System Call! Vem aí mais um review de um dos mais famosos animes do gênero isekai: Sword Art Online Alicization. A terceira temporada de SAO é, por enquanto, a última adaptação da light novel e também foi uma das mais esperadas por quem acompanha a saga de Kirito e Asuna desde 2012. Se bem que não será bem isso aqui, já que a trama é centrada no trio Alice, Kirito e Eugeo (primeira metade) e a guerra no Underworld (segunda metade). O arco traz à tona temas intrigantes como imersão total que confunde realidade virtual e mundo real, Artificial Intelligence (AI), transhumanismo, simulação e sistema de crenças.
Se você levar em conta as mensagens por trás do universo de SAO, Alicization é uma das adaptações mais interessantes do meu ponto de vista. Sem contar a trilha sonora, a protagonista Alice e o novo nível de realidade virtual que vemos aqui. Neste review, temos bastante coisa para analisar, mas eu vou focar principalmente nas mensagens por trás da história. Então vem comigo?
Ficha técnica
Gênero: Ação, Aventura, Fantasia Sci-Fi, Drama, Romance
Estúdio: A-1 Pictures
Baseado em: Light Novel
Número de Episódios: 47
Estreia: 2018/2020
Resumo
No ano de 2026, Sword Art Online já está em outro nível de realidade virtual, uma imersão tão real que deixa até o Kirito — que tem as suas memórias apagadas — em dúvida, por um momento, sobre o mundo de Underworld. Parte do Projeto Alicization (PA), esse novo universo foi criado pela Rath com o intuito de testar uma tecnologia de imersão total chamada Soul Translator (STL). Seu objetivo é obter o Fluctlight (alma) artificial para fins militares. Enquanto Kirito não sabe das reais intenções da empresa, ele vive ao lado de Alice e Eugeo, amigos de infância dessa nova realidade virtual. Tem muitas coisas envolvidas por trás disso e que vão sendo reveladas ao longo dos 47 episódios do anime.
Sword Art Online Alicization: o encontro do real com o artificial
“Não há diferença significativa entre o mundo real e o mundo virtual. É inútil perguntar a qualquer um o que eles realmente são. Tudo o que você pode fazer é aceitá-los e acreditar neles, porque o que quer que sejam em sua mente, é sua verdadeira identidade.”
Sword Art Online Alicization é mais complexo dos que os seus antecessores. Por mais que o foco de SAO muitas vezes seja em elementos de ação, a terceira temporada vem com a premissa de trazer à tona discussões complexas sobre o mundo real e a realidade virtual. Um dos momentos mais intrigantes ganha vida nas falas entre Kirito e a Administrator (Quinella) durante a batalha final da primeira parte, mas isso vai ser assunto aqui no post mais à frente. Do que se trata então SAO Alicization?
A adaptação do arco Alicization é dividida em duas sagas. E já vou começar com spoilers! A primeira delas foca no trio Alice, Kirito e Eugeo e envolve algumas questões do mundo de Underworld, tais como:
- Código de Tabus;
- Sistema da Igreja Axioma;
- Catedral Central e os cavaleiros da integridade;
- Artes sagradas e o domínio das armas divinas;
- Selo no olho direito.
Já a segunda traz, na maior parte dos episódios, a guerra — entre o Império Humano e o Território Negro — que toma conta da realidade virtual após a queda da Administrator. Quando ela chegar ao fim, Kirito e Asuna voltam ao mundo real depois de passar 200 anos em Underworld. Enquanto isso, Alice está no mundo real, sendo apresentada como a mais nova AI da Rath. E ainda temos o final, de volta ao “game” em um ambiente espacial, com Kirito, Asuna e Alice.
A imersão de Kirito em Underworld
Lembra quando eu falei que até mesmo o Kirito ficou confuso sobre Underworld ser a sua realidade ou um mundo virtual? Isso acontece na segunda vez que ele retorna ao jogo. A primeira entrada de Kirito em Underworld acontece quando ele vive ao lado de seus amigos de infância Alice e Eugeo na realidade virtual (até a Alice ser levada para a Catedral Central).
Neste momento do anime, ele foi contratado pela Rath e pelas Forças de Defesa Japonesa para testar o Underworld e interagir com as Fluctlight artificiais sob a premissa de ajudar a desenvolver um novo game de imersão. O objetivo real envolve o uso militar por meio da criação de um novo tipo de inteligência artificial, clonando almas humanas.
Para entrar em Underworld, a sua consciência (alma ou ainda Fluctlight) é conectada diretamente à realidade virtual por meio da Soul Translator (STL), parte da quarta geração da tecnologia FullDive (imersão total). Isso faz com que a experiência seja muito mais realista quando comparada a outros jogos de imersão. Inclusive, os jogadores podem sentir dor durante as batalhas. E todas as suas memórias são deletadas, afinal, o STL também pode manipulá-las de alguma forma.
Além da sensação de realidade, a tecnologia também proporciona uma percepção diferente de tempo. Isso significa que a passagem de anos em Underworld corresponde a apenas alguns minutos ou horas do mundo real. Na aceleração máxima, um minuto no mundo real equivale a 10 anos em Underworld.
Já na segunda vez, Kirito volta ao Underworld de forma inconsciente (sem lembrar de nada) e em segredo após sofrer um atentado no mundo real. Enquanto levava Asuna para casa, Kirito é surpreendido por Kanamoto Atsushi (Johnny Black) — um dos integrantes da guilda Caixão Sorridente (Laughing Coffin) em SAO e também um dos inimigos de GGO como cúmplice do Death Gun — com uma injeção letal.
Depois do atentado, Kirito foi levado às pressas para Ocean Turtle (uma base secreta do governo no meio do Oceano Pacífico onde a Rath mantém o Underworld) com danos cerebrais. Assim, a sua consciência foi transferida para um avatar dentro realidade virtual como a única forma de tentar curá-lo. Em função das sequelas, ele fica um pouco confuso sobre o lugar em que está no início e não pode voltar para o mundo real (deslogar), nem entrar em contato com os administradores. Não demora até que a Asuna, com a ajuda de seus amigos, encontre o paradeiro de Kirito e descubra mais sobre o Projeto Alicization.
Enquanto isso, no mundo virtual, Kirito e Eugeo partem em uma jornada para resgatar Alice, que foi levada ainda pequena por um dos cavaleiros da integridade depois de acidentalmente quebrar um dos Códigos de Tabus. Aí começa uma longa jornada!
Sistema de crenças e o Código de Tabus
Já deu para perceber um pouquinho o grau de ousadia do Projeto Alicization, né? O problema é que as cópias das almas humanas perdiam o controle toda vez que descobriam que eram clones. Na tentativa de resolver o impasse, a Rath usou a tecnologia FullDive para criar AI humanas dentro de Underworld, acompanhando todo o crescimento desde bebês. Como o tempo dentro do jogo é diferente, logo os primeiros Fluctlight (podemos chamar também de NPCs) se transformaram em uma população, levando, assim, à criação de um sistema de crenças próprio. A partir daí, veio a Igreja Axioma sob o comando da Administrator (Quinella), a Catedral Central, os leais cavaleiros da integridade e o Código de Tabus.
Com a implementação do Código de Tabus, as AI humanas se tornaram extremamente obedientes e pacíficos, sem questionar ou violar qualquer regra. Dessa forma, o governo não conseguiu cumprir o propósito de usar a nova tecnologia para fins militares. Com a entrada de Kirito em Underworld, o objetivo real era usar a interação humana como meio de estimular os Fluctlight a quebrar o Código de Tabus.
Isso acontece em uma das cenas mais polêmicas de Sword Art Online Alicization, envolvendo debates sobre ética e moral, em meio a uma tentativa de estupro de Ronye e Tiese. Aliás, o tema sempre aparece nas temporadas de SAO, né? Na primeira com Yuuki Asuna e depois com Asada Shino. Seja como for, é neste momento que Eugeo quebra o Código de Tabus e libera o selo do olho direito. É como se fosse um bug gerado quando o Fluctlight artificial se liberta das regras do sistema, escolhendo, por ele mesmo, o que é certo e errado.
Artes sagradas: magia vs tecnologia
Assim como o Código de Tabus foi criado para manter um sistema de crenças — que sustenta a Catedral Central e a autoridade da Administrator — as artes sagradas, na verdade, são comandos do sistema (linguagens de código). Na visão dos Fluctlight de Underworld, porém, são rituais mágicos gerados a partir de partículas do ambiente. E quem está por trás dessa concepção sagrada é nada mais, nada menos do que a Igreja Axioma.
Para que as coisas fiquem ainda mais realistas, o domínio das artes sagradas exige muito tempo de treinamento, além da posse de armas da classe de Objetos Divinos. Por isso, apenas os cavaleiros da integridade conseguem alcançar o nível máximo (Armament Full Control Art), aumentando o poder ofensivo de suas armas durante os combates. Pelo menos, é nisso que todos em Underworld acreditam.
“Enhance Armament!” Depois de passar dois anos na Academia da Espada, entre uma batalha e outra, Kirito e Eugeo também alcançam o domínio máximo de suas espadas. E conforme a jornada da dupla avança no confronto com os cavaleiros da integridade, eles também liberam as memórias das armas, passando para o próximo nível “Release Recollection!”.
SAO em massa na Guerra de Underworld
Na segunda parte de Sword Art Online Alicization — depois da derrota da Administrator — Kirito sai de cena devido aos danos cerebrais que afetam o seu Fluctlight com os ataques de terroristas na Ocean Turtle. Então Asuna, com ajuda dos seus amigos e sobreviventes de SAO, convoca todos os jogadores de Alfheim Online (ALO) a converterem as suas contas e se unirem aos cavaleiros da integridade na Guerra de Underworld. O que era apenas uma batalha virtual logo tomou proporções internacionais, envolvendo os jogadores de SAO e de outros países como Estados Unidos, China e Coreia.
De um lado, temos o Território Negro sob o comando dos terroristas que hackearam o jogo. Contratado pela NSA para roubar a tecnologia AI da Rath (a Alice), Gabriel Miller (aka Subtilizer em Gun Gale Online) entra com a conta do imperador Vecta e se torna o antagonista de War of Underworld, junto a PoH (líder e fundador da guilda Caixão Sorridente em Sword Art Online).
Do outro, temos o Império Humano com Asuna, Sinon e Leafa nos avatares divinos de Stacia (deusa da Criação), Solus (deusa do Sol) e Terraria (deusa da Terra) respectivamente. Além disso, os cavaleiros da integridade e os jogadores de SAO que converteram as suas contas para entrar em Underworld também participam da batalha.
Sem contar algumas participações especiais. Quando Asuna já está quase sem forças, mas se recusa a desistir, ela ganha um poder a mais com a presença espiritual da Konno Yuuki de Alfheim Online (ALO). Lembra? Além disso, o casal Yuna e Eiji, diretamente do filme Sword Art Online Ordinal Scale, também vêm ajudar. Uma pena o trio aparecer tão rápido!
A apresentação de Alice no mundo real
No final, devido ao estágio de aceleração máxima que toma conta do Underworld depois da derrota do imperador Vecta, Kirito e Asuna precisam passar 200 anos na realidade virtual. Enquanto isso, Alice está no mundo real sendo apresentada como o mais novo modelo (bottom-up, isto é, verdadeiramente adaptativa) de Inteligência Artificial, que replica a estrutura da consciência humana.
A velha discussão sobre robôs roubando empregos de humanos vem à tona, mas a ideia dos Fluctlight de Underworld vai além. O projeto visa criar um futuro de igualdade entre os humanos e as AI do Projeto Alicization. Isso é passado de forma bem rápida, já que vemos o despertar de Kirito e Asuna, uma cena cômica da Alice “fugindo” até a casa do Kirito como uma encomenda e o retorno dos três a Underworld — agora em um clima espacial — ao descobrirem que o mundo virtual corre perigo.
Arco de Sword Art Online III
Diferente das outras temporadas, Sword Art Online Alicization traz a adaptação de apenas um arco. Os 47 episódios se passam dentro do universo de Underworld (UWO ou UW), uma realidade virtual criada para abrigar os Fluctlight artificiais criados a partir da consciência humana em um projeto militar secreto. Embora o anime possa ser dividido em dois momentos principais — o resgate de Alice e o domínio da Administrator + Guerra de Underworld — o arco é um só e recebe o nome de Project Alicization. Dentro do arco, temos algumas subdivisões:
Project Alicization
- Alicization Beginning: episódios 1 a 13 acompanham a jornada de Kirito e Eugeo para resgatar a Alice, além de mostrar o sistema criado pela Administrator para controlar a população do Underworld e evitar rebeliões;
- Alicization Rising: episódios 14 a 20 apresentam os cavaleiros da integridade, as memórias apagadas e o selo do olho direito;
- Alicization Uniting: episódios 21 a 24 mostram a batalha final contra a Administrator.
War of Underworld
- Alicization Invading: episódios 24,5 a 29 funcionam como um preparo para a guerra que está por vir, com cenas do mundo real e a rebelião do Território Negro;
- Alicization Exploding: episódios 30 a 34 seguem o início da guerra e a entrada triunfal de Asuna como a deusa Stacia;
- Alicization Awakening: episódios 35 a 41 revelam a chegada de reforço para os dois lados (“beta testers” no Território Negro e jogadores de SAO no Império Humano);
- Alicization Lasting: episódios 42 a 47 trazem o aguardado despertar de Kirito e as batalhas finais em Underworld, além da chegada de Alice ao mundo real.
Narrativa mescla ação com storytelling
Seguindo a premissa da imersão, Sword Art Online Alicization fez sua tão aguardada estreia em 2018 e foi um pouco mais além ao apresentar enredos entrelaçados que, constantemente, confundem os limites entre o virtual e o real. Temos duas timelines — dentro e fora do jogo — que se mesclam no decorrer da trama. Sua narrativa traz um pouco do que vimos em SAO (ação e saltos no tempo) com o storytelling (ritmo melhor, trama menos estereotipada e desenvolvimento dos personagens) do universo de GGO na segunda temporada.
O início é um pouco confuso, porque tudo já começa dentro de Underworld, com Kirito pequeno ao lado de Eugeo e Alice (também crianças). Mas desperta a curiosidade. As coisas começam a tomar o curso normal na segunda vez em que o protagonista mergulha na realidade virtual — dessa vez com sua idade atual e com as memórias apagadas da infância com os dois Fluctlight. Ele se une a Eugeo (já maior e sem lembranças da infância com Kirito) em uma missão de resgate da Alice (agora no time dos cavaleiros da integridade).
SAO Alicization segue um ritmo consistente e traz um pouco mais de caracterização ao nos apresentar o Underworld, suas regras e as intenções por trás do Projeto Alicization. Porém, volta a usar o recurso de saltos no tempo (parte negativa) com uma boa dosagem de cenas de ação (um tanto aceleradas), lembrando que agora os personagens podem sentir cada golpe das batalhas como se fosse o mundo real.
Ao meu ver, a Alice ganha um bom desenvolvimento, mas fica um potencial inexplorado para Eugeo. E devo dizer que a personagem me conquistou pela personalidade e coragem de questionar o que era certo ou errado depois de se encontrar com Kirito e Eugeo. Além disso, ela me lembra visualmente a Saber de Fate/Stay Night, assim como a protagonista de Violet Evergarden. Então, seria difícil eu não gostar dela.
Kirito ❤ Asuna e os novos personagens
Em SAO Alicization, Kirito e Asuna estão de volta. Na primeira parte, enquanto Kirito está na realidade virtual, Asuna segue no mundo real buscando pistas do seu paradeiro após o atentado e, mais tarde, tentando encontrar meios de trazê-lo de volta. Já na Guerra de Underworld, os dois se encontram novamente dentro do jogo, com Kirito inconsciente e Asuna assumindo a linha de frente na batalha contra o Território Negro e o imperador Vecta. Entre os novos personagens, quero destacar quatro.
Alice
Alice nos é apresentada como uma das amigas de infância do Kirito dentro de Underworld, quando é um beta tester do game. Alice, Kirito e Eugeo andam sempre juntos até que um dia resolvem sair em uma aventura em busca de gelo para aumentar o tempo de vida útil da comida. No caminho de volta, o trio se perde e Alice, depois de se desequilibrar, acidentalmente encosta um dedinho além do limite onde está o Território Negro. Foi o suficiente para quebrar o Código de Tabus e ser levada até a Catedral Central por um dos cavaleiros da integridade.
Primeiramente, Alice vê Kirito e Eugeo como inimiga, já que teve as suas memórias apagadas para entrar no time de cavaleiros da integridade. Porém, durante uma batalha contra a dupla, ela começa a se questionar sobre o que é certo e errado. SAO Alicization precisava de uma personagem como ela — forte, independente, nobre e determinada a lutar pelo que acredita. Afinal, tivemos Asuna em SAO e Sinon em SAO II.
Eugeo
Ao lado de Alice e Kirito, Eugeo completa o trio de protagonistas no universo de Underworld. Quando maior, ele segue a sua missão como lenhador, cortando, aos poucos, o gigante cedro do vilarejo Rulid onde cresceu. Com a ajuda de Kirito, ele completa a tarefa muito antes do esperado e tem a chance de escolher uma nova missão. Inspirado pelo amigo, Eugeo quer se tornar um espadachim. Os dois, então, saem em uma jornada até a capital Centoria para entrar na Academia das Espadas, onde podem aprimorar as suas habilidades.
Com um caráter pacífico, quase uma versão mais gentil e suave de Kirito, Eugeo luta ao seu lado até o fim, mesmo depois da trágica batalha contra a Administrator. Apesar do enorme potencial a ser explorado como protagonista, sinto que acabaram deixando o personagem mais como uma sombra do Kirito, sabe? Mas seu papel foi primordial para o desenvolvimento da história.
Cardinal e Administrator (Quinella)
Cardinal é, de certa forma, parte da Administrator. Apesar de ter a aparência de uma garotinha, ela tem o mesmo poder que Quinella e herdou o subprocesso de fazer verificações de erro no Sistema Cardinal. Seu desejo é restaurar a integridade de Underworld. Ao recuar após sua primeira batalha contra Quinella, Cardeal se refugia em uma biblioteca ligada à Catedral Central.
A Administrator, por sua vez, quer o controle de tudo. Ela “hackeia” o seu próprio sistema para não envelhecer mais e mantém o domínio do Império Humano por muitos anos graças ao sistema de crenças que criou.
Animação de brilhar os olhos e trilha cativante
Do ponto de vista da animação, Sword Art Online Alicization é lindo de se ver. Geralmente, os traços de um anime, além da história, são critérios que eu levo em conta na hora de escolher o que assistir ou não. Os cenários de Underworld são vibrantes e repletos de detalhes gráficos como o reflexo dos raios de sol nas folhas das árvores ou o brilho na água.
Tudo é um espetáculo visual à parte! Tanto que a terceira temporada de SAO foi até comparada, visualmente, com o filme “Fate/stay night: Unlimited Blade Works” pela qualidade da animação. E se você, assim como eu, gostou das duas primeiras temporadas (relevando o que poderia ter sido melhor), provavelmente vai gostar de Alicization também.
A trilha sonora de SAO Alicization também empolga. A primeira abertura fica por conta de LiSA com “Adamas” e tem um ritmo eletrizante, que contagia e transmite força. Já o encerramento vem na voz de Eir Aoi com “Iris”, com uma vibe mais astral do que normalmente ouvimos em trilhas que fecham cada episódio de anime por aí. Na linha de frente, temos ainda “Resister” de Asca com uma melodia contundente, perfeita para abrir uma animação. E ela vem acompanhada de “Forget-me-not”, seguindo aquela linha mais próxima de balada mas ainda com uma cadência forte que fecha bem o mood e “Niji no Kanata ni”, embalado por notas de piano, ambas da ReoNa. Aliás, a voz dela me lembra muito cantora Yui.
Em War of Underworld, o primeiro tema de abertura ganha vida na voz de Haruka Tomatsu com “Resolution”, enquanto o encerramento marca a volta de LiSA com “Unlasting”. Também temos uma segunda abertura com “Anima” de ReoNa e mais um encerramento com Eir Aoi, dessa vez pelo som de “I Will”. A seleção faz com que a segunda parte do arco abra de um jeito vibrante e feche com um tom mais emotivo. Por fim, a trilha da série é obra de Yuki Kajiura.
Realidade virtual, AI e as mensagens
Ao longo do texto, eu trouxe algumas das mensagens abordadas em Sword Art Online Alicization, tendo a imersão total entre a realidade virtual e o mundo real como tema central. A interação entre os dois universos traz até um pouco do tema transhumanismo, que nada mais é do que a transcendência humana por meio da tecnologia. De certa forma, vemos isso acontecer com a Administrator ao mesclar o seu Fluctlight com o sistema de Underworld.
SAO Alicization também aborda questões éticas e morais através da implantação de um sistema de crenças — Código de Tabus e Artes Sagradas — criado pela Igreja Axioma a fim de perpetuar a autoridade de Quinella. Isso funciona como um mecanismo para limitar as ações movidas por questionamentos entre o certo e o errado.
No caso das Artes Sagradas, temos ainda a questão do status, representado pelos cavaleiros da integridade. Por serem seres evoluídos e convocados de “forma divina”, eles podem aprimorar a sua autoridade a ponto de dominarem as suas armas, aumentando o poder ofensivo delas durante as batalhas. Na verdade, todos eram humanos comuns que tiveram as suas memórias manipuladas para que pudessem ter devoção total a Quinella.
A revelação da verdade poderia causar uma quebra existencial, já que mexem com crenças que dão sentido ao que os Fluctlight pensam ser. O mesmo vale para o momento em que a Asuna entra em Underworld e revela detalhes sobre o mundo real, o mundo de onde ela e Kirito vêm, inclusive que a morte do jogo significa apenas uma saída, um retorno do mundo deles. Como dizer a todos os Fluctlight que o Underworld não é “real”? E que os Fluctlight fazem parte de um projeto baseado em Inteligência Artificial?
Em contrapartida, fica como aprendizado também a participação de Sortiliena Serlut, como mentora do Kirito na Academia das Espadas. A mensagem aqui é que o poder da mente (ou da imaginação) pode transformar pensamentos em coisas concretas (lei da atração). Isto é, a capacidade da mente em canalizar um desejo a ponto de torná-lo real.
Por fim, a última mensagem que quero destacar de Sword Art Online Alicization acontece pouco antes da luta final entre Kirito e Quinella. Além de um jogo de realidade virtual, Underworld nada mais é do que uma simulação, certo? E o assunto vem à tona em uma conversa entre os dois. Ao perceber a natureza humana de Kirito, Quinella questiona: “Você não é daqui, não é? Um humano que veio do outro lado. Qual foi o seu motivo para vir até o meu mundo?”
Ciente da sua própria realidade, ela segue: “Do outro lado estão as pessoas que realmente controlam esse mundo. Eles provavelmente vão achar ‘bem, o experimento não deu certo. Vamos começar de novo’. E, ao toque de um botão, tudo aqui desaparecerá.” E em seguida provoca o Kirito: “E se o mundo real também fosse artificial? E se esse mundo também tivesse um criador externo? Se um dia esse criador aparecesse e ordenasse que o servissem, o que vocês fariam?”
Mais à frente, já na Guerra de Underworld, após ouvir detalhes da Asuna sobre o mundo real e sobre a sua natureza, Alice deixa uma mensagem interessante: “O corpo não é nada mais do que uma cápsula para o coração. O coração…a alma é a única coisa que existe de verdade. E o que determina a alma do seu coração é apenas você.”
Questionamentos à parte, Sword Art Online Alicization nos mostra um final em aberto com o retorno de Alice, Kirito e Asuna a Underworld 200 anos depois. Após desvendarem um código que os leva direto para a realidade virtual, o trio se depara com o espaço e duas naves espaciais, pilotadas por Stica Schtrinen e Laurannei Arabel — ao que tudo indica, descendentes de Tiese e Ronye. E o anime encerra com a frase: “Kirito voltará”.
Impressões finais de Sword Art Online Alicization
Enfim, a terceira temporada de SAO seguiu o seu próprio caminho, trazendo um pouco de suas antecessoras. Eu, particularmente, gostei muito do início, mas acho que deixou um pouco a desejar na trajetória final. Talvez, porque as minhas expectativas estavam lá no alto e também pela aceleração de algumas partes do anime. Para fechar o post, que já se estendeu bastante (eu sei), vou listar rapidamente o que funcionou e o que poderia ser melhor.
Tentar entender tantos conceitos científicos — Fluctlight, STL, Projeto Alicization e o próprio universo de Underworld — de uma só vez, deixou as coisas um pouco complexas demais no início. Mas depois fluiu. Como se não bastasse, os saltos no tempo voltaram, transportando Eugeo e Kirito recém-amigos a espadachins renomados na Academia das Espadas dois anos depois de deixarem o vilarejo Rulid. O que aconteceu nesse tempo? Não sabemos! Aliás, mal sabemos o que Kirito e Asuna fizeram em 200 anos de Underworld, só que foram tratados como rei e rainha.
Gostei demais dos personagens Alice e Eugeo. Mesmo sendo Fluctlight artificiais de Underworld, ambos têm sentimentos e agem como humanos o tempo todo. Você vê diferença com o Kirito ou a Asuna? Eu também não! No decorrer da série, a gente nem lembra que eles são “apenas dados”. Por falar nisso, SAO Alicization explora o desenvolvimento de seus personagens de uma forma um pouco mais profunda.
Alice é a criança que foi levada de seu vilarejo para fazer parte dos cavaleiros da integridade (adeus infância). Eugeo é o amigo que carrega o sentimento de culpa e frustração por não ter feito nada para salvá-la. São circunstâncias e motivações que os tornam ainda mais humanizados sob o nosso ponto de vista.
Sword Art Online Alicization tinha tudo para ser a melhor animação, superando, inclusive a temporada em Aincrad. O anime começa muito bem, mas se perde no meio do caminho com alguns erros que já vimos aparecer em seus antecessores. Isso ocorre principalmente na falta de uma dosagem mais equilibrada — de tempo e sentimento — para cada momento em tela. De qualquer modo, recomendo pela parte gráfica, trilha sonora e os questionamentos interessantes, abordando temas como Inteligência Artificial, realidade virtual e simulação.
Gostou do review? Então aproveite para conferir mais sobre o universo de SAO no review de Sword Art Online II. Boa leitura! 😉
Hasta La Tour 