foco nas relações humanas e nos laços entre as pessoas. Como não poderia ser diferente, o casal também encontra o seu final feliz após cicatrizar feridas do passado, com Nan-Do descobrindo a verdade por trás da morte de sua mãe e So-Yeon voltando a ver o rosto da mãe depois de tantos anos.
Saber que Nan-Do não foi abandonado pela mãe traz um certo alívio. Descobrir como isso se conecta à cegueira facial da So-Yeon também traz um plot interessante. Além disso, a série nos mostra o propósito do Holo quando foi criado pela mãe do Nan-Do, ajudando o pequeno a falar as suas primeiras palavras.
Por que assistir My Holo Love?


My Holo Love traz um mix de ficção científica (sci-fi), espionagem corporativa e romance. É um K-drama leve e curtinho, já que tem menos episódios do que as séries tradicionais. A primeira parte foca mais no relacionamento de Holo com a So-Yeon, enquanto Nan-Do vai surgindo gradualmente na trama. A segunda parte começa a ficar mais séria com as investidas da Magic Mirror para colocar as mãos na nova tecnologia.
A série é relativamente previsível, não deixa aquela ânsia de ver o próximo episódio na sequência (ao menos no início) e tende a deixar a lógica para trás em diversos momentos. Afinal, quem precisa dela em uma história sobre AI, não é mesmo? Ao menos, é o que o diretor deve ter pensado, imagino.
Então, assistir ou não, eis a questão! Vale a pena ver My Holo Love pelo tema, pela leveza das cenas e pela mensagem final. O conceito de AI instiga e nos faz pensar como seria ter o Holo na vida real. Os romances são previsíveis, incluindo o casal principal Nan-Do e So-Yeon, porém com força suficiente para aquecer o coração. Por fim, além de trazer à tona temas como solidão, espionagem corporativa e crimes cibernéticos, a mensagem mais importante fica por conta da sólida conexão que os humanos conseguem criar entre eles.
Quer mais recomendações de séries coreanas ou animes? Então, confira os reviews que eu já compartilhei no blog e não se esqueça de voltar aqui para me contar do que gostou! Combinado! 😉