Review · Séries

Review: La Casa de Papel é muito mais que uma série sobre roubo

Gente! Eu estou muito animada com tudo que estou assistindo de animes e séries, que é o que mais gosto de fazer entre uma viagem e outra, e ando com vontade de escrever um review atrás do outro. Confesso que sou cinéfila de carteirinha e também adoro passar horas vendo animes e doramas, mas não sou tão ligada assim em séries fora do eixo Japão/Coreia do Sul/China. Claro que sempre tem uma série ou outra por aí. Hoje eu vou fazer meu primeiro review de uma série que se encaixa nesse perfil e quero começar de uma forma diferente, fora do mainstream dominado por produções americanas. Vou começar com uma série espanhola que vem chamando a atenção e pode ser considerada uma das melhores dos últimos tempos: La Casa de Papel.

La Casa de Papel foi lançada na Espanha pela Antena 3 como uma minissérie, originalmente com 15 episódios. Ao adquirir os direitos de distribuição, a Netflix deu uma repaginada na série. Dividida em duas partes, a primeira foi lançada em dezembro com 13 episódios. A segunda chegou hoje com mais 6 episódios (trailer) para completar o catálogo e saciar a curiosidade de quem acompanhou o ambicioso plano de invadir a Casa da Moeda na Espanha. Prometo não dar spoilers, pelo menos nada que vai atrapalhar quem ainda não viu a série até o fim. Antes de continuar, vamos à ficha técnica.

La Casa de Papel (Divulgação/Netflix)

Título: La Casa de Papel
Criação: Álex Pina
Número de episódios: 19
Lançamento: 2017

O plano é o seguinte: entrar na Casa da Moeda da Espanha, onde se concentra toda a produção de dinheiro do país, mas não para “roubar” e sim para produzir o próprio dinheiro. Audacioso, não? A meta é fabricar mais de 2 bilhões de euros. Afinal, é de lá que saem todas as notas de euros que circulam país a fora. E se elas ainda não foram impressas, não seria propriamente um roubo, né? Ao menos é isso que defende a mente por trás do plano perfeito. O líder do grupo é conhecido como Professor, mas seu nome verdadeiro é Sergio Marquina. Ele escolhe cada integrante a dedo, de acordo com as habilidades de cada um para fazer com que nada saia errado no plano, e reúne todos em um casarão afastado, onde passam cinco meses em treinamento, estudando todos os detalhes. Inclusive, todas as possibilidades que poderiam acontecer, todos os caminhos que a polícia poderia tentar, tudo, absolutamente tudo, da forma mais minuciosa possível.

Para dificultar o trabalho da polícia e ganhar tempo (afinal tempo é dinheiro, literalmente, não é?) e também para não criar vínculos pessoais entre eles (quanto menos souberem uns dos outros melhor), os membros usam nomes de países para se comunicarem entre si durante o assalto, exceto o Professor (Álvaro Morte), que comanda todo o esquema do lado de fora da Casa da Moeda. Um personagem pra lá de misterioso, em cenas onde o cinismo por vezes predomina e o nervosismo, em outros momentos, toma conta.

Se o Professor tem o plano perfeito, falta só encontrar as pessoas com as habilidades necessárias para executá-lo. O grupo que invade o local com máscaras do pintor surrealista Salvador Dalí e macacões vermelhos é formado por Tóquio, Berlim, Nairóbi, Rio, Denver, Moscou, Helsinque e Oslo.

  • Tóquio (Úrsula Corberó): ladra que passou a ser procurada pela polícia por assassinato depois da morte do noivo durante um assalto. É extremamente impulsiva e passional.
  • Berlim (Pedro Alonso): é o líder do grupo dentro da Casa da Moeda. Narcisista ao extremo, tem a síndrome da grandeza e é procurado por assalto a joalherias.
  • Nairóbi (Alba Flores): exímia falsificadora, é presa após ser flagrada vendendo drogas e perde a guarda do filho. Sempre disposta a resolver as coisas da melhor forma, é uma das minhas personagens preferidas na série, assim como o Berlim.
  • Rio (Miguel Herrán): interesse romântico de Tóquio, é o membro mais novo. É também o hacker do grupo, o cara das tecnologias.
  • Denver (Jaime Lorente): é talvez o personagem mais ingênuo do grupo ou até mesmo da série. Foi recrutado pelo pai para liquidar dívida com traficantes.
  • Moscou (Paco Tous): pai de Denver, tem o desejo de tirar o filho da vida dos crimes e viver uma vida normal, em paz.
  • Helsinque e Oslo (Darko Peric e Roberto García): os gêmeos são os mais reservados do grupo e tendem a usar a força para expressar suas opiniões.

A série utiliza o recurso da narrativa e flashbacks para compartilhar com o espectador todos os detalhes. Aos poucos, vamos conhecendo a história de cada integrante do grupo, até a história do próprio Professor. Entre eles, a regra é clara. Nada de envolvimento, muito menos romântico, mas Tóquio e Rio parecem não dar ouvidos a isso. Os primeiros sinais de romance surgem antes mesmo do maior assalto da história da Espanha começar.

Outros membros, Berlim e Denver, também se envolvem, só que com reféns, levantando a questão da ‘Síndrome de Estocolmo’, que é quando o refém cria empatia pelo seu sequestrador. Não foi o caso de Berlim, e depois você entenderá o porquê, mas será que foi o que aconteceu com Denver e Mônica? Nem o próprio Professor escapa, ao se aproximar da inspetora responsável pelo caso, Raquel Murillo. Ele até queria se aproximar, mas mais como um espião da polícia e menos como um interesse amoroso. E por falar em relações, qual é a ligação entre o Professor e Berlim?

La Casa de Papel (Divulgação)

Ah! Outra regra que não deveria ser quebrada está diretamente ligada à violência, ou à falta dela, melhor dizendo. Faz parte do plano não machucar ninguém. Isso inclui reféns, policiais, imprensa, todos os envolvidos. Se não ferir é quase um mandamento, não matar então está fora de questão. Ganhar a simpatia dos veículos de comunicação e da população era parte da estratégia.

O grupo de reféns, formado incialmente por 67 pessoas, inclui, além dos funcionários da Casa da Moeda, estudantes de uma escola britânica. Entre eles, Allison Parker, filha do embaixador britânico, que é utilizada como curinga no plano. Para ajudar na camuflagem na hora das intervenções policiais, todos os reféns são obrigados a usar o mesmo macacão vermelho com a máscara do Dalí.

Por mais que tudo tivesse sido planejado nos mínimos detalhes, um fator do plano não poderia ser controlado: o comportamento de cada integrante do grupo e o comportamento dos próprios reféns. Em uma fração de segundos, tudo pode ser colocado à prova. E quem ganha destaque neste quesito é Arturo Román, mais conhecido como Arturito. Devo dizer que este é o personagem mais chato de toda a trama. Quem concorda comigo? As cenas em que aparece, levanta uma questão: quem está tomando conta dos reféns? Sempre tem alguém encarregado? Isso porque teremos momentos para motins durante as longas horas de assaltotão longas que viraram dias. E a proporção de 67 reféns para 8 pessoas é uma desvantagem para o grupo do Professor, não?

A inspetora-chefe do caso, Raquel Murillo (Itziar Ituño), que é a responsável por encerrar o assalto sem baixas, tem mais problemas nas mãos do que gostaria. Além de lidar com o Professor, sempre um passo à frente da polícia, e com um grupo de policiais formado majoritariamente por homens, ela ainda precisa organizar sua vida pessoal, em meio a um processo de divórcio litigioso de um ex-marido que a maltratava. Para complicar ainda mais, os dois têm uma filha e ele trabalha na polícia científica. Então seus caminhos acabam se cruzando no meio das negociações.

Personagens à parte, um dos grandes destaques da série é a trilha sonora. A música de abertura divide o protagonismo com a série. O arranjo musical parece se encaixar tão bem com a trama, assim como a canção italiana Bella Ciao, sempre em evidência nas cenas de comemoração, em alguns momentos de ação e também durante os flashbacks. E essa música cola na cabeça, como cola! Ouvi várias versões YouTube a fora, mas a melhor é a da série mesmo. A fotografia é um elemento à parte também, que ajuda a narrar os acontecimentos.

O mais legal do roteiro é que ele vai te guiando pela trama, provocando questionamentos sobre as razões por trás do plano, o que é certo e errado, quem é bom e quem é mau, sobre o lado do ser humano que pode se corromper por um jogo de interesses independente do posicionamento no decorrer dos acontecimentos (policiais, reféns, imprensa). Um dos pontos altos é mostrar o quanto as pessoas são influenciadas quando são expostas a momentos de crise, levando em conta a carga emocional e a bagagem histórica na hora de tomar decisões.

Eu não conseguia parar de assistir, todo episódio terminava com um gancho para o próximo, toda ação tinha uma reação da inspetora ou do Professor, criando aquele clima de tensão e dualidade de sentimentos. Uma mistura de simpatia com aversão, conectando nós, telespectadores, aos erros e acertos, às qualidades e aos defeitos, aos lados heróicos e vilanescos dos personagens. O que está em jogo ali não é o assalto, mas a essência de cada um, mesclando as cenas policiais e as cenas dentro da Casa da Moeda à imprevisibilidade proveniente das relações humanas.

Para mim, que sou grande fã de séries orientais, é muito legal ver produções de outros países aparecendo por aí. As séries estrangeiras vêm conquistando cada vez mais espaço além das fronteiras, em especial as produções espanholas, com o lançamento de bons filmes como Verônica e Um Contratempo, só para citar os últimos que vi. Outra série que vem chamando a atenção é da Alemanha, Dark, mas isso pode ser assunto para outro post, quem sabe. Desculpem pelo textão, mas é review, né? 😉

Deixe um comentário